Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Por trás da fumaça que vem do Tribunal Superior Eleitoral (o TSE, como se sabe, decidiu adiar o julgamento da chapa Dilma-Temer, oferecendo sobrevida ao moribundo consórcio Temer/PMDB/PSDB) e de Curitiba (a Lava-Jato se consolida como um Tribunal de Exceção, conduzido por um juiz desequilibrado que manda prender blogueiro), alguns movimentos quase imperceptíveis no mundo da política indicam que o cenário mudou.
O fato político mais importante dos últimos 10 dias não foi, tampouco, a capa da “Veja”, que indica Aécio Neves no mesmo caminho trilhado por Carlos Lacerda em 64: implorou pelo golpe, achando que herdaria o poder, e terminou cassado pelo processo que ajudou a fomentar. Aécio é um cadáver, e será devorado, mas deixemos os mortos vivos em paz… O fato mais importante foi outro: a declaração enfática de Nelson Jobim (ex-ministro do STF, mas que é sobretudo um peemedebista com trânsito no PT e no PSDB) defendendo que “proibir Lula de ser candidato é fazer o que fizeram os militares”.
A frase de Jobim indica que a parte mais lúcida da elite política e empresarial já percebeu o óbvio: impedir Lula de ser candidato, no tapetão, como pretendem os celerados de Curitiba, teria um duplo caráter desestabilizador.
Significaria, primeiro, cassar a voz e a representação de algo entre 30% e 40% dos brasileiros – índice que Lula alcança nas pesquisas de opinião para a eleição (?) de 2018; sem voz pela via institucional, parte desse setor poderia partir para a confrontação “por fora” do sistema político; Lula candidato significa estabilidade, significa os movimentos sociais e a esquerda “por dentro” da política.
Mas a prisão (ou cassação) de Lula seria trágica também para a direita “liberal”, digamos assim; sem Lula na disputa, o próprio PSDB e seus satélites na mídia, na internet e na Justiça perderiam a razão de ser.
Não é à toa que nas últimas semanas certo blogueiro, que durante anos ajudou a fomentar o ódio contra Lula e o PT, assumiu posição mais moderada – criticando os “exageros” de Moro e dos camisas negras de Curitiba. Da mesma forma, o (por assim dizer) ministro do STF Gilmar Mendes passou a criticar os abusos da Lava-Jato.
Pensemos um pouco: se Lula, que tem 30% a 40% dos votos, for impedido de concorrer por um juiz de primeira instância (a sentença teria que ser confirmada no TRF-4, que já deu mostras de endossar o tribunal de exceção da Lava-Jato), esse ato significaria o desmonte não do lulo-petismo, mas do próprio sistema político.
Se a Justiça, numa canetada e sem provas consistentes, pode impedir um candidato com 30% a 40% dos votos, pra que serviriam o PSDB, o Reinaldo Azevedo, o Gilmar Mendes e os demais satélites tucanos?
“Não existe Salieri sem Mozart”, dizia um velho amigo já em 2013. O invejoso compositor Salieri era o grande rival do gênio Mozart no século XVIII; a razão de ser de Salieri era oferecer um contraponto ao tempestuoso e polêmico Mozart. Se o “juizeco de primeira instância” (como diz Renan Calheiros) puder barrar Lula, significa que ele tem poder para tudo. E aí o PSDB será arrastado junto. Perderá a função de representar setores médios que, desde 2013, se deslocaram do centro para a direita.
As pesquisas indicam que os tucanos já claudicam nas pesquisas, abaixo de 15%. Estão mais chamuscados que Lula, na medida em que se tornaram sócios do pior governo da história brasileira, desde Washington Luiz. Hoje, o país já se divide claramente entre a política (ou seja, a ideia de que o Estado organizado pode, e deve, ser o condutor da Nação) e um discurso anti-política que resvala para o autoritarismo (Bolsonaro, Dória e Luciano Huck são oportunistas e aventureiros que tentam surfar nessa onda).
A centro-direita menos obtusa já compreendeu o perigo que significa barrar Lula. Seria um suicídio da política. Seria caminho para a aventura despótica.
Renan Calheiros, odiado e desprezado por tantos, também já percebeu que Lula é o fator de estabilidade não só da centro-esquerda. Mas da própria ideia de que é possível concorrer sob regras gerais e respeitar a vitória do adversário.
No velório de Dona Marisa, sob o grito bestial da direita extremada que comemorava a morte da ex-primeira dama, FHC e Gilmar emitiram sinais a Lula de que o jogo, sem o líder petista, pode ficar perigoso demais. Sobre isso, vale a pena ler essa reportagem – http://brasileiros.com.br/2017/02/fhc-e-gilmar-mendes-sinalizam-dialogo-com-lula/
O mundo dos sonhos da direita liberal inclui Lula na urna em 2018: sob ataque, contestado, bombardeado… Mas candidato. Um Lula “para perder” e legitimar o sistema político: essa a aposta do setor menos tresloucado da direita, que percebe os perigos embutidos na Lava-Jato.
