Contrariando as promessas de que a instabilidade que marcou o segundo governo Dilma Rousseff terminaria com o fim do processo de impeachment, 2016 se encerrou em meio a uma profunda crise política e institucional.
É nesse ambiente que nas últimas semanas do ano começaram a ganhar visibilidade nos meios de comunicação os comentários críticos à condução da política econômica, apontando em especial a falta de resultados positivos mesmo tendo já se passado sete meses desde que o novo governo assumiu.
De fato, longe de mostrar o início da prometida recuperação, a maioria dos indicadores econômicos permanecia estagnada ou continuava a se deteriorar, levando as previsões de crescimento para o próximo ano a serem continuamente revistas para baixo.
Apesar de contrariar as expectativas da maioria dos analistas econômicos e do governo, esta situação não deveria surpreender diante da trajetória que os componentes da demanda vinham assumindo.
Com efeito, com a redução dos salários reais e o aumento do desemprego, e com a contração no crédito pelo aumento da incerteza, o volume de vendas no comércio continuava a cair e a elevar a ociosidade da economia, aprofundando a deterioração do mercado de trabalho e realimentando a espiral negativa do consumo das famílias, que é o responsável pela maior parcela da demanda das empresas.
Estados e municípios, por sua vez, pressionados pela queda das receitas resultante do agravamento da recessão, se viam obrigados a reduzir seus gastos, particularmente os de investimento. As exportações, finalmente, que vinham dando sinais pontuais de melhora desde 2015, arrefeciam seu ímpeto em meio à forte valorização do real que reduziu nos últimos meses a competitividade da produção nacional.
Em face dessas trajetórias negativas, a tão festejada equipe econômica, o dream team sobre o qual tantas esperanças aqueles meios de comunicação e boa parte do empresariado depositavam, parecia pouco atuar para contê-las, preferindo se concentrar na preparação de reformas estruturais, começando pela PEC que congela em termos reais os gastos públicos por ao menos dez anos e garante a aplicação de um ajuste fiscal permanente no âmbito da União.
Na visão do governo e analistas, a sinalização de austeridade aumentaria a credibilidade da política econômica e levaria à redução da taxa de juros, contribuindo para recuperar a confiança dos agentes e, com ela, o investimento privado, o que compensaria a queda inicial na demanda e daria origem a um novo ciclo virtuoso de crescimento. O ajuste permanente seria, assim, expansionista e estimularia, em vez de inibir, a atividade econômica.
Com a satisfação nos círculos empresariais e nos meios de comunicação com o discurso do novo governo – e com os ganhos financeiros por muitos obtidos com a valorização da moeda e a euforia dos mercados –, entre abril e setembro praticamente todos os índices de confiança de fato melhoraram, o que foi tomado de forma quase unânime pelos analistas como indício da iminência da retomada da economia que confirmaria o acerto das previsões otimistas. Bastava, apenas, que essa melhora se traduzisse no esperado aumento dos investimentos privados.
Contrariando tais expectativas, contudo, esses investimentos, ao invés de aumentar, continuaram a cair. Isso, entretanto, não deveria espantar. Mesmo com a redução nas taxas de juro, a contração da demanda e o excesso de capacidade reduzem a rentabilidade esperada do investimento produtivo.
Logo, em vez de investir para elevar uma produção que provavelmente encalharia, gerando prejuízos, o empresário tende a reduzi-la, adaptando-a à demanda menor, e a aplicar o eventual excesso de caixa gerado nos negócios fora do circuito produtivo. A demanda encolhe assim ainda mais e a recessão se aprofunda.
Diante da continuidade da queda nos investimentos, a percepção de que a prometida recuperação da atividade econômica se daria de forma muito mais lenta e incerta do que o esperado – o que era confirmado inclusive por declarações de membros do próprio governo – começou a se generalizar entre consumidores e empresários.
Isso fez com que desde outubro os índices de confiança invertessem seu movimento, passando a registrar queda em praticamente todos os segmentos da economia:
Tal reversão da recuperação dos índices quando seus níveis ainda se encontravam muito abaixo dos que vigoraram entre 2001 e 2013 mostra a insuficiência do diagnóstico do Ministério da Fazenda, que vê o âmago da crise econômica numa crise de confiança, a qual seria resolvida com a adoção de políticas austeras.
