terça-feira, 11 de abril de 2017

A "nova" direita machista

Por Cynara Menezes, na revista Caros Amigos:

A misoginia e o machismo são duas características indissociáveis da “nova” direita em ascensão no mundo inteiro. A atitude depreciativa em relação à mulher, sobretudo às feministas, pode ser observada em cada discurso, em cada decisão, em cada projeto apresentado pelos reacionários que estão chegando aos governos, graças aos votos de cidadãos e cidadãs incautos.

Mesmo antes de assumir o cargo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já era denunciado por tratar mulheres como objeto. Várias acusações de assédio sexual vieram à tona durante a campanha eleitoral, além de um vídeo de 2005 onde Trump fazia comentários ofensivos. Ele contava a um apresentador de TV como “partiu para cima” de uma mulher casada, que lamentou “não ter conseguido comer”.

“Sou automaticamente atraído por mulheres bonitas”, disse o homem que se tornaria presidente da nação mais poderosa do planeta. “Desato a beijá-las, é como um ímã. E quando se é uma estrela elas deixam você fazer isso. Você pode fazer o que quiser com elas, até agarrá-las pela xoxota”. A frase “grab them by the pussy” virou um símbolo do direitista Trump e da maneira como ele enxerga as mulheres.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, já foi flagrado diversas vezes fazendo piadinhas machistas. Em um vídeo de 2014, quando era prefeito de Buenos Aires, dizia: “todas as mulheres gostam de cantadas, por mais que digam a elas alguma grosseria, como ‘que bunda linda você tem’. Sem problemas”. As próprias propagandas oficiais do governo Macri são acusadas de machismo, ao mostrar mulheres apenas no papel de donas-de-casa, como o presidente falou que é tradição em sua família.

Outro traço em comum aos governos da “nova” direita é a formação de gabinetes com nenhuma ou quase nenhuma mulher. Aconteceu com Trump, com Macri e, no Brasil, com o presidente golpista Michel Temer. O traidor Temer não arrancou apenas uma mulher do poder, arrancou várias: empossado presidente, o vice de Dilma tinha 24 homens no ministério, todos brancos, ainda por cima. Criticado, o ilegítimo acabou colocando uma mulher na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e, mais recentemente, outra mulher, negra, num ministério de nome idêntico. Ou seja, as duas mulheres estão lá somente para melhorar a imagem de Temer.
Além disso, não há como menosprezar o papel que o machismo teve no impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Dilma foi criticada, primeiro, por ser mulher; e em segundo lugar, por sua competência (ou falta dela) à frente do governo. Muitos dos cartazes empunhados nos protestos contra a presidenta reeleita por 54 milhões de brasileiros tinham conteúdo misógino. Nas ruas e nas redes, Dilma era chamada de “puta”, “vaca”, “gorda”, “quenga”. O que isso tem a ver com sua atuação no cargo?

Agora é a reforma da Previdência de Temer que ameaça as mulheres. Todo mundo sabe que a mulher tem, desde a infância, jornada dupla (e às vezes tripla): cuida da casa e dos filhos e trabalha fora. Aposentar antes não é um privilégio e sim uma questão de fazer justiça. Com a reforma, todos os especialistas apontam que as mulheres serão mais prejudicadas do que os homens. Questionado, o secretário da Previdência do Ministério da Fazenda de Temer respondeu: “Se a proposta é machista, o mundo todo é”. Sob Temer, virou prática de governo normalizar o machismo e a misoginia, com posturas do século passado. 

O ministro da Saúde do governo ilegítimo ignora que as mulheres comandam 40% dos lares brasileiros ao declarar que “os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias”. Fica cada vez mais evidente que a “ponte para o futuro” de Temer é uma ponte para o atraso. O que dizer daquele candidato a presidente da República que virou réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de incitação ao estupro, por ter dito a uma colega, em pleno parlamento, que só não a estupraria porque ela “não merecia” ser estuprada? E pensar que tem mulheres que apoiam este energúmeno... Vítimas, elas próprias, sem o saber, do machismo intrínseco da direita.

Mas e Marine Le Pen, que ameaça chegar à presidência da França pela extrema-direita, acaso não é mulher? – me perguntarão. Ora, Marine é a exceção que confirma a regra. As mulheres de direita infelizmente se destacam por, antes de qualquer coisa, negar o feminismo, como se elas não fossem resultado das lutas feministas. Toda mulher livre é feminista, quer ela saiba ou não. Só que, para ser de direita, a mulher tem que se posicionar contrária ao feminismo e suas lutas, como a descriminalização do aborto. Com isso, a mulher de direita se submete ao que o homem de direita quer. Todo um contrassenso. 

Não é à toa que vemos surgir nas redes jovens rapazes agressivamente antifeministas. A influência da direita tem sido nefasta sobre esta geração, a ponto de vários estudos mostrarem que muitos jovens homens de hoje são mais machistas do que seus pais de meia idade. Pior: eles se sentem desconfortáveis em ser liderados por mulheres, não suportam ser superados em suas carreiras pelas companheiras, menosprezam as diferenças salariais entre os gêneros no trabalho e subestimam a capacidade das colegas na universidade. Com este perfil, não é surpresa ver que tipo de gente está sendo eleita para governar em nome da direita. Gente que se apresenta como “moderna”, mas que tem a cabeça mais arcaica que os seus avós. São jovens por fora e mofados por dentro.

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