quinta-feira, 23 de março de 2017

Eduardo Cunha, o zumbi do golpe

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Monica Bergamo diz, hoje, em sua coluna na Folha, que a reação de Eduardo, em caso de derrota em seu pedido de liberdade ao Supremo Tribunal Federal, é considerada “imprevisível” por seus advogados.

Com o devido perdão da Monica, não há nada de imprevisível: é mais uma ameaça de Eduardo Cunha para que os cordéis se movam e tentem forçar uma decisão que – embora não seja impossível e fosse, até, o normal num processo criminal – implicaria numa desmoralização ainda maior da corte, agora sob acusações impensáveis em tempos normais, como as de “disenteria verbal e decrepitude moral”.

Porque, desde que Sérgio Moro passou a se mover com a desenvoltura que a atuação criminosa da mídia e o misto de covardia e ódio ideológico lhe permitiram, o método de investigação, neste país, tem sido um só. É meter o gajo na cadeia até que ele transacione uma delação que lhe dê penas miúdas e em troca de versões que permitam aos senhores do Ministério Público e seus mastins policiais partirem em busca de outros, os que desejam, embora no caminho vão surgindo outras presas colaterais.

Com outros métodos, reconheça-se que não sangrentos, é o mesmo do “pendura esse sujeito aí até que ele confesse” dos tristes tempos do regime autoritário. Aceitou-se que a prisão passasse a ser não um instrumento de proteção da sociedade e do processo para ser o meio supremo de obtenção de prova, ou daquilo que será construído como prova.

E a caixa que o ex-presidente da Câmara são os intestinos do golpe de Estado, certamente informações – embora não interessem – sobre como se urdiu a derrubada de um governo eleito.

Cunha, portanto, é uma sobra, um zumbi do golpe, i qual se deixou livre para sua obra de contaminação da democracia, até que se prestasse a fazer o impeachment, execução dos desejos de seus mandantes. É a ele, e a mais ninguém, que se destinam os reclamos contra “as alongadas prisões de Curitiba, que a outros se permitiram e prolongaram sem nenhuma consideração jurídica sobre os meios, apenas aos fins que os “justificavam”.

Não foi assim que a 2ª instância aprovou, por 13 votos a um, as violências praticadas contra Lula? “Situações especiais exigem soluções especiais”.

Cunha, o zumbi, agora é um problema e uma ameaça. Custará caro, politicamente – mas não só – arranjar-lhe uma sepultura, digo, uma tornozeleira eletrônica, mas não é impossível. E certamente é necessário.

Um comentário:

  1. MARIA DE LOURDES SANTANA FERNANDES23 de março de 2017 às 22:11

    O que faz a perversa sociedade capitalista é o que apresenta com muita clareza a bela reflexão do autor . O inconsciente coletivo vai navegando ao bel prazer dos quesitos , ao que o sistema de exclusão nos impõe . é como um mantra ao avesso , repetindo o que se deve fazer para não ficar a margem . Não há espaço , para se pensar em alternativas , nem coragem para tal , pois, o sistema é truculento e nos leva a remar ao encontro do que é natural em diversos momentos em que se apresenta as pressões na vida dentro do sistema capitalista . Muitas vezes nos vemos gados solitários na busca de nos afirmarmos enquanto pessoa , para sobreviver a estes contextos que não nos dá margem para nos afirmarmos . somos ovelhas servis aos seus senhorios do poder econômico , político , social e cultural

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