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De dentro de sua cela no Complexo Médico-Penal de Pinhais (PR), onde cumpre prisão provisória, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-PR) chantageia o governo Michel Temer e consegue emplacar aliados em posições estratégicas. O diagnóstico é de Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do governo no Senado e desafeto de Cunha.
“Os últimos sinais emitidos pelo governo com as nomeações mostram que há uma disputa entre o PSDB e o núcleo da Câmara ligado a Eduardo Cunha pelo comando do governo", afirmou Renan na quarta-feira 8, após encontrar Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral do governo.
"Os sinais são, de um lado, o fortalecimento do PSDB, que é legítimo porque faz uma sustentação importante no governo, e o fortalecimento do grupo originário da Câmara ligado a Cunha”, afirmou Renan.
Entre as nomeações obtidas por Cunha estariam a do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) como novo ministro da Justiça, de André Moura (PSC-SE) como líder do governo no Congresso, e de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como líder do governo na Câmara.
Todos são ligados a Cunha, assim como o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, cotado para assumir a pasta em substituição a Eliseu Padilha, que está em licença-médica e afundado em denúncias de corrupção. "Eu disse ao Moreira: fala com o Padilha para voltar imediatamente porque senão o Eduardo Cunha senta lá na cadeira dele o Gustavo Rocha", afirmou Renan.
Mas como Cunha tem conseguido a proeza de manobrar o governo de dentro da cadeia? Ao que parece, por meio de chantagens. "Há 20 dias, o juiz Sérgio Moro foi solidário com Temer, dizendo que ele estava sendo chantageado e vetando as perguntas de Cunha ao presidente”, lembrou Renan.
A frase era uma referência às 41 perguntas formuladas pela defesa de Cunha a Temer, em um dos processos da Lava Jato que o deputado cassado responde. Moro barrou 21 dos questionamentos, entre eles os que tratavam de José Yunes, ex-assessor de Temer posteriormente apontado como intermediário de propina que teria sido solicitada por ele à Odebrecht.
No início de fevereiro, ao negar um pedido de liberdade de Cunha, Moro trouxe o episódio à tona e disse que Cunha não abandonou o “modus operandi de extorsão, ameaça e chantagem". “Não se pode permitir que o processo judicial seja utilizado para essa finalidade, para que parte transmita ameaças, recados ou chantagens a autoridades”, escreveu o juiz em seu despacho.
De fato, Cunha não abandonou essa prática. Em um outro processo derivado da Lava Jato, que corre na 10ª Vara Federal de Brasília, o deputado cassado apresentou uma nova leva de 19 perguntas a Temer, novamente arrolado como testemunha. Desta vez, Cunha fez questionamentos citando Moreira Franco, a atuação deste na Caixa Econômica Federal, e as relações de Temer com delatores da Lava Jato, como Benedito Júnior (Odebrecht), Léo Pinheiro (OAS) e Fábio Cleto (Caixa), entre outros.
Na semana passada, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, responsável pelo caso, determinou o envio das perguntas a Temer, salientando que o peemedebista poderia não responder a perguntas “impertinentes e autoincriminatórias”.
Na quarta-feira 8, entretanto, Temer recebeu um alívio. A Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) cancelou o envio das perguntas. Foi uma consequência de um pedido feito pelo próprio Cunha, para que o Ministério Público Federal junte aos autos da ação as provas que ainda não tenham sido apresentadas. Com isso, Cunha terá mais tempo para apresentar sua defesa prévia. Nesta ocasião, o deputado cassado poderá reapresentar as perguntas a Temer.
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