Por Marco Piva
“Ética é o que você faz quando está todo mundo olhando. O que você faz quando não tem ninguém por perto chama-se caráter”. É assim, com essa conversa de botequim, retirada de manuais do senso comum, que Flavio Evers Cassou, funcionário da Seara e preso pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca, gostava de mostrar o que pensa da vida em sua rede social. Segundo O Globo (17/03/2017), o médico veterinário, com diploma da Universidade Federal do Paraná, exalta também o trabalho do juiz Sergio Moro e a cruzada moral contra o PT “para tirar o Brasil do vermelho”.
Esse tipo de contradição entre a “ética pública” e o “caráter privado”, fiel retrato do próprio investigado, deveria causar espanto. Primeiro porque se trata de uma definição completamente equivocada sob a luz da Filosofia. Uma pesquisa básica no Google ajuda a entender: “No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. Os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra ‘ética’ vem do Grego ‘ethos’ que significa ‘modo de ser’ ou ‘caráter’. Já a palavra ‘moral’ tem origem no termo latino ‘morales’ que significa relativo aos costumes”.
Como o “buraco é mais embaixo”, vale tentar entender a lógica de um investigado por corrupção bradar de forma inflamada contra a corrupção.
Historicamente, o discurso social no Brasil foi construído pelas elites que se apossaram do território nas epopeias dos descobrimentos e da colonização. Essa lógica, para se manter no poder, instituiu mecanismos de escravização simbólicos e práticos. Enquanto a casta senhorial usou indígenas, em primeiro lugar, e negros, depois, como mão de obra para a reprodução do seu capital, paralelamente se constituía uma hegemonia de valores para serem aceitos como naturais na sociedade. A cristandade, pela imposição, cumpriu esse papel ao ressaltar a culpa que todos devemos ter pelo pecado original. Ou seja, a lógica da escravização econômica vem acompanhada da escravização simbólica, via moral, que passa a valer para dominados e dominadores. A abolição da escravatura negra, em 1888, não aboliu a escravatura simbólica. Em alguns aspectos a intensificou com a chegada da mão de obra substitutiva: os imigrantes.
Assim, não é de causar tanto espanto que durante muitos séculos tenha predominado a ideia de que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Essa é a fonte de toda ordem de dominação nas relações de classe, de gênero, de raça. E isso se estende, se expande e se solidifica no senso comum na ausência de um processo de educação mais vigoroso e crítico.
O Brasil possui 517 anos de história colonial e, certamente, centenas de anos anteriores de outra história indígena que ainda hoje é desconhecida por boa parte da população. Foram poucos os momentos de tentativa de alteração do perverso sistema. As revoltas indígenas e negras, no passado mais longínquo, e os gestos voluntariosos de algumas lideranças a partir da constituição da República, em 1889, pouco alteraram esse panorama de dominação colonial.
Nesse meio tempo, tem prevalecido a ideia de que existem aqueles que nascem para dar certo e aqueles que nascem para dar errado. E é óbvio que aqueles que nascem para dar certo tem a prevalência do argumento do mérito próprio. Sob esse ângulo, o médico veterinário Flavio Evers Cassou deu certo. Cursou uma universidade pública, sustentada em boa parte pelos que deram errado. E já que deram errado, não merecem nenhuma retribuição, nem na forma de um pet popular.
A tentativa mais recente de alteração do secular sistema de poder existente no Brasil aconteceu na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Paradoxalmente, um sujeito que, pela tradição, tinha tudo para dar errado, pretendeu imprimir uma outra direção ao país ao buscar incluir a massa de errados e errantes. As políticas sociais e a conquista de novos direitos tiveram o objetivo de criar um mercado de consumidores antes inexistente e uma consciência nacional mais tolerante e democrática.
