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Numa decisão que pode inflamar a revolta, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu nesta terça-feira (14) o cargo de ministro da Secretaria-Geral do covil golpista para o peemedebista Moreira Franco, o famoso "gato angorá" da corrupção nativa. A decisão anula todas as liminares dadas antes por juízes da primeira instância que suspenderam a sinistra escolha. Com isso, o cupincha de Michel Temer garante o direito ao foro especial e só poderá ser investigado pelos seus supostos crimes pelo próprio STF. Moreira Franco tem uma longa ficha corrida de acusações – apenas nas delações premiadas da midiática Operação Lava-Jato ele já foi citado 34 vezes – 34 vezes!
Segundo matéria do jornal O Globo, "antes de tomar a decisão, Celso de Mello pediu informações ao presidente [sic] Michel Temer sobre o assunto. Em resposta, assessores do presidente reafirmaram a legalidade da nomeação. A decisão do ministro foi tomada em duas ações do PSOL e da Rede pedindo a anulação da nomeação, por entender que Moreira foi indicado com o único propósito de dar a ele direito ao foro privilegiado. Sem o cargo, os indícios contra o peemedebista ficariam nas mãos do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava-Jato na primeira instância do Judiciário". Quem ainda lembra como atuou o STF, que fez o maior estardalhaço para impedir a nomeação do ex-presidente Lula para compor o governo Dilma Rousseff, deve ter estranhado a decisão do "decano" do Supremo.
Celso de Mello simplesmente aceitou a desculpa esfarrapada apresentada pelo covil golpista de que a escolha de Moreira Franco foi angelical, imaculada. "Não houve qualquer má intenção do Presidente da República em criar obstruções ou embaraços à Operação Lava Jato", afirmou o documento escrito pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pela Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Já os outros ministros do STF preferiram se calar, repetindo as cenas de covardia que viraram moda desde o início da cavalgada golpista pelo impeachment de Dilma Rousseff. Eles sequer se manifestaram sobre as três liminares de juízes de primeira instância que anularam a nomeação do "angorá" devida a sua sinistra trajetória. Triste sina do Supremo!
Desfaçatez como tábua de salvação
Até veículos que apoiaram o "golpe dos corruptos" e dão sustentação à quadrilha que assaltou o poder estranharam a nomeação. A Folha, em editorial na sexta-feira (10), foi dura nas críticas. "Acumulam-se, nestes últimos dias, os sinais de que o governo do peemedebista Michel Temer – a exemplo do mundo político em geral – deixa de lado o compromisso com as aparências republicanas e adota como prioridade a sobrevivência de seu núcleo de poder. Em manobra incapaz de passar como mera providência administrativa, o presidente alçou a ministro de seu governo Wellington Moreira Franco, identificado como "Angorá" em delações da Lava Jato". Para o jornal, os usurpadores – este adjetivo logicamente não é do veículo chapa-branca – "importam-se, a esta altura, com quase nada. Tomam a iniciativa, seguem adiante e recorrem à desfaçatez como tábua de salvação".
Até a revista Época, pertencente à famiglia Marinho, foi forçada a reconhecer que a nomeação visou exclusivamente "blindar Moreira Franco, citado na Lava-Jato". Conforme lembrou a reportagem, "o presidente Michel Temer vai criar um novo ministério – a Secretaria-Geral da Presidência – dentro do Palácio do Planalto para abrigar seu aliado Moreira Franco, que atualmente é secretário do Programa de Parcerias e Investimentos. Com isso, Moreira, que foi citado por delatores da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato, ganha status de ministro e direito ao foro privilegiado. Assim, ele só poderá ser investigado e julgado na esfera do Supremo Tribunal Federal".
O texto mais contundente na mídia hegemônica, porém, foi o do veterano jornalista Janio de Freitas. Diante da indecorosa nomeação, agora confirmada pelo "decano" Celso de Mello, ele provocou os "coxinhas" que bateram panelas e foram às ruas para exigir o "Fora Dilma". Se a sua provocação der resultado, despertando consciências, as vidas do sinistro Moreira Franco e do Judas Michel Temer não terão paz no próximo período. A conferir!
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Não há panelaços e bonecos infláveis para os acusados do governo Temer
Por Janio de Freitas - Folha, 12 de fevereiro de 2017
Agora ficou mais fácil compreender o que se tem passado no Brasil. O poder pós-impeachment compôs-se de sócios-atletas da Lava Jato e, no entanto, não há panelaço para o despejo de Moreira Franco, ou de qualquer outro da facção, como nem sequer houve para Geddel Vieira Lima. Não há panelaços nem bonecos inflados com roupa de presidiário.
Logo, onde não há trabalhador, desempregado, perdedor da moradia adquirida na anulada ascensão, também não há motivo para insatisfações com a natureza imoral do governo. Os que bancaram o impeachment desfrutam a devolução do poder aos seus servidores. Os operadores políticos do impeachment desfrutam do poder, sem se importar com o rodízio forçado, que não afeta a natureza do governo.
Derrubar uma Presidência legítima e uma presidente honesta, para retirar do poder toda aspiração de menor injustiça social e de soberania nacional, tinha como corolário pretendido a entrega do Poder aos que o receberam em maioria, os geddeis e moreiras, os cunhas, os calheiros, os jucás, nos seus diferentes graus e especialidades.
Como disse Aécio Neves a meio da semana, em sua condição de presidente do PSDB e de integrante das duas bandas de beneficiários do impeachment: "Nosso alinhamento com o governo é para o bem ou para o mal". Não faz diferença como o governo é e o que dele seja feito. Se é para o mal, também está cumprindo o papel a que estava destinado pela finalidade complementar da derrubada de uma Presidência legítima e de uma presidente honesta.
Não há panelaço, nem boneco com uniforme de presidiário. Também, não precisa. Terno e gravata não disfarçam.
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