“A toda hora rola uma história
que é preciso estar atento
A todo instante rola um movimento
que muda o rumo dos ventos
Quem sabe remar não estranha
vem chegando a luz de um novo dia
O jeito é criar um outro samba
sem rasgar a velha fantasia”
(Paulinho da Viola – Rumo dos ventos)
O mês de março vai chegando ao fim e com ele a marca de uma virada importante na renhida luta política em curso no país: mudou quantitativa e qualitativamente a correlação de forças nas ruas.
Desde a consumação do golpe os movimentos de rua convocados pela direita têm perdido força. O fracasso retumbante das manifestações convocadas por MBL, Vem pra rua, et caverna, para o domingo que passou (26/3), pode ser a última pá de cal para enterrar de vez a excrecência de se ver reunir milhares de pessoas carregando cartazes e bandeiras reacionárias, contra a democracia e os direitos sociais.
O consórcio golpista (Globo/MPF/PSDB/PMDB, etc) foi hábil em capturar os movimentos de massa que emergiram depois de junho de 2013 e conduzi-los a um apoio cego ao impeachment fraudulento, ao linchamento público de Lula e Dilma e de lideranças e partidos de esquerda, e aos abusos e ilegalidades cometidos reiteradas vezes na chamada operação Lava-jato. Não significa dizer que estes movimentos perderam em absoluto sua relevância política e eleitoral, mas em afirmar que os mesmos não reúnem mais condições objetivas de convocar e liderar expressivas manifestações de rua. Não se trata de exercício de adivinhação, mas sim da constatação objetiva de que os problemas reais enfrentados pelo povo brasileiro é que deverão ocupar a cena política das mobilizações de rua no próximo período.
Há poucos dias o juiz Sergio Moro gravou um vídeo no facebook para comemorar os três anos da operação (sic) Lava-jato. Aproveitou para agradecer o apoio que tem recebido da população. O juiz não teceu nenhum comentário sobre os mais de 300 mil trabalhadores das empresas de engenharia investigadas pela Lava-jato que foram demitidos desde o início da operação. Tampouco falou dos 440 mil trabalhadores do setor de óleo e gás e da indústria naval, que também perderam o emprego nesse período. São mais de 3 milhões de demissões só durante a atual recessão, totalizando mais de 13 milhões de desempregados hoje no país .
Em dezembro de 2014 a taxa de desemprego medida pelo IBGE atingiu a menor marca de toda a série, chegando a 4,3% da População Economicamente Ativa (PEA). Saltou para 6,9% ao final de 2015 e quase que dobrou ao final de 2016, chegando 12% da PEA. Não é coincidência que nesse intervalo de três anos da Lava-jato (a 1ª fase da operação foi deflagrada no dia 17/3/2014) o número de desempregados tenha partido da menor mínima histórica (4,3% em dezembro de 2014) para atingir a maior alta (12% em dezembro de 2016). Todos os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE.
A unidade é a bandeira da esperança: ampliar a mobilização política do povo para impedir os retrocessos e defender a democracia, todos na construção da Greve Geral!
Ao mesmo passo, a resistência ao desmonte nacional, às restrições democráticas e à retirada de direitos é crescente e se fortalece. As mulheres protagonizaram no 8 de março grandes manifestações unitárias contra a reforma da previdência e pelo Fora Temer. As gigantescas paralisações no dia 15 de março levaram mais de um milhão de pessoas às ruas em todo o país e o dia 31/3 (sexta) promete ser um grande esquenta da Greve Geral. Um fator decisivo para o êxito dessa jornada, e para consolidar essa virada na correlação de forças das ruas, será a unidade de ação política na luta contra a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista e a Terceirização. São peças-chave nesse processo o Fórum das Centrais Sindicais, a Frente Brasil Popular e a Povo Sem Medo. A luta contra o fim da aposentadoria pode unir amplos setores da sociedade. OAB e CNBB já se pronunciaram contra a reforma da previdência de Temer.
Os presidentes das nove Centrais Sindicais assinaram na tarde desta segunda (27/3) uma carta convocando os/as trabalhadores/as para paralisar todas as atividades no dia 28 de abril, em um forte rechaço e alerta ao governo e ao Congresso Nacional de que o povo e a classe trabalhadora não aceitarão as propostas de reformas da Previdência, Trabalhista e o projeto de Terceirização aprovado pela Câmara.
Ao lado da construção das mobilizações e da Greve Geral contra a Reforma da Previdência, a esquerda política e social deve se empenhar na construção de uma plataforma comum para tirar o Brasil da crise econômica e restaurar o Estado Democrático de Direito. Aqui traduz-se o esforço central do que o PCdoB tem caracterizado como Frente Ampla. Envolve, em primeiro lugar, a formulação de novos rumos para tirar o país da crise. É preciso renovar a esperança entre o povo brasileiro, mostrar que o país tem jeito, apresentando propostas concretas para a retomada da geração de empregos, a defesa dos direitos do trabalho e da previdência, a defesa do SUS e da educação pública, da segurança, etc… Por outro lado é imperioso a defesa e o restabelecimento do Estado Democrático, o fim das arbitrariedades da Lava-Jato, a garantia da realização de eleições livres e diretas para presidente, o direito de Lula se candidatar nas próximas eleições e a busca de um novo pacto entre trabalhadores com setores produtivos do país.
* André Pereira R. Tokarski, 33 anos, foi presidente nacional da UJS (2010/2014), é mestre em direito político e econômico e Secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB.
Miro, não concordo que a menor presença de pessoas nas manifestações do domingo passado deveu-se ao cansaço ou à desilução da maioria que foi às ruas apoiar o afastamento da Dilma.
ResponderExcluirMinha visão é mais pessimista, porque acho que esse pessoal não mudou nada sua forma de pensar. Moro em São Paulo, e claro que minha visão foi construída com base no que vejo e ouço por aqui, a partir de conversas que tenho tido com pessoas que apoiaram o afastamento da Dilma e que participaram das manifestações de rua no ano passado para afastar uma presidente sem que ela houvesse cometido nenhum crime de responsabilidade. Portanto, com base em conversas com golpistas, conscientes ou não da seriedade de se machucar a Constituição num país tão afetado por golpes ao longo de sua história.
A maioria desse pessoal que apoiou movimentos golpistas no ano passado é muito ignorante politicamente e pensa de forma absolutamente maniqueísta. Não têm instrumental teórico e/ou informações plurais que os permitam ter uma visão mais ampla da nossa realidade, nem do ponto de vista sócio-político nem do ponto de vista econômico. Isso caracterizou a maioria dos manifestantes golpistas. Claro que havia também os oportunistas e os que tinham interesses ideológicos e de poder na execução do golpe, mas o primeiro grupo era francamente majoritário em quantidade.
Para o primeiro grupo, o que está prevalecendo agora é o sentimento de que foram "vitoriosos" com o golpe. Para eles, o afastamento da Dilma era considerado prioritário. Compraram as afirmações da mídia oligopolista de que isto era fundamental para combater a corrupção e para que o país se recuperasse economicamente. Afastada a presidente, para esse pessoal não há mais importância em ir para a rua. Preferem ficar em casa ou se divertir da forma como estão acostumados. Mas não mudaram em nada sua forma de pensar.
Para gente que prima pela ignorância política, é simles assim.
Claudio Freire