Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
O youtuber Lukas Marques foi um dos principais temas da rede nesta sexta (17). Após a Folha de S.Paulo mostrar que o seu canal ''Você Sabia'' recebeu R$ 65 mil do governo Temer para produzir um vídeo defendendo sua reforma do ensino médio, começaram a pipocar, na rede, tuítes antigos postados por ele de cunho racista, machista e preconceituoso.
''Nada contra gays, mas não me diga que isso é normal.'' ''Nao sou racista… So acho que os pretos poderiam ae fuder mais…'' ''(`-`) (._. ) (· – ·) ( ._.) ( ' -') Procurando quem me roubou numa multidão de pretos'' ''Nordeste todo elegeu Dilma pq pensa com a barriga e não com a cabeça'' ''Como estragar sua noite: Imagine a Dilma de quatro para você. De Nada'' ''Mulher: tem mais de 1000 amigos no face?? É PUTA'' ''Quem gosta de pica eh viado.. mulher gosta eh de dinheiro!'' ''A pior coisa que tem é sapatão… MACHAO'' (sic)
Diante da polêmica negativa sobre ele e seu canal no YouTube (que possui mais de 7 milhões de seguidores), Lukas reagiu:
''Sobre meus tweets antigos, eu peço desculpas. Não é como eu penso e me arrependo de ter postado. Nunca tive a intenção de ofender ninguém'' e ''Não vamos mais falar sobre esses dois assuntos. Agora é bola pra frente e fazer conteúdo legal pra todo mundo que gosta do Você Sabia.''
Independente da sinceridade ou do oportunismo do arrependimento, é interessante que o governo Michel Temer tenha escolhido exatamente um garoto-propaganda que repetidas vezes tenha se pronunciado publicamente com esse conteúdo para protagonizar uma peça publicitária de educação.
Ainda mais em um momento em que a inclusão da formação para a empatia e da discussão sobre ódio e intolerância,como temas transversais nas escolas de ensino fundamental e médio é mais urgente do que nunca.
Isso, contudo, não é novidade. Vale lembrar que um dos primeiros especialistas em pedagogia recebidos pelo ministro da Educação Mendonça Filho, ao assumir o cargo neste governo, tenha sido Alexandre Frota, porta-bandeira do movimento Escola Sem Partido. O mesmo que, durante uma entrevista a um programa de TV, narrou um caso de violência sexual do qual foi protagonista contra uma mãe-de-santo, para deleite da plateia, que ria como se fosse uma piada.
Nesta mesma sexta, durante solenidade de entrega do Prêmio Camões, um dos mais importantes da língua portuguesa, o escritor Raduan Nassar fez um discurso contundente contra o governo Michel Temer. Isso já era de se esperar, uma vez que o autor de Lavoura Arcaica foi crítico ao impeachment e é contra as reformas assumidas pelo atual ocupante do Palácio do Planalto.
O que surpreendeu é que o ministro da Cultura Roberto Freire – um político com experiência e que se diz progressista – tenha usado seu discurso para criticar o agraciado, sendo vaiado pelos presentes. ''Se ele viesse dizer que não aceitava o prêmio, a crítica que ele fez podia até ser justa'', afirmou Freire à Folha de S.Paulo. Também disse que Nassar ''é um adversário recebendo um prêmio de um governo que ele considera ilegítimo'', apesar da decisão do juri ter ocorrido antes do impeachment. O Prêmio Camões condecora com 100 mil euros – conta dividida entre os governos brasileiro e português.
Raduan Nassar já provou, como escritor e como cidadão, não ser adversário de seu país, mas crítico aos que o governam. Roberto Freire esquece que governos são transitórios e o Estado não pertence a grupos políticos. Nassar não recebeu o prêmio do governo Temer, mas do Estado brasileiro. Que, apesar de políticos de sua base acharem que é a mesma coisa, na verdade, não é. Ou não deveria ser.
Na entrega do Prêmio Jabuti de 2016, o escritor Julián Fuks, que teve seu A Resistência escolhido como o livro de ficção do ano, fez um duro discurso contra o governo Temer diante de representantes dos governos municipal, estadual e federal. Que, elegantemente, ouviram as críticas e fizeram falas protocolares. Afinal, a noite era dos premiados e não das autoridades. Mas elegância, bom senso, saber quando ouvir e quando falar, infelizmente, não são virtudes universais.
Temer tem todo o direito de se comunicar com a sociedade e defender seu projeto de governo – por mais que esse projeto não tenha sido escolhido em uma eleição democrática e por mais que o objetivo principal dele e de seu grupo, neste momento, seja salvar a própria pele das denúncias de corrupção.
