Por Débora Melo, na revista CartaCapital:
João Doria (PSDB) completa 100 dias como prefeito de São Paulo nesta segunda-feira 10.
Com pouco tempo de governo e uma estratégia agressiva de marketing, o empresário tem sido apontado como potencial candidato tucano às eleições presidenciais de 2018 e, embora prometa “lealdade” ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), admite que sua popularidade é, hoje, maior que a de seu padrinho político.
Pesquisa Datafolha divulgada no sábado 8 aponta que 43% dos moradores da cidade de São Paulo aprovam a gestão Doria, o que representa um recorde na comparação com todos os antecessores, diz o instituto.
Comunicador experiente, treinado em programas de TV, o tucano se transformou em um fenômeno das redes sociais. O rótulo de “trabalhador” que colou durante a campanha eleitoral ganha força a cada nova aparição do prefeito fantasiado de gari ou de agente da CET.
Os passos de Doria são registrados por uma equipe própria, e os vídeos do prefeito em ação são compartilhados diariamente com 2,4 milhões de seguidores, sempre acompanhados de hashtags como #JoaoTrabalhador e #AceleraSP.
O choque de marketing pode, no entanto, não ser suficiente para sustentar a popularidade do prefeito no longo prazo. O levantamento do Datafolha mostra que a insatisfação do paulistano tem aumentado com o passar dos dias. Se no início de fevereiro 13% avaliavam a gestão como ruim ou péssima, hoje esse índice saltou para 20%.
Uma entrevista ao vivo exibida por um telejornal da Rede Globo na manhã do último dia 7 resume bem este momento da atual gestão. Após fortes chuvas, a cidade de São Paulo amanhecia debaixo d´água naquela sexta-feira.
Ao entrevistar um motorista que havia resgatado o próprio carro com a ajuda de amigos, o repórter perguntou: “Cansou de esperar e resolveu trazer o carro por conta própria?”. O motorista, então, respondeu: “Esperar o Doria trazer o rodinho para puxar a água?”.
Em março, o prefeito anunciou que os 30 milhões de reais destinados a ações de combate a enchentes e à construção de terminais de ônibus e de uma ponte seriam, na verdade, remanejados para a Secretaria de Desestatização e Parcerias, criada em sua gestão.
O pacote de privatizações é prioridade para o prefeito, que espera ver as medidas aprovadas pela Câmara Municipal até o final de maio. Entre as propostas está a “desestatização” de equipamentos públicos como o Estádio do Pacaembu, o Autódromo de Interlagos, o Centro de Convenções Anhembi e mercados e parques como o Ibirapuera.
Promessas
As promessas de Doria têm sido cumpridas, para o bem e para o mal. Dois meses após o aumento da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, uma de suas principais bandeiras de campanha, o número de acidentes com vítimas aumentou.
A administração tucana divulgou os números de dois períodos após a mudança: de 25 de janeiro até 23 de fevereiro, quando foram registrados 102 acidentes com vítimas; e de 24 de fevereiro até 26 de março, com 117 acidentes.
A média de 2016, com as velocidades reduzidas, foi de 64 acidentes por mês. Implantada em julho de 2015 pela gestão Fernando Haddad (PT), a impopular redução da velocidade acompanhou o movimento de diversas metrópoles do mundo em prol da redução da letalidade do trânsito.
Doria afirma, porém, que o aumento do número de acidentes se deve à maior presença de agentes de trânsito nas vias – de 45 para 75 –, o que teria elevado o registro de ocorrências.
O prefeito também prometeu zerar a fila de espera para a realização de exames médicos na rede municipal, e gosta de dizer que seu Corujão da Saúde bateu a meta em um período de três meses, com a realização de 342 mil procedimentos.
O programa do prefeito, no entanto, só atende pedidos feitos até dezembro de 2016, e os pacientes que procuraram as unidades de saúde a partir de janeiro deste ano foram colocados em segundo plano, formando uma nova fila. Para que a fila seja realmente zerada, é necessário atender a essas novas solicitações, e os médicos da rede pedem 110 mil novos exames, em média, por mês.
Dono de uma fortuna avaliada em 180 milhões de reais, o "gestor" tem ainda a sorte de poder contar com a “cidadania” das empresas, como ele mesmo diz. Segundo Doria, a iniciativa privada já doou mais de 256 milhões de reais em bens e serviços para a cidade. O tucano garante que não há contrapartidas, “nem agora, nem no futuro”, mas faz propaganda das colaboradoras em suas redes sociais.
