Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
Todos os presidentes após a redemocratização poderiam ter sofrido impeachment. Haveria razões para tanto – ou elas nasceriam pelas mãos da inventividade política. Isso não aconteceu porque contaram com o apoio político do Congresso Nacional e o respeito do Supremo Tribunal Federal.
Um impeachment de Temer é, ainda hoje, algo impensável. Uma parte considerável dos deputados federais, senadores e da classe política deposita nele a esperança de que poderá frear, de alguma forma, a operação Lava Jato, impedindo-os de ir para o xilindró ou devolver milhões roubados. Menos impensável, mas ainda assim remota, é a chance de cassação da chapa Dilma-Temer durante a gestão Gilmar Mendes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Até aí, nada de novo.
Mas pouco se fala da segunda perna desse apoio, que vem de uma parte da elite econômica. Empresários brasileiros e estrangeiros têm condicionado seu apoio ao governo Michel Temer à aprovação de reformas que combatem a crise econômica jogando a fatura no colo dos mais pobres ao mesmo tempo que usam a própria crise como justificativa a fim de reduzir a parte do Estado que atende às necessidades da xepa humilde, protegendo os mais ricos via manutenção de altos subsídios e baixa carga tributária de sua renda e seu patrimônio.
Esse grupo, na prática, mostra não se incomodar tanto com a corrupção desde que a missão seja cumprida. Até porque, pelo que mostram as delações, a lama já chegou ao Pato Amarelo, o que deve impedi-lo de voar.
Quando a imprensa divulga que um depoimento de José Yunes, grande amigo de Michel Temer, reforça o envolvimento de seu ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em uma suspeita de falcatrua e joga suspeição sobre o comportamento do próprio Temer, em uma trama que envolve doleiros, muito dinheiro e Eduardo Cunha, era de se esperar que os empresários se revoltassem tanto quanto se revoltaram com as falcatruas do governo do PT. Mas enquanto a encomenda estiver sendo entregue, ninguém ouve, ninguém fala, ninguém vê.
Ninguém nem pensa em pedir a cabeça do governo, que poderia ser entregue de bandeja pelo Congresso Nacional na tentativa de apaziguar a gritaria na esfera pública, ''num grande acordo'', da mesma forma que aconteceu com Dilma Rousseff.
Por isso a resposta do título desse texto não passa pelo que o Congresso Nacional, a cúpula do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, grandes empresários e os milhões que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff devem ou não fazer. Eles seguem tocando suas vidas e perseguindo seus objetivos. Perde tempo, na minha opinião, quem cobra deles uma ação no sentido de encabeçar uma ação que deveria estar sendo feita por outros descontentes.
De acordo com pesquisas de opinião aplicadas sobre os manifestantes, os perfis dos favoráveis e dos contrários ao impeachment foram mais parecidos entre si do que com o restante da sociedade, tornando-os mais próximos de uma elite social e econômica. O povão, em sua maioria, não foi à rua. Muito menos a maioria dos jovens que coalharam as cidades brasileiras em junho de 2013, ao contrário do que bradam organizações que dizem falar em nome deles.
Durante o processo de impeachment, pesquisas mostraram que as razões pela insatisfação com o governo Dilma eram diferentes entre os mais ricos (que eram maioria nas manifestações de rua, reclamavam da corrupção, defendiam uma redução do Estado menor e tinham natureza antipetista) e os mais pobres (que passaram a querer sua saída, mas porque a economia estava ruim e o Estado não estava sendo suficientemente grande para garantir um colchão melhor de proteção social). Ou seja, a maioria amorfa em nome do qual tudo é feito, mas que raramente se beneficia do Estado, continuou onde sempre esteve: trabalhando pelo bem-estar de uma minoria e assistindo a tudo bestializado pela TV.
A grande pergunta é se algo (o aprofundamento do desemprego ou uma reforma da Previdência Social mais dura com os pobres, por exemplo) ou alguém será capaz de mobilizar o povão para levá-lo às ruas.
Se esse pessoal resolver dizer basta às castas de políticos corruptos, de elites econômicas sanguessugas e de demagogos violentos e antidemocráticos, percebendo que, crise após crise, são eles que pagam o pato num país em que lucros ficam com o andar de cima e prejuízos com o andar de baixo, acho que, como já disse aqui, o país entra em nova fase. Se melhor (com a população sendo protagonista de sua vida) ou pior (com a chegada de um ''salvador'' que, não se engane, podará direitos ao invés de garanti-los), não saberia dizer.
