segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Previdência: os números da crueldade

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Os imbecis não conseguem pensar além de seus próprios umbigos e tomam a questão previdenciária como um simples cálculo entre o que se contribui e o que se recebe, daí balançarem a cabeça em aprovação aos que não são imbecis, mas são perversos e querem sanear e fazer funcionar bem a máquina de pagar juros que é o Estado brasileiro.

Reportagem assinada por Mariana Carneiro, Ana Estela Sousa Pinto e Paulo Muzzolon, na Folha, mostra que nada menos que 80% das pessoas que hoje se aposentam por idade perderia este direito por muitos anos se aprovada a reforma previdenciária enviada por Michel Temer ao Congresso. E mostra mais: que o grande peso disso recaria sobre os mais pobres, não apenas porque a média dos proventos dos que se aposentam por idade é de 890 reais (apenas 10 reais acima do mínimo de 2016), mas porque a concentração das aposentadorias deste tipo mostra que também são os estados mais fracos da Federação os maiores prejudicados.

Nove estados brasileiro têm mais de 90% dos seus aposentados por idade, numero que dobra se considerarmos o patamar de 80%. Isto é, de cada cinco pessoas que se aposentam só uma consegue alcançar os 35 anos de contribuição (homens) e 30 anos (mulheres).

O retrato da monstruosidade é claro: praticamente 80% dos aposentados por idade, hoje, não teriam o benefício se valessem hoje as regras desejadas pelo governo golpista e sem voto.

Não dá nem para fazer o raciocínio de quantas atingiriam os 49 anos de contribuição necessários à aposentadoria integral, pela regra proposta por Temer, porque o resultado seria simples deboche.

Mesmo para os 35 anos atuais, isso significa, para a grande maioria, algo em torno de 40 anos de vida laboral, porque com a rotatividade de sempre e o desemprego de tantas vezes, os “buracos” no tempo de contribuição elevam para este nível o atingimento do mínimo exigido.

Claro que isso vale também – e até mais gravemente, porque mais grave o desemprego e o trabalho informal entre os pobres – para a exigência de 25 anos de contribuição. E com a rejeição a empregar gente já mais velha generalizada – e mais grave nas profissões que exigem esforço físico, como a construção civil e o trabalho rural – isso vai significar que estas pessoas devem esquecer a aposentadoria.

Faça o seguinte: coloque de um lado todos os cálculos dos meninos bem vestidos que falam horrores do rombo da previdência e, de outro, o rosto das pessoas que trabalham a vida inteira na informalidade, nos biscates, suando na enxada de sua roça e escolha qual dos dois retrata melhor o brasileiro.

Como já disse hoje, a tecnocracia virou a face fria da maldade.

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