sábado, 18 de fevereiro de 2017

Lula é o único que poderá deter Bolsonaro

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Após junho de 2013, passei a buscar todas as informações disponíveis sobre a ascensão do fascismo na Alemanha dos anos 1920/1930. Mergulhei em livros, artigos, estudos, documentários, ficções e dramatizações e tudo mais que fosse possível encontrar sobre o processo e, após mais de três anos, concluí que processo análogo vige no Brasil.

Não aborrecerei o leitor com os detalhes sobre por que há uma ascensão fascista no Brasil, até porque já existem estudos sobre o processo que saíram não faz tanto tempo. Até a Globo entrou no assunto:



Até porque, o Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha. Estima-se que existiram 2,9 mil filiados ao partido em 17 estados brasileiros, inclusive o Paraná.

O partido existiu em 83 países, mas, no exterior, foi justamente no Brasil onde teve mais repercussão. “Sua expressividade foi maior, inclusive, do que em países como a Áustria e a Polônia, que estavam sob a tutela do 3.º Reich”, afirma a pro­­fessora de História da Universidade Federal do ABC Ana Maria Dietrich.

Estudos mostram que foi em Santa Catarina, na cidade de Timbó, em 1928, que o partido nazista foi fundado no país. O Estado, porém, teve um número menor de filiados (528) do que São Paulo (785). No Paraná, o partido foi o quinto maior (com metade dos filiados em Curitiba).

O que estamos assistindo no Brasil neste momento, portanto, nada mais é do que uma reedição da luta insana de Hitler contra o comunismo.

A luta contra o regime que ascendia na Rússia na aurora do século XX foi o que moveu a insanidade e o brilhantismo diabólico de Hitler, que engabelou massas de incautos idêntica à que pulula hoje nas redes sociais tupiniquins defendendo o extermínio, nem que seja moral e cívico, de pessoas com a ideologia proibida pelo nazifascismo há quase um século.

A fobia ao comunismo sobreviveu a Hitler e se instalou nas Américas como em nenhuma outra parte. Passou por uma espécie de “higienização” e virou o ultra capitalismo norte-americano e as tentativas canhestras de copiá-lo nos países latino-americanos.

Eis que a história se reescreve no Brasil e um líder histriônico no qual ninguém leva fé começa a provar, de novo na história da humanidade, que os políticos são meros reflexos do povo no seio do qual nascem, incluindo – e até destacando – os piores políticos, os mais corruptos, os mais degenerados, os mais perigosos.

Adolf Hitler foi essencialmente um político de sucesso. Chegou ao poder exaltando a superioridade física e intelectual de uns sobre outros, como ocorre, no Brasil, com o ódio a nordestinos, que acompanha o ódio da direita brasileira ao comunismo, ou, como os paneleiros gostam de dizer, aos “petralhas”.

Os “petralhas” são para os nazifascistas brasileiros o que os comunistas eram para os nazistas alemães, e os nordestinos são para extrema direita brasileira o que os judeus foram para os membros do partido nazista original.

Nesse aspecto, o nazifascismo brasileiro tem até um líder.

Jair Messias Bolsonaro nasceu em Campinas, em 21 de março de 1955. É militar da reserva. Cumpre atualmente o seu sexto mandato na Câmara dos Deputados, eleito pelo Partido Progressista (PP). Nas eleições gerais de 2014, foi o deputado mais votado do estado do Rio de Janeiro com apoio de 6% do eleitorado fluminense (464 mil votos).

O parlamentar é filiado ao Partido Social Cristão (PSC) desde março de 2016.

Bolsonaro também foi titular da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, além de ter sido suplente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Além dele, seu irmão Renato Bolsonaro, e três filhos seus, também são políticos: Carlos Bolsonaro (vereador do Rio de Janeiro pelo PP), Flávio Bolsonaro (deputado estadual do RJ pelo PSC) e Eduardo Bolsonaro (deputado federal de São Paulo pelo PSC).