Todos os presidentes após a redemocratização poderiam ter sofrido impeachment. Haveria razões para tanto – ou elas nasceriam pelas mãos da inventividade política. Isso não aconteceu porque contaram com o apoio político do Congresso Nacional e o respeito do Supremo Tribunal Federal.
Um impeachment de Temer é, ainda hoje, algo impensável. Uma parte considerável dos deputados federais, senadores e da classe política deposita nele a esperança de que poderá frear, de alguma forma, a operação Lava Jato, impedindo-os de ir para o xilindró ou devolver milhões roubados. Menos impensável, mas ainda assim remota, é a chance de cassação da chapa Dilma-Temer durante a gestão Gilmar Mendes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Até aí, nada de novo.
Mas pouco se fala da segunda perna desse apoio, que vem de uma parte da elite econômica. Empresários brasileiros e estrangeiros têm condicionado seu apoio ao governo Michel Temer à aprovação de reformas que combatem a crise econômica jogando a fatura no colo dos mais pobres ao mesmo tempo que usam a própria crise como justificativa a fim de reduzir a parte do Estado que atende às necessidades da xepa humilde, protegendo os mais ricos via manutenção de altos subsídios e baixa carga tributária de sua renda e seu patrimônio.
Esse grupo, na prática, mostra não se incomodar tanto com a corrupção desde que a missão seja cumprida. Até porque, pelo que mostram as delações, a lama já chegou ao Pato Amarelo, o que deve impedi-lo de voar.
Quando a imprensa divulga que um depoimento de José Yunes, grande amigo de Michel Temer, reforça o envolvimento de seu ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em uma suspeita de falcatrua e joga suspeição sobre o comportamento do próprio Temer, em uma trama que envolve doleiros, muito dinheiro e Eduardo Cunha, era de se esperar que os empresários se revoltassem tanto quanto se revoltaram com as falcatruas do governo do PT. Mas enquanto a encomenda estiver sendo entregue, ninguém ouve, ninguém fala, ninguém vê.
Ninguém nem pensa em pedir a cabeça do governo, que poderia ser entregue de bandeja pelo Congresso Nacional na tentativa de apaziguar a gritaria na esfera pública, ''num grande acordo'', da mesma forma que aconteceu com Dilma Rousseff.
Por isso a resposta do título desse texto não passa pelo que o Congresso Nacional, a cúpula do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, grandes empresários e os milhões que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff devem ou não fazer. Eles seguem tocando suas vidas e perseguindo seus objetivos. Perde tempo, na minha opinião, quem cobra deles uma ação no sentido de encabeçar uma ação que deveria estar sendo feita por outros descontentes.
De acordo com pesquisas de opinião aplicadas sobre os manifestantes, os perfis dos favoráveis e dos contrários ao impeachment foram mais parecidos entre si do que com o restante da sociedade, tornando-os mais próximos de uma elite social e econômica. O povão, em sua maioria, não foi à rua. Muito menos a maioria dos jovens que coalharam as cidades brasileiras em junho de 2013, ao contrário do que bradam organizações que dizem falar em nome deles.
Durante o processo de impeachment, pesquisas mostraram que as razões pela insatisfação com o governo Dilma eram diferentes entre os mais ricos (que eram maioria nas manifestações de rua, reclamavam da corrupção, defendiam uma redução do Estado menor e tinham natureza antipetista) e os mais pobres (que passaram a querer sua saída, mas porque a economia estava ruim e o Estado não estava sendo suficientemente grande para garantir um colchão melhor de proteção social). Ou seja, a maioria amorfa em nome do qual tudo é feito, mas que raramente se beneficia do Estado, continuou onde sempre esteve: trabalhando pelo bem-estar de uma minoria e assistindo a tudo bestializado pela TV.
A grande pergunta é se algo (o aprofundamento do desemprego ou uma reforma da Previdência Social mais dura com os pobres, por exemplo) ou alguém será capaz de mobilizar o povão para levá-lo às ruas.
Se esse pessoal resolver dizer basta às castas de políticos corruptos, de elites econômicas sanguessugas e de demagogos violentos e antidemocráticos, percebendo que, crise após crise, são eles que pagam o pato num país em que lucros ficam com o andar de cima e prejuízos com o andar de baixo, acho que, como já disse aqui, o país entra em nova fase. Se melhor (com a população sendo protagonista de sua vida) ou pior (com a chegada de um ''salvador'' que, não se engane, podará direitos ao invés de garanti-los), não saberia dizer.
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