sábado, 4 de março de 2017

Os reflexos da eleição no Equador

Por Mário Augusto Jakobskind, no jornal Brasil de Fato:

Uma semana depois da realização do primeiro turno presidencial do Equador, o candidato Lenin Moreno, que pretende levar adiante a Revolução Cidadã do Presidente Rafael Correa, aparece com 18 pontos na frente do candidato da direita, o banqueiro Guillermo Lasso. Moreno não chegou a 40% dos votos - o que lhe daria a vitória no primeiro turno - por uma pequena fração (0,7%).

Pelo resultado da pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa Social, o candidato Lenin Moreno obteve 59%, enquanto Lasso ficou com 41%. Para muitos observadores dificilmente haverá alguma reversão no resultado do segundo turno a se realizar no dia 2 de abril próximo.

A direita equatoriana, com o apoio da direita continental, que tem grandes espaços na mídia comercial conservadora, tentará de todas as formas fazer o jogo de Lasso, porque não se conforma com uma possível vitória do candidato de Rafael Correa.

Por estas e outras é preciso acompanhar com muita atenção a cobertura sobre o desenrolar do segundo turno equatoriano. A mídia comercial conservadora fará de tudo e muito mais para queimar a imagem de Lenin Moreno e tentar jogar mentiras e meias verdades sobre as gestões do presidente Correa.

O esquema Globo e demais veículos subordinados ao grupo Diário das Américas vão dedicar páginas e páginas, além de acionar os colunistas de sempre para evitar a vitória consagradora de Lenin Moreno. Não é à toa que recentemente um editorial do jornal da família Marinho já se posicionou contra a Revolução Cidadã, que pode servir de exemplo positivo para muitos países, entre os quais o Brasil, que vivem em tempo de retrocesso social de fazer espécie.

Na verdade, a eleição equatoriana de dois de abril próximo terá reflexos na América Latina. Os equatorianos deverão decidir sobre duas propostas antagônicas, quais sejam o avanço da Revolução Cidadã ou o esquema neoliberal de Lasso nos moldes do Brasil do usurpador Michel Temer e do argentino Maurício Macri.

É por aí também que se pode entender melhor o motivo pelo qual a mídia comercial conservadora tenta de todas as formas dar uma sobrevida a Guilherme Lasso, que as primeiras pesquisas indicam a vitória de Lenin Moreno por ampla margem. É claro também que dificilmente a mídia comercial divulgará o resultado com a diferença acentuada em favor de Moreno. O primeiro pretexto neste momento é de que em pleno Carnaval, o tema segundo turno presidencial equatoriano se perde ao sabor da folia. Mas resta saber qual será o espaço que será dado ao tema mencionado durante o mês de março com o advento de novas pesquisas confirmando os percentuais da divulgada neste momento.

Aliás, o Carnaval serve também para justificar o fato das mais recentes denúncias envolvendo o Ministro Chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha saírem do foco do noticiário. Vale então outra pergunta que não quer calar: políticos do PSDB que estão sendo acusados por delatores na Lava Jato, no Carnaval ou fora da festa, simplesmente não ganham repercussão na mídia comercial conservadora. Qual o motivo?

Como o Carnaval terminou na quarta-feira, espera-se que o noticiário volte com novas informações, independente dos protagonistas serem deste ou daquele partido, sobretudo do PSDB, visivelmente poupado ao longo do tempo pelo noticiário diário.

* Mário Augusto Jakobskindi é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor, autor, entre outros livros de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.

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