Bolsonaro tornou-se conhecido nacionalmente por suas posições nacionalistas e conservadoras, por suas críticas ao comunismo e à esquerda e por várias declarações controversas, as quais lhe renderam cerca de 30 pedidos de cassação em 26 anos de mandatos na Câmara dos Deputados.

É conhecido por defender a ditadura militar e por considerar a tortura uma prática legítima. Suas posições políticas geralmente são classificadas como alinhadas aos discursos da extrema-direita.

Bolsonaro tem todos os requisitos para um nazista. E sua ideologia, ainda que não saiba, aproxima-se de forma dramática da ideologia nazista. Além da ideologia, Bolsonaro adotou métodos absolutamente idênticos aos de Hitler, no início dos anos 1920, após retornar da guerra sagrado como “herói” por feitos questionáveis.

Bolsonaro é um fenômeno do You Tube. É nessa rede que seus vídeos ganham um alcance imenso e incomparável porque não são postados apenas por ele, mas por seus seguidores alucinados, agressivos e aparentemente perigosos.

Assim como Hitler fez na Alemanha pré-nazista com seus camisas-pardas, Bolsonaro faz com uma horda de camisas-amarelas que saúdam um único líder político, o “messias”, o “mito”, como gostam de chamá-lo, em um processo de endeusamento que, de forma perturbadora, lembra o endeusamento do Führer alemão. https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%BChrer

O mais interessante em tudo isso é que Bolsonaro é o único político além de Lula que vem lucrando eleitoralmente com o processo de desmoralização da política desencadeado pela Lava Jato. É o que mostra estudo que o Blog fez da série de pesquisas CNT, da qual a última assustou os adversários do ex-presidente.

No que diz respeito a Lula, alguns tentam atribuir a disparada dele na pesquisa CNT recém-divulgada à morte de sua esposa. Diante disso, o Blog fez um apanhado da série história da CNT. Abaixo, cenários mostrados pela pesquisa CNT desde fevereiro do ano passado até fevereiro deste ano.

Como se vê no gráfico abaixo, a morte de dona Marisa Letícia não causou nenhum sobressalto na trajetória de crescimento de Lula. Ele continua subindo na mesma toada.



Bolsonaro cresce forte, também. Mas o que denota tudo isso? Por que o candidato viável mais a esquerda e um candidato em vias de viabilização da extrema-direita são os únicos que crescem?

O que começa a acontecer no Brasil é o que também aconteceu na Alemanha pré-nazista. Os dois extremos se fortalecem, um diante da ameaça do outro.

Bolsonaro, assim como Donald Trump, é um Hitler em potencial. Tem a ideologia de Hitler, usa os métodos de convencimento político de Hitler e tem até uma tropa de “camisas-pardas”, ou amarelas, a intimidar quem o desafia.

Porém, Bolsonaro também é o adversário perfeito para Lula enfrentar em 2018 porque o risco para a democracia que a eleição de um defensor da ditadura militar, de assassinatos políticos e tortura geram certamente uniria o Brasil em torno do petista e permitiria um governo de salvação nacional, após, então, quatro anos de destruição nacional.

E Bolsonaro se leva a sério. É o que mostra pesquisa levada a cabo por um de seus filhos na semana que finda (vide imagem no alto da página). E, na verdade, essa pesquisa deve, sim, ser levada a sério.

Apesar de perder feio de Lula até em uma enquete feita entre seu próprio eleitorado, Bolsonaro tem desempenho, no mínimo, igual ao de outros adversários mais tradicionais, como Marina Silva ou Aécio Neves. Seu potencial de crescimento é enorme.

Bolsonaro parece ser uma inevitabilidade. Seu crescimento é consistente e amparado pelas cenas de engajamento crescente de toda sorte de energúmenos que vagueiam pelo país. Resta saber qual é a verdadeira quantidade de brasileiros descerebrados.

Contudo, esse processo supra reproduzido também deve produzir uma ironia e, talvez, uma justiça poética. É muito provável que Lula acabe se tornando o único que poderá barrar a ascensão de um político cuja eleição seria um desastre sem precedentes para a América Latina. Talvez Lula venha a ter a mídia e a centro direita ao seu lado, contra Bolsonaro.

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