A fórmula teve relativo sucesso enquanto as commodities, típicas de um país de exportação primária, estiveram em alta e possibilitaram que setores da indústria nacional, apesar de suas limitações, crescessem com o apoio de um Estado mais interessado em construir uma política estratégica de desenvolvimento soberano em áreas como petróleo e gás, engenharia pesada e proteína animal. O apoio do BNDES nesse sentido foi fundamental. Enquanto essa aliança entre errados e a parte econômica dos que se consideram certos funcionou, tudo correu bem: pleno emprego, alto consumo, lucros sucessivos etc.
Mas, a inclusão social de amplos setores da população mais pobre cobra seu preço em duas direções. Primeiro, ao ampliar o mercado de consumo, alimenta a desconfiança moral (aquela dos costumes) entre errados e certos ao favorecer, por exemplo, que uma assalariada doméstica tenha assento no mesmo avião que um executivo de empresa ou que o carro seminovo de um trabalhador estacione na porta do mesmo restaurante onde estaciona uma perua Tucson Hyundai branca.
Em segundo lugar, a conta começa a não fechar quando as commodities entram em queda e os setores dominantes reagem ao modesto liberalismo social de centro-esquerda acreditando que forçar taxas de juros mais baixas para ampliar o crédito, diminuir a tarifa de energia elétrica, segurar o preço dos combustíveis, fortalecer novas cadeias produtivas e investir na integração regional pode levar o Brasil à bancarrota.
Sem a consciência de que um projeto nacional mais inclusivo poderia pertencer a todos, na alegria e na tristeza, setores majoritários da indústria e do comércio urbanos descapitalizados, do agronegócio conjunturalmente deficitário e do sistema financeiro pedem o país de volta depois de um breve período de aluguel, como disse Frei Betto.
Com o apoio de um discurso hegemônico na mídia, que também enfrenta dificuldades pelo avanço das novas tecnologias, as estruturas mais conservadoras começam a se mexer no Congresso Nacional potencializando uma crise econômica para obter lucros políticos.
Assim, o que seria o passo seguinte de um projeto de novo tipo – um “mercado” de cidadãos com mais educação e consciência nacional – começa a fazer água nas manifestações de junho de 2013, ganha corpo na reeleição presidencial de 2014 e prossegue, com velocidade maior, após a vitória de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, cuja atuação bloqueia as iniciativas de conserto de rota de Dilma Roussef, aprofundando a crise econômica e a sensação geral de que o avião estava sem piloto.
Como parte fundamental desse contexto, a insatisfação da classe média formada por pessoas como o médico veterinário é vocalizada e incentivada por uma imprensa cada vez mais comprometida ideologicamente com a restauração do ancién regime, travestido de “rumo certo para a economia”. A desagregação parlamentar se acentua e o impeachment se torna inevitável. Na ausência de provas mais robustas, a acusação contra Dilma recai sobre uma “manobra fiscal” e se fortalece a tese de que o Partido dos Trabalhadores tinha um projeto de perpetuação do poder vocacionado para a corrupção.
Nessa conjuntura de perseguição, setores específicos da burguesia brasileira incentivados pelo governo petista são igualmente defenestrados, embora exista a suspeita de que jamais tenham entendido a importância estratégica do que estava em jogo, na medida que não só permitiram como incentivaram a manutenção do velho jogo da corrupção com todos os partidos políticos. No lugar dessas empresas, que ganharam musculatura e conquistaram mercados internacionais, aparecem e reaparecem agora os seletos e previsíveis grupos transnacionais, especialmente nas áreas de petróleo, gás e engenharia pesada.
As consequências desse momento de transição são visíveis e muito reais no cotidiano da população pelo aumento do desemprego e da queda da renda. Quando um governo legitimamente eleito é deposto numa ação coordenada do parlamento, da Justiça, do empresariado e da mídia comercial, nem é preciso o uso ostensivo das fardas e das armas. A espinha dorsal da institucionalidade é quebrada e a nação entra no “vale-tudo”, numa espécie de explosão das principais mazelas do pensamento colonial ainda vigente. Não é à toa que se forma um ministério de homens brancos, os direitos sociais são ameaçados e extintos em sequencia por um parlamento notoriamente corrupto, a violência e o retrocesso contra as conquistas de indígenas, negros, mulheres e movimentos identitários aumenta assustadoramente e a economia vai de mal a pior enquanto os comentaristas de sempre se esmeram em dizer que “o pior já passou”.
