A pergunta pode parecer sem sentido já que, todo mundo sabe que Serra se enfiou num hospital para tratar da coluna, Cunha está em cana, e Mineirinho e Paes estão na moita. O fato, porém, é que entre a cana e a moita, há muito mais do que sonha a nossa vã filosofia. Principalmente porque a capacidade de ganhar ou perder visibilidade depende menos do próprio sujeito do que das conveniências da mídia. Lula, por exemplo, mesmo que quisesse sumir, não conseguiria. A mídia faz questão de mantê-lo 24hs por dia nas telas, homes, televisores, redes e portais.
Paes, por sua vez, que já foi um dos “jovens promissores” da política brasileira, contando com todas as atenções e favores da mídia, tem uma facilidade surpreende de se recolher nos desvãos da realidade, e sumir em qualquer dobra oferecida pela contingência diária dos fatos. É, na verdade, localizado como personagem secundário, semi-distanciado da boca do palco, e que, sendo posto a meio caminho, parece portar apenas uma mea culpa nas costas.
É possível que tudo isso se deva só aos tantos préstimos que Paes, prefeito da cidade que Recebeu a Copa e os Jogos Olímpicos, prestou à Globo e às outras empresas televisivas, que, em troca, o cobrem hoje com o véu da invisibilidade relativa. Claro que às vezes não dá mesmo, as listas aparecem, os dedos são apontados de todos os lados, e, quando isso ocorre, é preciso dar uma satisfação qualquer ao público.
Já Aécio Neves, esse sim, indisfarçavelmente um peixe bem graúdo, situado no topo da cadeia alimentar da política brasileira, é um prodígio na arte de estar não estando. Está, por exemplo, no centro do último escândalo, o da lista do Fachin, mas quase ninguém vê menção alguma a ele nas homes, manchetes, capas de revistas, primeiras páginas dos jornais, etc. Chega a ser um acinte, um crime contra a necessidade de informação da população, que está prevista nas concessões públicas de rádio e TV.
Crime idêntico se verifica em relação a FHC, a Alckmin, a Serra, a Aloysio Nunes, e a tantos e tantos outros nomes. Na verdade, quem observe com atenção a mídia na última semana, percebe claramente que foi combinada uma trégua ao PMDB e a Temer para que votem as reformas. É nítido e indiscutível o sumiço dessa gente das manchetes, ou, seu comparecimento em ternos neutros e sem qualquer menção a processos e denúncias.
Já Lula é o massacre inclemente, cruel, diário e múltiplo. A Globo não deu um minuto de descanso desde o dia 11, e já estamos no dia 20. Diferentemente dos supracitados protegidos da mídia, que, quando não é possível esconder, aparecem por 5 ou 10 minutos nas homes para em seguida mergulhar no abismo da ausência, Lula é exposto durante as 24 horas do dia em cada canal, em manchetes variadas, e em todos as paredes da mídia pendura-se o seu rosto num cartaz de “Procura-se Vivou ou Morto”.
E se ele, numa dessas peças pregadas pela idade, pelo excesso de stress de dois anos de perseguição, e pelo corpo, um campo minado de armadilhas, caísse doente? A mídia inteira gritaria em uníssono, que Lula armou para se esconder num hospital e angariar a comiseração da opinião pública. Serra, no início da semana, contou com toda a grossa cortina de ferro da imprensa para sair de cena, internando no hospital Sírio Libanês. Eis os dois pesos e duas medidas da mídia golpista brasileira.
Agora, se Lula entrasse em cana, no dia seguinte, sumia da mídia para nunca mais voltar. Seria o silêncio eterno jogado como pá de cal sobre a sua cova rasa de indigente. Pois é, como dissemos ao início, entre a moita e a cana há muito mais do que sonha a nossa vã filosofia.
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