Um Lula com 40% dos votos no segundo turno, derrotado por um candidato “liberal” – da mesma forma que em 94 e 98. Esse o roteiro de reinaldos, gilmares e fhcs. Mas falta combinar com bolsonaros, joyces, mbls e suas falanges…
São duas variantes da direita. A segunda variante incensa Moro e não aceita nada menos do que Lula preso, humilhado, barrado, não importa o mal que isso possa significar para a democracia. Se essa variante sair vitoriosa, a primeira variante (tucana, mais “liberal”) perde a razão de existir. E esse quadro está prestes a se consolidar, lançando o PSDB como um todo no mesmo lamaçal em que já chafurda o morto-vivo Aécio Neves.
Se a variante extremista sair vitoriosa, o que pode vir é uma república comandada por camisas negras. Eles sonham em trucidar Lula para, logo depois, usurpar todo o poder, eliminando também tucanos et caterva (quem não se lembra da frase de Danton, ao ser conduzido à guilhotina pelo terror da Revolução Francesa: “o que me conforta, Robespierre, é que depois de mim virá você”; e a previsão se cumpriu).
Não nos iludamos: a aliança da Lava-Jato com o PSDB foi tática. Existe um “partido da justiça e da polícia”, e esse partido pode evoluir para a eleição de um juiz, ou de um extremista que saiba manipular os signos da anti-politica.
Lula é o único que, por dentro da política, tem ainda força e legitimidade para enfrentar a matilha extremista.
Esse o sinal emitido por Jobim que, com esse movimento, também tenta se viabilizar como alternativa “pacificadora”, numa eventual eleição indireta, se Temer não sobreviver ao TSE. Jobim pode ser a “transição” para se chegar a 2018. Acontece que o PSDB queimou quase todas as pontes, fomentou ódio demais, e agora não consegue guardar o fascismo na garrafa.
A direita “liberal” achou que usaria os extremistas para destruir o PT e finalmente ocupar o poder após quatro derrotas. Mas, hoje, começa a perceber que precisa de Lula para conter o extremismo.
Lula é fator de estabilidade para a Democracia. Jobim e Gilmar talvez sonhem com um Lula “pra perder”. Mas falta combinar, primeiro, com os camisas negras que querem prender e trucidar o petista; e, depois, com os eleitores que podem levá-lo de volta ao poder, se a Democracia resistir até 2018.
É por essa estreita passagem que vamos caminhar nos próximos meses…
Por trás da fumaça que vem do Tribunal Superior Eleitoral (o TSE, como se sabe, decidiu adiar o julgamento da chapa Dilma-Temer, oferecendo sobrevida ao moribundo consórcio Temer/PMDB/PSDB) e de Curitiba (a Lava-Jato se consolida como um Tribunal de Exceção, conduzido por um juiz desequilibrado que manda prender blogueiro), alguns movimentos quase imperceptíveis no mundo da política indicam que o cenário mudou.
O fato político mais importante dos últimos 10 dias não foi, tampouco, a capa da “Veja”, que indica Aécio Neves no mesmo caminho trilhado por Carlos Lacerda em 64: implorou pelo golpe, achando que herdaria o poder, e terminou cassado pelo processo que ajudou a fomentar. Aécio é um cadáver, e será devorado, mas deixemos os mortos vivos em paz… O fato mais importante foi outro: a declaração enfática de Nelson Jobim (ex-ministro do STF, mas que é sobretudo um peemedebista com trânsito no PT e no PSDB) defendendo que “proibir Lula de ser candidato é fazer o que fizeram os militares”.
A frase de Jobim indica que a parte mais lúcida da elite política e empresarial já percebeu o óbvio: impedir Lula de ser candidato, no tapetão, como pretendem os celerados de Curitiba, teria um duplo caráter desestabilizador.
Significaria, primeiro, cassar a voz e a representação de algo entre 30% e 40% dos brasileiros – índice que Lula alcança nas pesquisas de opinião para a eleição (?) de 2018; sem voz pela via institucional, parte desse setor poderia partir para a confrontação “por fora” do sistema político; Lula candidato significa estabilidade, significa os movimentos sociais e a esquerda “por dentro” da política.
Mas a prisão (ou cassação) de Lula seria trágica também para a direita “liberal”, digamos assim; sem Lula na disputa, o próprio PSDB e seus satélites na mídia, na internet e na Justiça perderiam a razão de ser.
Não é à toa que nas últimas semanas certo blogueiro, que durante anos ajudou a fomentar o ódio contra Lula e o PT, assumiu posição mais moderada – criticando os “exageros” de Moro e dos camisas negras de Curitiba. Da mesma forma, o (por assim dizer) ministro do STF Gilmar Mendes passou a criticar os abusos da Lava-Jato.