Mas depois da escolha questionável de um youtuber que destila ódio nas redes sociais para ser garoto-propaganda da reforma educacional e da falta de bom senso do ministro da Cultura, pergunto: não seria de bom tom ele se esforçar um pouco mais para não demonstrar que ele pensa que somos estúpidos?
''Nada contra gays, mas não me diga que isso é normal.'' ''Nao sou racista… So acho que os pretos poderiam ae fuder mais…'' ''(`-`) (._. ) (· – ·) ( ._.) ( ' -') Procurando quem me roubou numa multidão de pretos'' ''Nordeste todo elegeu Dilma pq pensa com a barriga e não com a cabeça'' ''Como estragar sua noite: Imagine a Dilma de quatro para você. De Nada'' ''Mulher: tem mais de 1000 amigos no face?? É PUTA'' ''Quem gosta de pica eh viado.. mulher gosta eh de dinheiro!'' ''A pior coisa que tem é sapatão… MACHAO'' (sic)
Diante da polêmica negativa sobre ele e seu canal no YouTube (que possui mais de 7 milhões de seguidores), Lukas reagiu:
''Sobre meus tweets antigos, eu peço desculpas. Não é como eu penso e me arrependo de ter postado. Nunca tive a intenção de ofender ninguém'' e ''Não vamos mais falar sobre esses dois assuntos. Agora é bola pra frente e fazer conteúdo legal pra todo mundo que gosta do Você Sabia.''
Independente da sinceridade ou do oportunismo do arrependimento, é interessante que o governo Michel Temer tenha escolhido exatamente um garoto-propaganda que repetidas vezes tenha se pronunciado publicamente com esse conteúdo para protagonizar uma peça publicitária de educação.
Ainda mais em um momento em que a inclusão da formação para a empatia e da discussão sobre ódio e intolerância,como temas transversais nas escolas de ensino fundamental e médio é mais urgente do que nunca.
Isso, contudo, não é novidade. Vale lembrar que um dos primeiros especialistas em pedagogia recebidos pelo ministro da Educação Mendonça Filho, ao assumir o cargo neste governo, tenha sido Alexandre Frota, porta-bandeira do movimento Escola Sem Partido. O mesmo que, durante uma entrevista a um programa de TV, narrou um caso de violência sexual do qual foi protagonista contra uma mãe-de-santo, para deleite da plateia, que ria como se fosse uma piada.
Nesta mesma sexta, durante solenidade de entrega do Prêmio Camões, um dos mais importantes da língua portuguesa, o escritor Raduan Nassar fez um discurso contundente contra o governo Michel Temer. Isso já era de se esperar, uma vez que o autor de Lavoura Arcaica foi crítico ao impeachment e é contra as reformas assumidas pelo atual ocupante do Palácio do Planalto.
O que surpreendeu é que o ministro da Cultura Roberto Freire – um político com experiência e que se diz progressista – tenha usado seu discurso para criticar o agraciado, sendo vaiado pelos presentes. ''Se ele viesse dizer que não aceitava o prêmio, a crítica que ele fez podia até ser justa'', afirmou Freire à Folha de S.Paulo. Também disse que Nassar ''é um adversário recebendo um prêmio de um governo que ele considera ilegítimo'', apesar da decisão do juri ter ocorrido antes do impeachment. O Prêmio Camões condecora com 100 mil euros – conta dividida entre os governos brasileiro e português.
Raduan Nassar já provou, como escritor e como cidadão, não ser adversário de seu país, mas crítico aos que o governam. Roberto Freire esquece que governos são transitórios e o Estado não pertence a grupos políticos. Nassar não recebeu o prêmio do governo Temer, mas do Estado brasileiro. Que, apesar de políticos de sua base acharem que é a mesma coisa, na verdade, não é. Ou não deveria ser.
Na entrega do Prêmio Jabuti de 2016, o escritor Julián Fuks, que teve seu A Resistência escolhido como o livro de ficção do ano, fez um duro discurso contra o governo Temer diante de representantes dos governos municipal, estadual e federal. Que, elegantemente, ouviram as críticas e fizeram falas protocolares. Afinal, a noite era dos premiados e não das autoridades. Mas elegância, bom senso, saber quando ouvir e quando falar, infelizmente, não são virtudes universais.
Temer tem todo o direito de se comunicar com a sociedade e defender seu projeto de governo – por mais que esse projeto não tenha sido escolhido em uma eleição democrática e por mais que o objetivo principal dele e de seu grupo, neste momento, seja salvar a própria pele das denúncias de corrupção.
Mas depois da escolha questionável de um youtuber que destila ódio nas redes sociais para ser garoto-propaganda da reforma educacional e da falta de bom senso do ministro da Cultura, pergunto: não seria de bom tom ele se esforçar um pouco mais para não demonstrar que ele pensa que somos estúpidos?
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