Por Paulo Pimenta, no site Sul-21:
Uma simples pesquisa no Google revela quantas vezes a frase “faça parecer um acidente” foi usada na literatura ou por cineastas para se referir aos criminosos nas mais diversas situações em que se tentou encobrir um “crime perfeito”. É absolutamente natural que o país esteja acompanhando com perplexidade os desdobramentos das investigações sobre a morte de Teori Zavaski, ministro do STF e relator da Lava Jato. Afinal de contas, enquanto as probabilidades matemáticas quase impossíveis tornam difícil acreditar que tenha ocorrido um acidente, a conspiração para eliminar uma figura tão importante no cenário político do país torna-se quase unanimidade.
Um aplicativo recentemente lançado, chamado “Am I going down?” (Eu vou cair?) demonstra que a chance de acidente em um voo comum é na ordem de 1 para 2,8 milhões. Imagine esta probabilidade, considerando-se, apenas os onze ministros do STF.
Agora, imagine esta probabilidade em relação a um ministro do STF, o relator do processo da operação Lava Jato. Além dessa equação, cabe destacar que o “acidente” ocorreu um dia após sair a informação de que Teori tornaria públicas as 77 delações da Lava Jato que atingiriam o núcleo central do governo golpista de Michel Temer.
Pesquisas revelam que mais de 80% da população brasileira não acredita na tese de um acidente. Por quê? Além das probabilidades descritas e da gama de interesses em escamotear as revelações do relator, o responsável pelas investigações é justamente o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, cogitado e defendido pelos governistas como possível sucessor do ministro morto.
Teori Zavascki era responsável por um processo que revelaria fatos capazes de derrubar o governo Temer, assim como ficaram expostas as negociatas que levaram à derrubada da presidenta Dilma Rousseff, bem como os esquemas criminosos vinculados a interesses econômicos poderosíssimos que envolveram o Golpe de 2016.
Qualquer investigação de um crime começaria com a pergunta: “Quem teria interesse que o crime ocorresse?” Ou seja, é relevante saber quem seriam os beneficiados com a morte do ministro do STF.
Outra questão preliminar é saber sobre as ameaças que o ministro vinha sofrendo. “Houve investigação?”. “Quais resultados?”. Nesse caso específico, além dessas questões que não foram respondidas ainda, é imprescindível fazer os seguintes questionamentos: “Por que o ministro estava viajando sem seguranças?”; “por que a aeronáutica decidiu não remover o avião do fundo do mar?”; “por que o avião que caiu teve 1.885 consultas no site Jet Fotos, no dia 3 de janeiro, e quem fez essas buscas?”; “por que as identidades das duas passageiras que estavam com eles no voo só foi revelada quase 24h depois da queda?”; “procede a informação de que uma das passageiras pediu socorro por quase uma hora?”; “quanto tempo demorou a chegada de socorro ao local e por que a passageira não foi imediatamente resgatada?”.
É bastante estranho entender a relação do ministro do STF com o empresário dono do avião e da ilha para onde se dirigiam em Parati, uma vez que o empresário era réu no STF e sócio de um banqueiro investigado pela Lava Jato. Em que pese tais interrogações, para elucidação de um possível crime cabe ainda indagar qual frequência de visitas do ministro Teori à ilha de Parati, se ele já havia viajado nesse avião e quem conhecia essa programação.
Por que um ministro do STF, detentor de informações tão comprometedoras, viajou sem segurança? A medida que estava sendo ameaçado, que estava às vésperas de homologar e tornar públicas as delações de corrupção envolvendo figuras chaves do governo, custa-se acreditar que nenhuma medida de segurança tenha sido adotada.
O governo brasileiro deve uma explicação à população que espera respostas convincentes, resultantes de uma investigação isenta e realizadas por uma equipe plural, que contemple a participação de organizações não governamentais que atuam no País e também organismos internacionais. Uma investigação séria deverá se pautar por procedimentos e mecanismos capazes de impedir a pressão por parte de quem possa se interessar por uma não elucidação dos fatos.
* Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal pelo PT-RS.
Uma simples pesquisa no Google revela quantas vezes a frase “faça parecer um acidente” foi usada na literatura ou por cineastas para se referir aos criminosos nas mais diversas situações em que se tentou encobrir um “crime perfeito”. É absolutamente natural que o país esteja acompanhando com perplexidade os desdobramentos das investigações sobre a morte de Teori Zavaski, ministro do STF e relator da Lava Jato. Afinal de contas, enquanto as probabilidades matemáticas quase impossíveis tornam difícil acreditar que tenha ocorrido um acidente, a conspiração para eliminar uma figura tão importante no cenário político do país torna-se quase unanimidade.
Um aplicativo recentemente lançado, chamado “Am I going down?” (Eu vou cair?) demonstra que a chance de acidente em um voo comum é na ordem de 1 para 2,8 milhões. Imagine esta probabilidade, considerando-se, apenas os onze ministros do STF.
Agora, imagine esta probabilidade em relação a um ministro do STF, o relator do processo da operação Lava Jato. Além dessa equação, cabe destacar que o “acidente” ocorreu um dia após sair a informação de que Teori tornaria públicas as 77 delações da Lava Jato que atingiriam o núcleo central do governo golpista de Michel Temer.
Pesquisas revelam que mais de 80% da população brasileira não acredita na tese de um acidente. Por quê? Além das probabilidades descritas e da gama de interesses em escamotear as revelações do relator, o responsável pelas investigações é justamente o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, cogitado e defendido pelos governistas como possível sucessor do ministro morto.
Teori Zavascki era responsável por um processo que revelaria fatos capazes de derrubar o governo Temer, assim como ficaram expostas as negociatas que levaram à derrubada da presidenta Dilma Rousseff, bem como os esquemas criminosos vinculados a interesses econômicos poderosíssimos que envolveram o Golpe de 2016.
Qualquer investigação de um crime começaria com a pergunta: “Quem teria interesse que o crime ocorresse?” Ou seja, é relevante saber quem seriam os beneficiados com a morte do ministro do STF.
Outra questão preliminar é saber sobre as ameaças que o ministro vinha sofrendo. “Houve investigação?”. “Quais resultados?”. Nesse caso específico, além dessas questões que não foram respondidas ainda, é imprescindível fazer os seguintes questionamentos: “Por que o ministro estava viajando sem seguranças?”; “por que a aeronáutica decidiu não remover o avião do fundo do mar?”; “por que o avião que caiu teve 1.885 consultas no site Jet Fotos, no dia 3 de janeiro, e quem fez essas buscas?”; “por que as identidades das duas passageiras que estavam com eles no voo só foi revelada quase 24h depois da queda?”; “procede a informação de que uma das passageiras pediu socorro por quase uma hora?”; “quanto tempo demorou a chegada de socorro ao local e por que a passageira não foi imediatamente resgatada?”.
É bastante estranho entender a relação do ministro do STF com o empresário dono do avião e da ilha para onde se dirigiam em Parati, uma vez que o empresário era réu no STF e sócio de um banqueiro investigado pela Lava Jato. Em que pese tais interrogações, para elucidação de um possível crime cabe ainda indagar qual frequência de visitas do ministro Teori à ilha de Parati, se ele já havia viajado nesse avião e quem conhecia essa programação.
Por que um ministro do STF, detentor de informações tão comprometedoras, viajou sem segurança? A medida que estava sendo ameaçado, que estava às vésperas de homologar e tornar públicas as delações de corrupção envolvendo figuras chaves do governo, custa-se acreditar que nenhuma medida de segurança tenha sido adotada.
O governo brasileiro deve uma explicação à população que espera respostas convincentes, resultantes de uma investigação isenta e realizadas por uma equipe plural, que contemple a participação de organizações não governamentais que atuam no País e também organismos internacionais. Uma investigação séria deverá se pautar por procedimentos e mecanismos capazes de impedir a pressão por parte de quem possa se interessar por uma não elucidação dos fatos.
* Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal pelo PT-RS.
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