Por Armando Boito Jr., no jornal Brasil de Fato:
Depois de participarem do movimento golpista ou ficarem (favoravelmente) neutros diante desse movimento, lideranças empresariais importantes, como Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e candidato a político profissional, e Benjamin Steinbruch, do Grupo Vicunha, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do Banco Fibra e 1º vice-presidente da Fiesp, vieram a público, por intermédio de artigos publicados seguidamente no jornal Folha de S. Paulo, fazer críticas à política econômica do governo Temer.
Paulo Skaf saiu em defesa da política de conteúdo local para a cadeia do petróleo e gás, enalteceu (alguns poderão considerar que cinicamente) a política aplicada nos últimos 13 anos e criticou a nova onda de importação de equipamentos pela Petrobras. No dia seguinte, Benjamin Steinbruch elevou a crítica para um plano mais geral: o erro é o neoliberalismo exacerbado que abre o mercado interno até num momento em que vários países fazem o caminho no sentido oposto.
A relação das grandes empresas brasileiras, em vários setores da economia, com o programa neoliberal de desregulamentação de direitos dos trabalhadores, abertura comercial e financeira e privatizações é complexa. Na década de 1990, após apoiarem ativamente FHC, foram, aos poucos, afastando-se do programa neoliberal e se aproximando da plataforma neodesenvolvimentista do PT e da candidatura Lula. Nunca apoiaram integralmente o neoliberalismo. Sempre reclamaram – a palavra é essa mesmo: reclamaram – da abertura comercial, ou melhor, da “abertura comercial exagerada”, enquanto apoiavam as privatizações, com as quais grandes empresas ampliaram a preço vil seu patrimônio, e, evidentemente, o corte dos direitos sociais e trabalhistas.
Quando aderiram ao programa dos governos petistas de moderar o neoliberalismo para estimular o crescimento econômico, tampouco aderiram sem reservas. Sempre foram críticos ou reticentes diante do crescimento do gasto do Estado com assistência e direitos sociais, não pararam de criticar a carga tributária – excessiva, segundo a burguesia brasileira – e sempre temeram o intervencionismo excessivo na economia.
Essa posição origina uma espécie de movimento pendular da grande burguesia interna, exatamente como já destacaram os pioneiros na análise crítica do capitalismo brasileiro – Florestan Fernandes, Jacob Gorender e outros. Na década de 1990, estiveram com FHC; na década de 2000, com o PT; e agora, na década de 2010, iniciaram um movimento de retorno aos anos 90.
Os grandes empresários brasileiros privilegiam um ou outro ponto da política econômica de acordo com a situação econômica do país, com a conjuntura política e ideológica. Recentemente, com a queda do crescimento econômico, foram convencidos, pela luta ideológica no próprio interior da burguesia, que o caminho seria apertar os cintos dos trabalhadores.
Os documentos e publicações da CNI, da Fiesp, da CNA e de outras grandes associações empresariais passaram a enfatizar, não mais a crítica à abertura comercial, ao juro extorsivo ou aos estrangulamentos da infraestrutura, mas, sim, o excesso do gasto público, principalmente da Previdência, a camisa de força dos direitos trabalhistas e por aí embarcaram no movimento golpistas ou, como dissemos, assumiram uma postura de neutralidade que favoreceu o golpe.
O movimento popular deve acompanhar e analisar esses movimentos. Revolta ver Paulo Skaf, depois de fazer o que fez, vir a público reclamar do resultado de sua própria ação como se a abertura do pré-sal fosse algo inesperado e inexplicável. Mas é preciso, também, notar que essas reclamações arranham a base de apoio do governo Temer na grande burguesia, sem ter ilusões quanto ao protagonismo desses setores burgueses na reversão do estado de coisas atual.
* Armando Boito Jr. é professor Titular de Ciência Política da Unicamp, editor da revista Crítica Marxista e um dos fundadores do Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) do IFCH-Unicamp.