De fato, ao contrário do que o governo esperava, ao invés de começar a melhorar, a situação da economia continuou a se deteriorar e essas políticas, em vez de ajudar a sustentar a melhora da confiança que se verificou após a troca de governo, têm contribuído para agravar o quadro de depressão da demanda.
Esta, ao se manter, derruba a confiança dos agentes. Sem o impulso da confiança, e sem que o governo apresente estratégias alternativas, a perspectiva de retomada da economia em um horizonte visível se torna cada vez mais questionável.
O quadro de continuidade da recessão e de manutenção de um horizonte nebuloso assim como a diminuição da crença entre o empresariado e a sociedade em geral na capacidade do governo em ajudar a retomar o crescimento são componentes adicionais a alimentar o ambiente atual de aguda instabilidade política.
É nele que têm aparecido com frequência nos meios de comunicação críticas explícitas à atuação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, que até então haviam se mostrado quase que totalmente imunes a elas. Com o aumento do descontentamento com o governo, parece claro que a lua de mel com a equipe econômica que vigorou durante meses não mais existe. Resta saber se o amor acabou.
* Emilio Chernavsky é doutor em economia pela USP e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
É nesse ambiente que nas últimas semanas do ano começaram a ganhar visibilidade nos meios de comunicação os comentários críticos à condução da política econômica, apontando em especial a falta de resultados positivos mesmo tendo já se passado sete meses desde que o novo governo assumiu.
De fato, longe de mostrar o início da prometida recuperação, a maioria dos indicadores econômicos permanecia estagnada ou continuava a se deteriorar, levando as previsões de crescimento para o próximo ano a serem continuamente revistas para baixo.
Apesar de contrariar as expectativas da maioria dos analistas econômicos e do governo, esta situação não deveria surpreender diante da trajetória que os componentes da demanda vinham assumindo.
Com efeito, com a redução dos salários reais e o aumento do desemprego, e com a contração no crédito pelo aumento da incerteza, o volume de vendas no comércio continuava a cair e a elevar a ociosidade da economia, aprofundando a deterioração do mercado de trabalho e realimentando a espiral negativa do consumo das famílias, que é o responsável pela maior parcela da demanda das empresas.
Estados e municípios, por sua vez, pressionados pela queda das receitas resultante do agravamento da recessão, se viam obrigados a reduzir seus gastos, particularmente os de investimento. As exportações, finalmente, que vinham dando sinais pontuais de melhora desde 2015, arrefeciam seu ímpeto em meio à forte valorização do real que reduziu nos últimos meses a competitividade da produção nacional.
Em face dessas trajetórias negativas, a tão festejada equipe econômica, o dream team sobre o qual tantas esperanças aqueles meios de comunicação e boa parte do empresariado depositavam, parecia pouco atuar para contê-las, preferindo se concentrar na preparação de reformas estruturais, começando pela PEC que congela em termos reais os gastos públicos por ao menos dez anos e garante a aplicação de um ajuste fiscal permanente no âmbito da União.
Na visão do governo e analistas, a sinalização de austeridade aumentaria a credibilidade da política econômica e levaria à redução da taxa de juros, contribuindo para recuperar a confiança dos agentes e, com ela, o investimento privado, o que compensaria a queda inicial na demanda e daria origem a um novo ciclo virtuoso de crescimento. O ajuste permanente seria, assim, expansionista e estimularia, em vez de inibir, a atividade econômica.
Com a satisfação nos círculos empresariais e nos meios de comunicação com o discurso do novo governo – e com os ganhos financeiros por muitos obtidos com a valorização da moeda e a euforia dos mercados –, entre abril e setembro praticamente todos os índices de confiança de fato melhoraram, o que foi tomado de forma quase unânime pelos analistas como indício da iminência da retomada da economia que confirmaria o acerto das previsões otimistas. Bastava, apenas, que essa melhora se traduzisse no esperado aumento dos investimentos privados.
Contrariando tais expectativas, contudo, esses investimentos, ao invés de aumentar, continuaram a cair. Isso, entretanto, não deveria espantar. Mesmo com a redução nas taxas de juro, a contração da demanda e o excesso de capacidade reduzem a rentabilidade esperada do investimento produtivo.