Não, infelizmente não. O pior está por vir. Para garantir a volta da economia que separa as pessoas certas das pessoas erradas muitas “maldades” serão feitas. A reforma da Previdência é uma delas. A aprovação da terceirização, da forma assodada como foi feita, é outra.
Por isso, não há nenhuma incoerência entre a defesa da moral e do caráter do médico veterinário e as medidas que estão sendo adotadas pelo atual governo, cuja transitoriedade exige a aplicação de retrocessos a toque de caixa. A bem da verdade, nenhum governo seria eleito com uma pauta tão cruel.
O cenário de curto prazo não permite afirmar que haverá uma estabilidade social por conta de que o sentimento de que as coisas não estão caminhando bem começa a crescer na sociedade, mesmo entre aqueles setores da classe média que foram às ruas pedir a deposição de Dilma Roussef. Embora as consequencias dos retrocessos sociais na vida econômica do cidadão comum ainda não estejam visíveis, é certo que a sensação de insegurança perdura e as projeções sempre otimistas da grande imprensa para a economia não são capazes de restaurar a confiança no futuro.
A espetacularização da Operação Carne Fraca mostrou a outra face do impeachment, que já vem se espelhando também nas arbitrariedades seletivas de procuradores e juízes que atuam na Lava Jato. Sem liderança institucional, grupos mais arredios à democracia usam as estruturas do Estado a qual pertencem para tomar suas próprias decisões, normalmente de inspiração autoritária, pouco importando se são equivocadas ou se provocam estragos na economia e na vida de milhões de pessoas. É a disputa pura e simples pelo poder de mandar, de preferência com holofotes. Nisso, a ética e o caráter do funcionário da Seara pouco diferem daquilo que pensa o delegado da Polícia Federal, Maurício Moscardi Grillo, que por acaso é também o coordenador da PF na Operação Lava Jato, e o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou a operação.
“Ética é o que você faz quando está todo mundo olhando. O que você faz quando não tem ninguém por perto chama-se caráter”. É assim, com essa conversa de botequim, retirada de manuais do senso comum, que Flavio Evers Cassou, funcionário da Seara e preso pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca, gostava de mostrar o que pensa da vida em sua rede social. Segundo O Globo (17/03/2017), o médico veterinário, com diploma da Universidade Federal do Paraná, exalta também o trabalho do juiz Sergio Moro e a cruzada moral contra o PT “para tirar o Brasil do vermelho”.
Esse tipo de contradição entre a “ética pública” e o “caráter privado”, fiel retrato do próprio investigado, deveria causar espanto. Primeiro porque se trata de uma definição completamente equivocada sob a luz da Filosofia. Uma pesquisa básica no Google ajuda a entender: “No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. Os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra ‘ética’ vem do Grego ‘ethos’ que significa ‘modo de ser’ ou ‘caráter’. Já a palavra ‘moral’ tem origem no termo latino ‘morales’ que significa relativo aos costumes”.
Como o “buraco é mais embaixo”, vale tentar entender a lógica de um investigado por corrupção bradar de forma inflamada contra a corrupção.
Historicamente, o discurso social no Brasil foi construído pelas elites que se apossaram do território nas epopeias dos descobrimentos e da colonização. Essa lógica, para se manter no poder, instituiu mecanismos de escravização simbólicos e práticos. Enquanto a casta senhorial usou indígenas, em primeiro lugar, e negros, depois, como mão de obra para a reprodução do seu capital, paralelamente se constituía uma hegemonia de valores para serem aceitos como naturais na sociedade. A cristandade, pela imposição, cumpriu esse papel ao ressaltar a culpa que todos devemos ter pelo pecado original. Ou seja, a lógica da escravização econômica vem acompanhada da escravização simbólica, via moral, que passa a valer para dominados e dominadores. A abolição da escravatura negra, em 1888, não aboliu a escravatura simbólica. Em alguns aspectos a intensificou com a chegada da mão de obra substitutiva: os imigrantes.
