Foto: Inácio Carvalho |
O ex-ministro das Relações Exteriores (2003 – 2011) e da Defesa (2011 – 2015), Celso Amorim, participou de uma conversa com jornalistas e ativistas na tarde desta quinta-feira (16) na sede do Barão de Itararé, em São Paulo, e fez uma análise sobre o impacto de Donald Trump à frente dos EUA para o mundo. Segundo ele, este é um momento interessante para o Brasil agir a fim de consolidar uma integração latino-americana e fortalecer o continente, porém “está totalmente ausente”.
O ministro destacou a política externa do Brasil durante o governo do ex-presidente Lula, responsável por protagonizar um processo de integração na América Latina que não tardou em render bons resultados e fortalecer a relação nacional com os países vizinhos. Para ele, as afirmações de Donald Trump que demonstram um certo “isolamento” do país com relação a blocos econômicos e negociações bilaterais, abre brecha para uma nova reorganização independente. “Se tivéssemos o presidente Lula, este seria o momento de consolidar uma integração latino-americana e [agora o Itamaraty] está totalmente ausente”.
Durante sua atuação no ministério das Relações Exteriores, Amorim ampliou e fortaleceu a atuação do Brasil no mundo, de forma a transformar o país em protagonista de diversos processos importantes, entre eles, a integração latino-americana. Conhecido por sua máxima de fazer uma política externa “altiva e ativa”, o ex-ministro critica o novo posicionamento da chancelaria que, além de enfraquecer a relação com os Estados vizinhos, se volta a uma política de subordinação aos países do Norte.
“Na política externa do Brasil faltava coragem de levar os processos adiante [antes da administração de Lula]”. Segundo o ex-ministro, a atuação do Brasil passou a ser “altiva no sentido de resistir a agendas que não eram benéficas para nós, como o caso da Alca”; e “ativa no sentido de fazer o que precisamos fazer, como foi o caso da integração da América Latina”, esclareceu.
O Brasil fortalecer relações com os vizinhos significa desenvolver projetos de cooperação a fim de buscar a paz e o desenvolvimento mútuo, não é uma questão ideológica, explica o ex-ministro. Para ele, agora o país está se “ausentando” da América do Sul com o pretexto de que durante as gestões anteriores (Lula e Dilma Rousseff) a política externa tinha cunho “ideológico”.
Amorim explica que a politica externa era, acima de tudo, estratégica e cita exemplos: “mesmo discordando de algumas políticas do governo do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, o Brasil de Lula desenvolveu uma excelente relação com a Colômbia por se tratar de um país estratégico”. O que acontece hoje, com José Serra, é exatamente o contrário, é como se o Brasil só se relacionasse com países alinhados ideologicamente, dado o distanciamento que o país mantém da América do Sul e aproximação apenas com a Argentina, do presidente neoliberal Maurício Macri.
Enfraquecimento do Mercosul
Uma das primeiras ações de Trump ao assumir a presidência dos EUA foi sair do TPP (Tratado Transpacífico), o republicano tem tido uma posição agressiva com relação ao México, com quem mantém uma série de articulações econômicas, e apresentando uma política de isolamento. Para Amorim, o que está acontecendo com o México “é dramático para eles” e poderia ser também para o Brasil caso o país tivesse integrado a Alca (Aliança de Livre Comércio das Américas).
“Imagina se tivéssemos assinado a Alca? Estaríamos fazendo uma série de concessões adicionais. Isso é dramático”, pontua. Em contrapartida, além de o Brasil não assinar a Alca em 2006 durante uma Cúpula das Américas realizada na Argentina, os países latino-americanos fortaleceram e criaram outros tratados, como é o caso do Mercosul e da Unasul, que hoje garantem uma certa independência da política norte-americana.
“É claro que o Brasil deve ter uma boa relação com os Estados Unidos, mas não uma relação de subordinação”, esclarece o ex-ministro que lamenta as medidas adotadas pelo Brasil sobre o Mercosul e a integração do continente.
Recentemente o Brasil, junto à Argentina, protagonizou um boicote à Venezuela no Mercosul. Esta, por sinal, foi uma das primeiras medidas do ministro José Serra ao assumir o cargo. “A meu ver este é um grande erro diplomático”, afirma Amorim, sem titubear. Afinal, ao enfraquecer relações com os países vizinhos, o país “deixa de ter uma política para América do Sul” e passa a ter uma “política dependente”.
“Me preocupo muito com as críticas que tem sido feitas ao Mercosul. Desde a criação do bloco, o comércio mundial cresceu 5 vezes, o comércio interno [no Mercosul] cresceu 12 vezes. Não me parece que tivemos prejuízos! É claro que tem havido dificuldades, tem que ter uma política sempre muito ativa, mas abandonar o Mercosul é muito grave”.
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