O episódio mais controverso desse modelo de parceria se deu no dia 23 de março, durante jogo da seleção brasileira contra o Uruguai, em Montevidéu, quando placas eletrônicas do estádio Centenário exibiram a marca do Cidade Linda, programa de zeladoria de Doria.
O espaço publicitário foi cedido à gestão tucana pela farmacêutica Ultrafarma, do empresário Sidney de Oliveira, amigo de Doria, que doou medicamentos à prefeitura. No dia 11 de fevereiro, o prefeito já havia atuado como garoto-propaganda da Ultrafarma em uma divulgação nas redes sociais.
Em março, a Justiça de São Paulo negou um pedido de liminar em ação popular que pedia a proibição de doações à prefeitura. Em sua decisão, o juiz Danilo Mansano Barioni, da 1ª vara da Fazenda pública da capital, disse que, por enquanto, não há ilegalidade nas negociações.
“Não há dano, lesão ou ameaça de lesão concreta ou imediata a debelar.” Questionado pela Justiça, o Ministério Público Estadual também havia se manifestado contra o pedido de liminar.
Recentemente, Doria afirmou, por meio de seu perfil no Facebook, que aceitava uma oferta de doação de 5 mil livros do Instituto Mises, que leva o nome do austríaco Ludwig von Mises, neoliberal que defendia o Estado mínimo e é um dos ícones da nova direita brasileira.
Como entusiasta do movimento Escola sem Partido, pegou mal para o prefeito a possibilidade de que os livros fossem parar nos colégios, e a prefeitura afirmou que as doações, se concretizadas, irão para as bibliotecas.
O debate acerca da “doutrinação” está agora no centro da polêmica mais recente do governo tucano. Na semana passada, o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider (PSD), fez críticas públicas ao comportamento do vereador Fernando Holiday (DEM), do Movimento Brasil Livre (MBL) e aliado de Doria, que visitou escolas para “fiscalizar” eventual doutrinação ideológica à esquerda por parte dos professores.
Schneider repudiou a ação e, após ser confrontado pelo MBL, chegou a pedir demissão no sábado 8, mas o prefeito conseguiu mantê-lo no cargo. O impasse, no entanto, não está encerrado. Holiday e outros líderes do MBL exigem uma retratação do secretário, que, segundo eles, cometeu um equívoco ao dizer que o vereador estaria usando o mandato para “intimidar” professores.
Resta saber, agora, de que lado o prefeito João Doria vai ficar.
Com pouco tempo de governo e uma estratégia agressiva de marketing, o empresário tem sido apontado como potencial candidato tucano às eleições presidenciais de 2018 e, embora prometa “lealdade” ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), admite que sua popularidade é, hoje, maior que a de seu padrinho político.
Pesquisa Datafolha divulgada no sábado 8 aponta que 43% dos moradores da cidade de São Paulo aprovam a gestão Doria, o que representa um recorde na comparação com todos os antecessores, diz o instituto.
Comunicador experiente, treinado em programas de TV, o tucano se transformou em um fenômeno das redes sociais. O rótulo de “trabalhador” que colou durante a campanha eleitoral ganha força a cada nova aparição do prefeito fantasiado de gari ou de agente da CET.
Os passos de Doria são registrados por uma equipe própria, e os vídeos do prefeito em ação são compartilhados diariamente com 2,4 milhões de seguidores, sempre acompanhados de hashtags como #JoaoTrabalhador e #AceleraSP.
O choque de marketing pode, no entanto, não ser suficiente para sustentar a popularidade do prefeito no longo prazo. O levantamento do Datafolha mostra que a insatisfação do paulistano tem aumentado com o passar dos dias. Se no início de fevereiro 13% avaliavam a gestão como ruim ou péssima, hoje esse índice saltou para 20%.
Uma entrevista ao vivo exibida por um telejornal da Rede Globo na manhã do último dia 7 resume bem este momento da atual gestão. Após fortes chuvas, a cidade de São Paulo amanhecia debaixo d´água naquela sexta-feira.
Ao entrevistar um motorista que havia resgatado o próprio carro com a ajuda de amigos, o repórter perguntou: “Cansou de esperar e resolveu trazer o carro por conta própria?”. O motorista, então, respondeu: “Esperar o Doria trazer o rodinho para puxar a água?”.
Em março, o prefeito anunciou que os 30 milhões de reais destinados a ações de combate a enchentes e à construção de terminais de ônibus e de uma ponte seriam, na verdade, remanejados para a Secretaria de Desestatização e Parcerias, criada em sua gestão.
