terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Eleição na Câmara e a indigência política

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Com o Judiciário e o Legislativo em férias até fevereiro e o presidente Michel Temer em Portugal, o ano político em Brasília começa como o de 2016 terminou: um deserto de homens e de ideias.

Por falta de concorrência, o palco ficou livre para a disputa pela presidência da Câmara, um jogo de cartas marcadas, em que dois patéticos figurantes, ambos do Centrão de Eduardo Cunha, dominam a cena até o momento, a própria imagem da nossa indigência política.

Para esta terça-feira, está previsto o lançamento oficial da candidatura de Jovair Arantes (PTB-GO), baluarte da tropa de choque do ex-presidente da Câmara, que está preso em Curitiba.

Na véspera, foi a vez de Rogério Rosso (PSD-DF), que se lançou num vídeo pela internet vestindo uma camisa da Chapecoense.

Jovair e Rosso não são apoiados nem pelos presidentes de seus partidos. Roberto Jefferson, do PTB, e Gilberto Kassab, do PSD, apoiam a reeleição de Rodrigo Maia, assim como os maiores partidos da base aliada e até da oposição.

Maia, que está na Presidência da República até Temer voltar de Portugal, é o franco favorito para ficar mais dois anos comandando a Câmara. Deve ganhar no primeiro turno.

Candidato do governo, ele só não ficará no cargo se a Justiça não deixar, já que a Constituição em vigor proíbe a reeleição do presidente da Câmara numa mesma legislatura, mas isso é apenas um detalhe, como vimos várias vezes no ano passado.

Como o recurso contra sua candidatura só será julgado pelo Supremo Tribunal Federal depois da eleição na Câmara, marcada para o dia 1º de fevereiro, Maia já pode correr para o abraço.

Ou alguém acredita que os ministros do STF terão coragem de afastar depois o presidente (re)eleito, abrindo uma nova crise institucional?

Enquanto isso, Jovair Arantes e Rogério Rosso divertem a platéia e animam o noticiário político.

Sem nenhum pudor em tirar proveito de uma tragédia, Rosso apareceu com a camisa do time para anunciar que pretende criar um museu em memória dos jogadores da Chapecoense, se for eleito, mas nem ele acredita nisso.

Ao mesmo tempo, Jovair passou o dia ao telefone para convidar 360 deputados a estarem presentes no lançamento da sua candidatura, o que também é bastante improvável de acontecer neste período de recesso.

"É o que temos", como diria o ex-presidente FHC.

Vida que segue.

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