domingo, 5 de março de 2017

Henrique Alves: sortudo ou vigarista?

Por Altamiro Borges

O cinismo dos golpistas não tem mais limites. Blindados pela mídia chapa-branca e protegidos por setores do Judiciário, eles abusam da paciência dos brasileiros – inclusive dos “coxinhas” que serviram de massa de manobra para o impeachment de Dilma. Na semana passada, o Ministério Público Federal revelou que encontrou US$ 833 mil – o equivalente a 2,5 milhões de reais – em uma conta na Suíça em nome de Henrique Alves, um dos líderes do golpe dos corruptos que alçou Michel Temer ao poder. Diante da descoberta, o velhaco afirmou apenas que “desconhecia” o volumoso depósito e que “terceiros” movimentaram o dinheiro sem o seu conhecimento. Ou ele é muito sortudo ou é um autêntico vigarista!

Segundo nota do Jornal do Brasil, postada na quinta-feira (2), “o ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou em defesa apresentada à Justiça Federal de Brasília que desconhece os US$ US$ 832.975,98 depositados em uma conta bancária na Suíça. Segundo Alves, terceiros depositaram e movimentaram o dinheiro sem o conhecimento dele. Contudo, ele admitiu ser o ‘beneficiário’ da conta. Segundo o Ministério Público, isso significa que o ex-ministro é o titular da conta. Investigação da Lava-Jato aponta que o dinheiro foi depositado em três datas, entre outubro e dezembro de 2011. Alves disse que utilizou um escritório de advocacia do Uruguai para abrir a conta na Suíça em 2008”.

O escândalo não mereceu manchetes nos jornalões e nem comentários ácidos nas emissoras de rádio e televisão. O juiz Sergio Moro, chefão da Lava-Jato, também não se manifestou. Na prática, a mídia golpista e vários aparatos do Estado – como o Ministério Público, a Polícia Federal e o próprio Supremo Tribunal Federal – não estão muito preocupados com a ética. O objetivo maior da midiática Lava-Jato sempre foi o de derrubar a presidenta eleita e inviabilizar uma nova candidatura de Lula. Sergio Moro hoje mais se parece com um advogado de defesa de Michel Temer. A quadrilha que assaltou o poder segue impune, o que explica o cinismo de Eduardo Alves. O triste é que muitos “midiotas” ainda acreditam nesta falsa cruzada ética.

Aliado de Cunha e compadre de Temer

Para quem já esqueceu, o “sortudo” da conta na Suíça foi o terceiro homem de confiança de Michel Temer a ser defecado do covil golpista – depois de Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência). Em junho do ano passado, após o vazamento de delações que evidenciaram a sua participação nos esquemas de propinas da Petrobras, Henrique Alves pediu demissão do Ministério do Turismo. Na sua carta de despedida, ele afirmou, na maior caradura, que deixava o covil como “um gesto pessoal em prol do bem maior” e agradeceu ao compadre Michel Temer pela “lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida partidária”. E concluiu: “A sua, a minha, a nossa luta continuam” – inclusive com depósitos bancários na Suíça.

Em sua delação premiada, o lobista Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, garantiu que repassou ao ministro R$ 1,5 milhão em propina entre 2008 e 2014. Na ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou a denúncia ao STF e disse que parte desta grana abasteceu a campanha de Henrique Alves ao governo potiguar em 2014, quando ele foi derrotado. A negociata teria envolvido diretamente o correntista suíço Eduardo Cunha – seu fiel aliado em negócios suspeitos – e o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro. O conluio beneficiou as empreiteiras no parlamento, tendo como contrapartida as doações ilegais. O escândalo, porém, logo caiu no esquecimento – para a alegria do sortudo da conta milionária na Suíça.

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