Assim, não é de causar tanto espanto que durante muitos séculos tenha predominado a ideia de que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Essa é a fonte de toda ordem de dominação nas relações de classe, de gênero, de raça. E isso se estende, se expande e se solidifica no senso comum na ausência de um processo de educação mais vigoroso e crítico.
O Brasil possui 517 anos de história colonial e, certamente, centenas de anos anteriores de outra história indígena que ainda hoje é desconhecida por boa parte da população. Foram poucos os momentos de tentativa de alteração do perverso sistema. As revoltas indígenas e negras, no passado mais longínquo, e os gestos voluntariosos de algumas lideranças a partir da constituição da República, em 1889, pouco alteraram esse panorama de dominação colonial.
Nesse meio tempo, tem prevalecido a ideia de que existem aqueles que nascem para dar certo e aqueles que nascem para dar errado. E é óbvio que aqueles que nascem para dar certo tem a prevalência do argumento do mérito próprio. Sob esse ângulo, o médico veterinário Flavio Evers Cassou deu certo. Cursou uma universidade pública, sustentada em boa parte pelos que deram errado. E já que deram errado, não merecem nenhuma retribuição, nem na forma de um pet popular.
A tentativa mais recente de alteração do secular sistema de poder existente no Brasil aconteceu na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Paradoxalmente, um sujeito que, pela tradição, tinha tudo para dar errado, pretendeu imprimir uma outra direção ao país ao buscar incluir a massa de errados e errantes. As políticas sociais e a conquista de novos direitos tiveram o objetivo de criar um mercado de consumidores antes inexistente e uma consciência nacional mais tolerante e democrática.
A fórmula teve relativo sucesso enquanto as commodities, típicas de um país de exportação primária, estiveram em alta e possibilitaram que setores da indústria nacional, apesar de suas limitações, crescessem com o apoio de um Estado mais interessado em construir uma política estratégica de desenvolvimento soberano em áreas como petróleo e gás, engenharia pesada e proteína animal. O apoio do BNDES nesse sentido foi fundamental. Enquanto essa aliança entre errados e a parte econômica dos que se consideram certos funcionou, tudo correu bem: pleno emprego, alto consumo, lucros sucessivos etc.
Mas, a inclusão social de amplos setores da população mais pobre cobra seu preço em duas direções. Primeiro, ao ampliar o mercado de consumo, alimenta a desconfiança moral (aquela dos costumes) entre errados e certos ao favorecer, por exemplo, que uma assalariada doméstica tenha assento no mesmo avião que um executivo de empresa ou que o carro seminovo de um trabalhador estacione na porta do mesmo restaurante onde estaciona uma perua Tucson Hyundai branca.
Em segundo lugar, a conta começa a não fechar quando as commodities entram em queda e os setores dominantes reagem ao modesto liberalismo social de centro-esquerda acreditando que forçar taxas de juros mais baixas para ampliar o crédito, diminuir a tarifa de energia elétrica, segurar o preço dos combustíveis, fortalecer novas cadeias produtivas e investir na integração regional pode levar o Brasil à bancarrota.
Sem a consciência de que um projeto nacional mais inclusivo poderia pertencer a todos, na alegria e na tristeza, setores majoritários da indústria e do comércio urbanos descapitalizados, do agronegócio conjunturalmente deficitário e do sistema financeiro pedem o país de volta depois de um breve período de aluguel, como disse Frei Betto.
Com o apoio de um discurso hegemônico na mídia, que também enfrenta dificuldades pelo avanço das novas tecnologias, as estruturas mais conservadoras começam a se mexer no Congresso Nacional potencializando uma crise econômica para obter lucros políticos.
Assim, o que seria o passo seguinte de um projeto de novo tipo – um “mercado” de cidadãos com mais educação e consciência nacional – começa a fazer água nas manifestações de junho de 2013, ganha corpo na reeleição presidencial de 2014 e prossegue, com velocidade maior, após a vitória de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, cuja atuação bloqueia as iniciativas de conserto de rota de Dilma Roussef, aprofundando a crise econômica e a sensação geral de que o avião estava sem piloto.