Logo, em vez de investir para elevar uma produção que provavelmente encalharia, gerando prejuízos, o empresário tende a reduzi-la, adaptando-a à demanda menor, e a aplicar o eventual excesso de caixa gerado nos negócios fora do circuito produtivo. A demanda encolhe assim ainda mais e a recessão se aprofunda.
Diante da continuidade da queda nos investimentos, a percepção de que a prometida recuperação da atividade econômica se daria de forma muito mais lenta e incerta do que o esperado – o que era confirmado inclusive por declarações de membros do próprio governo – começou a se generalizar entre consumidores e empresários.
Isso fez com que desde outubro os índices de confiança invertessem seu movimento, passando a registrar queda em praticamente todos os segmentos da economia:
Tal reversão da recuperação dos índices quando seus níveis ainda se encontravam muito abaixo dos que vigoraram entre 2001 e 2013 mostra a insuficiência do diagnóstico do Ministério da Fazenda, que vê o âmago da crise econômica numa crise de confiança, a qual seria resolvida com a adoção de políticas austeras.
De fato, ao contrário do que o governo esperava, ao invés de começar a melhorar, a situação da economia continuou a se deteriorar e essas políticas, em vez de ajudar a sustentar a melhora da confiança que se verificou após a troca de governo, têm contribuído para agravar o quadro de depressão da demanda.
Esta, ao se manter, derruba a confiança dos agentes. Sem o impulso da confiança, e sem que o governo apresente estratégias alternativas, a perspectiva de retomada da economia em um horizonte visível se torna cada vez mais questionável.
O quadro de continuidade da recessão e de manutenção de um horizonte nebuloso assim como a diminuição da crença entre o empresariado e a sociedade em geral na capacidade do governo em ajudar a retomar o crescimento são componentes adicionais a alimentar o ambiente atual de aguda instabilidade política.
É nele que têm aparecido com frequência nos meios de comunicação críticas explícitas à atuação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, que até então haviam se mostrado quase que totalmente imunes a elas. Com o aumento do descontentamento com o governo, parece claro que a lua de mel com a equipe econômica que vigorou durante meses não mais existe. Resta saber se o amor acabou.
* Emilio Chernavsky é doutor em economia pela USP e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
Recomendo ler, sobre o que foi feito na "pequena" (10 milhões de habitantes) e "pobre" (só tem turismo e azeitonas) Grécia, pois, o "grande" (209 milhões de habitantes) e "rico" (tem de tudo: petróleo, biomassas, água, minérios, terras cultiváveis o ano tudo, etc.) Brazil, digo, Brasil, segue e mesma receita dos "falidos" Banqueiros Donos do Mundo, com este governo usurpador de gananciosos, corruptos, elitistas, aculturados e entreguistas.
ResponderExcluirEstudem, a Auditoria das Dívidas Públicas da Grécia, feita por uma Equipe Internacional, com a participação da especialista brasileira Maria Lucia Fattorelli, em: www.auditoriacidada.org.br
ResponderExcluirOs comentários desse analista estão corretos, mas incrivelmente omite o que para mim é um dos principais fatores da não-retomada da economia.
Isto se deve sobretudo porque a midia oligopolista ocultou da população, desde 2014, a grave crise dos preços internacionais das commodities (principalmente petróleo e minério de ferro, que o Brasil é grande exportador).
Desde 2012, os preços internacionais das commodities entraram em queda no mercado internacional, mas lenta e gradualmente.
A grande queda, brutal, ocorreu exatamente entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial em 2014. A partir de então, os preços permaneceram baixos, o que prejuducou e cntinua a prejudicar países como o Brasil, cuja balança comercial é muito dependente da exportação das commodities.
A midia oligopolista ocultou isto dos brasileiros, como forma de jogar sobre as costas da Dilma toda a responsabilidade pela crise e incentivar movimentos golpistas para o impeachment.
Entretanto, essa situação internacional continua impactando as receitas do Brasil.
Claudio Freire
e vai piorar e muito. pois não é o temer o presidende. quem comanda isso é o Aécio Neves. ele e sua mídia estão usando o temer para arrochar o povo mais ainda e vão botar o temer pra fora quando começar a campanha de desmoralização do mesmo. além disso vão culpar o temer por"ser do PT",e ai o PSDB que já manda no Brasil vai assumir de vez! nosso destino é a falência.
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