Com o clamor das ruas ainda ecoando pelos corredores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, pedindo a valorização da ética e da moralidade como pilares de uma nova era para a política e para a administração pública do país, observamos uma espécie de euforia midiática pela prisão de grandes figurões do cenário nacional.
O curioso é que foi justamente a mídia a principal responsável pela criação de vários dos mitos hoje encarcerados. Eike Batista por exemplo. Endeusado pela imprensa como exemplo de empreendedor bem sucedido, a criadora desse estereótipo age agora como carrasco impiedoso. Ou não é isso que ocorre na massificação das imagens de políticos e empresários indiciados pela Lava Jato e humilhantemente expostos em roupas de presidiário, com a cabeça raspada e habitando celas fétidas?
Nessa ânsia de execração pública, talvez querendo passar a impressão populista de que agora “colarinho branco” também vai para a prisão, a imprensa, especialmente os grandes grupos de comunicação, tem exacerbado de suas funções. Às vezes atuando como juiz, “condenando” antecipadamente suspeitos, e outras vezes agindo indiretamente como gestores públicos, criticando sistematicamente ou formando parceria editorial com governantes. Isso sem falar na indução do voto de detentores de mandato parlamentar, sempre sensíveis a pressão midiática.
O fato é que tal comportamento impositivo e seletivo também é um desvio de conduta. Não se pratica a liberdade de expressão quando se promove informação excludente, seja a que título for, especialmente quando o interesse é meramente econômico. E aí chegamos a uma encruzilhada. Estaria a imprensa isenta da grande transformação ética reclamada pela população? Seria a imprensa uma ilha moral em meio ao oceano de desvios comportamentais por ela mesmo propagados? Óbvio que não.
E vejam bem, não estou com isso negando a importância da imprensa como um dos pilares da democracia e muito menos criticando a postura profissional dos seus integrantes. Pelo contrário. Ao criticar os excessos e a falta de transparência na condução de um serviço público concedido estou defendendo o fortalecimento da imprensa enquanto instituição. E defendendo o direito do cidadão de ser adequadamente informado.
Não vejo empecilho no fato de um veículo de comunicação defender a sua preferência ideológica. Isto faz parte do jogo democrático. Desde que seja exposto de forma transparente. Aliás, como faz o Sul 21. O que não pode é, sob o manto da tergiversação, usar um espaço público para o alcance de um interesse privado. Quem condena o uso da mentira ou das meias verdades para se locupletar política e financeiramente não pode usar do mesmo artifício.
Se é para faxinar o país que ninguém fique de fora.
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