Pensemos um pouco: se Lula, que tem 30% a 40% dos votos, for impedido de concorrer por um juiz de primeira instância (a sentença teria que ser confirmada no TRF-4, que já deu mostras de endossar o tribunal de exceção da Lava-Jato), esse ato significaria o desmonte não do lulo-petismo, mas do próprio sistema político.
Se a Justiça, numa canetada e sem provas consistentes, pode impedir um candidato com 30% a 40% dos votos, pra que serviriam o PSDB, o Reinaldo Azevedo, o Gilmar Mendes e os demais satélites tucanos?
“Não existe Salieri sem Mozart”, dizia um velho amigo já em 2013. O invejoso compositor Salieri era o grande rival do gênio Mozart no século XVIII; a razão de ser de Salieri era oferecer um contraponto ao tempestuoso e polêmico Mozart. Se o “juizeco de primeira instância” (como diz Renan Calheiros) puder barrar Lula, significa que ele tem poder para tudo. E aí o PSDB será arrastado junto. Perderá a função de representar setores médios que, desde 2013, se deslocaram do centro para a direita.
As pesquisas indicam que os tucanos já claudicam nas pesquisas, abaixo de 15%. Estão mais chamuscados que Lula, na medida em que se tornaram sócios do pior governo da história brasileira, desde Washington Luiz. Hoje, o país já se divide claramente entre a política (ou seja, a ideia de que o Estado organizado pode, e deve, ser o condutor da Nação) e um discurso anti-política que resvala para o autoritarismo (Bolsonaro, Dória e Luciano Huck são oportunistas e aventureiros que tentam surfar nessa onda).
A centro-direita menos obtusa já compreendeu o perigo que significa barrar Lula. Seria um suicídio da política. Seria caminho para a aventura despótica.
Renan Calheiros, odiado e desprezado por tantos, também já percebeu que Lula é o fator de estabilidade não só da centro-esquerda. Mas da própria ideia de que é possível concorrer sob regras gerais e respeitar a vitória do adversário.
No velório de Dona Marisa, sob o grito bestial da direita extremada que comemorava a morte da ex-primeira dama, FHC e Gilmar emitiram sinais a Lula de que o jogo, sem o líder petista, pode ficar perigoso demais. Sobre isso, vale a pena ler essa reportagem – http://brasileiros.com.br/2017/02/fhc-e-gilmar-mendes-sinalizam-dialogo-com-lula/
O mundo dos sonhos da direita liberal inclui Lula na urna em 2018: sob ataque, contestado, bombardeado… Mas candidato. Um Lula “para perder” e legitimar o sistema político: essa a aposta do setor menos tresloucado da direita, que percebe os perigos embutidos na Lava-Jato.
Um Lula com 40% dos votos no segundo turno, derrotado por um candidato “liberal” – da mesma forma que em 94 e 98. Esse o roteiro de reinaldos, gilmares e fhcs. Mas falta combinar com bolsonaros, joyces, mbls e suas falanges…
São duas variantes da direita. A segunda variante incensa Moro e não aceita nada menos do que Lula preso, humilhado, barrado, não importa o mal que isso possa significar para a democracia. Se essa variante sair vitoriosa, a primeira variante (tucana, mais “liberal”) perde a razão de existir. E esse quadro está prestes a se consolidar, lançando o PSDB como um todo no mesmo lamaçal em que já chafurda o morto-vivo Aécio Neves.
Se a variante extremista sair vitoriosa, o que pode vir é uma república comandada por camisas negras. Eles sonham em trucidar Lula para, logo depois, usurpar todo o poder, eliminando também tucanos et caterva (quem não se lembra da frase de Danton, ao ser conduzido à guilhotina pelo terror da Revolução Francesa: “o que me conforta, Robespierre, é que depois de mim virá você”; e a previsão se cumpriu).
Não nos iludamos: a aliança da Lava-Jato com o PSDB foi tática. Existe um “partido da justiça e da polícia”, e esse partido pode evoluir para a eleição de um juiz, ou de um extremista que saiba manipular os signos da anti-politica.
Lula é o único que, por dentro da política, tem ainda força e legitimidade para enfrentar a matilha extremista.
Esse o sinal emitido por Jobim que, com esse movimento, também tenta se viabilizar como alternativa “pacificadora”, numa eventual eleição indireta, se Temer não sobreviver ao TSE. Jobim pode ser a “transição” para se chegar a 2018. Acontece que o PSDB queimou quase todas as pontes, fomentou ódio demais, e agora não consegue guardar o fascismo na garrafa.
A direita “liberal” achou que usaria os extremistas para destruir o PT e finalmente ocupar o poder após quatro derrotas. Mas, hoje, começa a perceber que precisa de Lula para conter o extremismo.
Lula é fator de estabilidade para a Democracia. Jobim e Gilmar talvez sonhem com um Lula “pra perder”. Mas falta combinar, primeiro, com os camisas negras que querem prender e trucidar o petista; e, depois, com os eleitores que podem levá-lo de volta ao poder, se a Democracia resistir até 2018.
É por essa estreita passagem que vamos caminhar nos próximos meses…
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