O pacote de privatizações é prioridade para o prefeito, que espera ver as medidas aprovadas pela Câmara Municipal até o final de maio. Entre as propostas está a “desestatização” de equipamentos públicos como o Estádio do Pacaembu, o Autódromo de Interlagos, o Centro de Convenções Anhembi e mercados e parques como o Ibirapuera.
Promessas
As promessas de Doria têm sido cumpridas, para o bem e para o mal. Dois meses após o aumento da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, uma de suas principais bandeiras de campanha, o número de acidentes com vítimas aumentou.
A administração tucana divulgou os números de dois períodos após a mudança: de 25 de janeiro até 23 de fevereiro, quando foram registrados 102 acidentes com vítimas; e de 24 de fevereiro até 26 de março, com 117 acidentes.
A média de 2016, com as velocidades reduzidas, foi de 64 acidentes por mês. Implantada em julho de 2015 pela gestão Fernando Haddad (PT), a impopular redução da velocidade acompanhou o movimento de diversas metrópoles do mundo em prol da redução da letalidade do trânsito.
Doria afirma, porém, que o aumento do número de acidentes se deve à maior presença de agentes de trânsito nas vias – de 45 para 75 –, o que teria elevado o registro de ocorrências.
O prefeito também prometeu zerar a fila de espera para a realização de exames médicos na rede municipal, e gosta de dizer que seu Corujão da Saúde bateu a meta em um período de três meses, com a realização de 342 mil procedimentos.
O programa do prefeito, no entanto, só atende pedidos feitos até dezembro de 2016, e os pacientes que procuraram as unidades de saúde a partir de janeiro deste ano foram colocados em segundo plano, formando uma nova fila. Para que a fila seja realmente zerada, é necessário atender a essas novas solicitações, e os médicos da rede pedem 110 mil novos exames, em média, por mês.
Dono de uma fortuna avaliada em 180 milhões de reais, o "gestor" tem ainda a sorte de poder contar com a “cidadania” das empresas, como ele mesmo diz. Segundo Doria, a iniciativa privada já doou mais de 256 milhões de reais em bens e serviços para a cidade. O tucano garante que não há contrapartidas, “nem agora, nem no futuro”, mas faz propaganda das colaboradoras em suas redes sociais.
O episódio mais controverso desse modelo de parceria se deu no dia 23 de março, durante jogo da seleção brasileira contra o Uruguai, em Montevidéu, quando placas eletrônicas do estádio Centenário exibiram a marca do Cidade Linda, programa de zeladoria de Doria.
O espaço publicitário foi cedido à gestão tucana pela farmacêutica Ultrafarma, do empresário Sidney de Oliveira, amigo de Doria, que doou medicamentos à prefeitura. No dia 11 de fevereiro, o prefeito já havia atuado como garoto-propaganda da Ultrafarma em uma divulgação nas redes sociais.
Em março, a Justiça de São Paulo negou um pedido de liminar em ação popular que pedia a proibição de doações à prefeitura. Em sua decisão, o juiz Danilo Mansano Barioni, da 1ª vara da Fazenda pública da capital, disse que, por enquanto, não há ilegalidade nas negociações.
“Não há dano, lesão ou ameaça de lesão concreta ou imediata a debelar.” Questionado pela Justiça, o Ministério Público Estadual também havia se manifestado contra o pedido de liminar.
Recentemente, Doria afirmou, por meio de seu perfil no Facebook, que aceitava uma oferta de doação de 5 mil livros do Instituto Mises, que leva o nome do austríaco Ludwig von Mises, neoliberal que defendia o Estado mínimo e é um dos ícones da nova direita brasileira.
Como entusiasta do movimento Escola sem Partido, pegou mal para o prefeito a possibilidade de que os livros fossem parar nos colégios, e a prefeitura afirmou que as doações, se concretizadas, irão para as bibliotecas.
O debate acerca da “doutrinação” está agora no centro da polêmica mais recente do governo tucano. Na semana passada, o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider (PSD), fez críticas públicas ao comportamento do vereador Fernando Holiday (DEM), do Movimento Brasil Livre (MBL) e aliado de Doria, que visitou escolas para “fiscalizar” eventual doutrinação ideológica à esquerda por parte dos professores.
Schneider repudiou a ação e, após ser confrontado pelo MBL, chegou a pedir demissão no sábado 8, mas o prefeito conseguiu mantê-lo no cargo. O impasse, no entanto, não está encerrado. Holiday e outros líderes do MBL exigem uma retratação do secretário, que, segundo eles, cometeu um equívoco ao dizer que o vereador estaria usando o mandato para “intimidar” professores.
Resta saber, agora, de que lado o prefeito João Doria vai ficar.
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