Depois de participarem do movimento golpista ou ficarem (favoravelmente) neutros diante desse movimento, lideranças empresariais importantes, como Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e candidato a político profissional, e Benjamin Steinbruch, do Grupo Vicunha, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do Banco Fibra e 1º vice-presidente da Fiesp, vieram a público, por intermédio de artigos publicados seguidamente no jornal Folha de S. Paulo, fazer críticas à política econômica do governo Temer.
Paulo Skaf saiu em defesa da política de conteúdo local para a cadeia do petróleo e gás, enalteceu (alguns poderão considerar que cinicamente) a política aplicada nos últimos 13 anos e criticou a nova onda de importação de equipamentos pela Petrobras. No dia seguinte, Benjamin Steinbruch elevou a crítica para um plano mais geral: o erro é o neoliberalismo exacerbado que abre o mercado interno até num momento em que vários países fazem o caminho no sentido oposto.
A relação das grandes empresas brasileiras, em vários setores da economia, com o programa neoliberal de desregulamentação de direitos dos trabalhadores, abertura comercial e financeira e privatizações é complexa. Na década de 1990, após apoiarem ativamente FHC, foram, aos poucos, afastando-se do programa neoliberal e se aproximando da plataforma neodesenvolvimentista do PT e da candidatura Lula. Nunca apoiaram integralmente o neoliberalismo. Sempre reclamaram – a palavra é essa mesmo: reclamaram – da abertura comercial, ou melhor, da “abertura comercial exagerada”, enquanto apoiavam as privatizações, com as quais grandes empresas ampliaram a preço vil seu patrimônio, e, evidentemente, o corte dos direitos sociais e trabalhistas.
Quando aderiram ao programa dos governos petistas de moderar o neoliberalismo para estimular o crescimento econômico, tampouco aderiram sem reservas. Sempre foram críticos ou reticentes diante do crescimento do gasto do Estado com assistência e direitos sociais, não pararam de criticar a carga tributária – excessiva, segundo a burguesia brasileira – e sempre temeram o intervencionismo excessivo na economia.
Essa posição origina uma espécie de movimento pendular da grande burguesia interna, exatamente como já destacaram os pioneiros na análise crítica do capitalismo brasileiro – Florestan Fernandes, Jacob Gorender e outros. Na década de 1990, estiveram com FHC; na década de 2000, com o PT; e agora, na década de 2010, iniciaram um movimento de retorno aos anos 90.
Os grandes empresários brasileiros privilegiam um ou outro ponto da política econômica de acordo com a situação econômica do país, com a conjuntura política e ideológica. Recentemente, com a queda do crescimento econômico, foram convencidos, pela luta ideológica no próprio interior da burguesia, que o caminho seria apertar os cintos dos trabalhadores.
Os documentos e publicações da CNI, da Fiesp, da CNA e de outras grandes associações empresariais passaram a enfatizar, não mais a crítica à abertura comercial, ao juro extorsivo ou aos estrangulamentos da infraestrutura, mas, sim, o excesso do gasto público, principalmente da Previdência, a camisa de força dos direitos trabalhistas e por aí embarcaram no movimento golpistas ou, como dissemos, assumiram uma postura de neutralidade que favoreceu o golpe.
O movimento popular deve acompanhar e analisar esses movimentos. Revolta ver Paulo Skaf, depois de fazer o que fez, vir a público reclamar do resultado de sua própria ação como se a abertura do pré-sal fosse algo inesperado e inexplicável. Mas é preciso, também, notar que essas reclamações arranham a base de apoio do governo Temer na grande burguesia, sem ter ilusões quanto ao protagonismo desses setores burgueses na reversão do estado de coisas atual.
* Armando Boito Jr. é professor Titular de Ciência Política da Unicamp, editor da revista Crítica Marxista e um dos fundadores do Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) do IFCH-Unicamp.
ResponderExcluirAcho que o artigo pega leve com as lideranças empresariais.
Não ficaram neutros diante do golpe. Foram ativos a favor do golpe.
Agora, esses empresários não têm moral para reclamar de nada. São uns cínicos.
Claudio Freire