Como parte fundamental desse contexto, a insatisfação da classe média formada por pessoas como o médico veterinário é vocalizada e incentivada por uma imprensa cada vez mais comprometida ideologicamente com a restauração do ancién regime, travestido de “rumo certo para a economia”. A desagregação parlamentar se acentua e o impeachment se torna inevitável. Na ausência de provas mais robustas, a acusação contra Dilma recai sobre uma “manobra fiscal” e se fortalece a tese de que o Partido dos Trabalhadores tinha um projeto de perpetuação do poder vocacionado para a corrupção.
Nessa conjuntura de perseguição, setores específicos da burguesia brasileira incentivados pelo governo petista são igualmente defenestrados, embora exista a suspeita de que jamais tenham entendido a importância estratégica do que estava em jogo, na medida que não só permitiram como incentivaram a manutenção do velho jogo da corrupção com todos os partidos políticos. No lugar dessas empresas, que ganharam musculatura e conquistaram mercados internacionais, aparecem e reaparecem agora os seletos e previsíveis grupos transnacionais, especialmente nas áreas de petróleo, gás e engenharia pesada.
As consequências desse momento de transição são visíveis e muito reais no cotidiano da população pelo aumento do desemprego e da queda da renda. Quando um governo legitimamente eleito é deposto numa ação coordenada do parlamento, da Justiça, do empresariado e da mídia comercial, nem é preciso o uso ostensivo das fardas e das armas. A espinha dorsal da institucionalidade é quebrada e a nação entra no “vale-tudo”, numa espécie de explosão das principais mazelas do pensamento colonial ainda vigente. Não é à toa que se forma um ministério de homens brancos, os direitos sociais são ameaçados e extintos em sequencia por um parlamento notoriamente corrupto, a violência e o retrocesso contra as conquistas de indígenas, negros, mulheres e movimentos identitários aumenta assustadoramente e a economia vai de mal a pior enquanto os comentaristas de sempre se esmeram em dizer que “o pior já passou”.
Não, infelizmente não. O pior está por vir. Para garantir a volta da economia que separa as pessoas certas das pessoas erradas muitas “maldades” serão feitas. A reforma da Previdência é uma delas. A aprovação da terceirização, da forma assodada como foi feita, é outra.
Por isso, não há nenhuma incoerência entre a defesa da moral e do caráter do médico veterinário e as medidas que estão sendo adotadas pelo atual governo, cuja transitoriedade exige a aplicação de retrocessos a toque de caixa. A bem da verdade, nenhum governo seria eleito com uma pauta tão cruel.
O cenário de curto prazo não permite afirmar que haverá uma estabilidade social por conta de que o sentimento de que as coisas não estão caminhando bem começa a crescer na sociedade, mesmo entre aqueles setores da classe média que foram às ruas pedir a deposição de Dilma Roussef. Embora as consequencias dos retrocessos sociais na vida econômica do cidadão comum ainda não estejam visíveis, é certo que a sensação de insegurança perdura e as projeções sempre otimistas da grande imprensa para a economia não são capazes de restaurar a confiança no futuro.
A espetacularização da Operação Carne Fraca mostrou a outra face do impeachment, que já vem se espelhando também nas arbitrariedades seletivas de procuradores e juízes que atuam na Lava Jato. Sem liderança institucional, grupos mais arredios à democracia usam as estruturas do Estado a qual pertencem para tomar suas próprias decisões, normalmente de inspiração autoritária, pouco importando se são equivocadas ou se provocam estragos na economia e na vida de milhões de pessoas. É a disputa pura e simples pelo poder de mandar, de preferência com holofotes. Nisso, a ética e o caráter do funcionário da Seara pouco diferem daquilo que pensa o delegado da Polícia Federal, Maurício Moscardi Grillo, que por acaso é também o coordenador da PF na Operação Lava Jato, e o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou a operação.
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