Por Wadih Damous
Não faz muito tempo o Rio de Janeiro era o centro das atenções mundiais. À expectativa pela realização da Copa do Mundo e à confirmação da cidade maravilhosa como sede dos Jogos Olímpicos, somava-se o fato de o estado liderar o ranking, entre todas unidades da federação, dos investimentos dos governos de Lula e Dilma, na forma de obras, convênios e parcerias.
Na esteira das altas sucessivas na cotação internacional do barril do petróleo, a economia fluminense parecia voar em céu de brigadeiro com o recebimento dos royalties e participações especiais do petróleo extraído nas profundezas da Bacia de Campos. Essa onda de euforia levou o governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, a se reelegerem no primeiro turno.
Já nessa época de bonança tinha início, praticamente à margem do conhecimento da sociedade, a política de desonerações de empresas “amigas” dos caciques do PMDB no estado, que mais tarde viria a se revelar trágica para os cofres do Executivo estadual. Eram tempos de lua de mel com os grupos de mídia, os quais, amortecidos por vultosas verbas publicitárias, fingiam não ver a corrupção sistêmica que explodiria anos depois.
Em 2014, o primeiro sinal de que os maiores beneficiários da dinheirama que o governo federal investira na capital e no estado ensaiavam uma traição coletiva foi emitido pelo apoio do presidente da Alerj e do PMDB, Jorge Picciani, ao candidato oposicionista Aécio Neves, bem como pela postura dúbia e errática de Sérgio Cabral naquela eleição.
Às vésperas da consumação do golpe de estado contra a presidenta Dilma, que avançou sob a batuta de outro expoente do PMDB no estado, o notório bandido Eduardo Cunha, o que fazem Cabral e Paes? Mandam seus pupilos, Marco Antônio Cabral (filho do ex-governador) e Pedro Paulo reassumirem seus mandatos na Câmara dos Deputados exclusivamente para apunhalarem a presidenta Dilma, votando a favor da quebra da ordem constitucional.
Um ano depois o Rio está no fundo do poço, mergulhado no mais absoluto caos financeiro e moral, a ponto de o governo golpista de Temer decretar estado de calamidade e só não cogitar uma intervenção porque a lei proíbe alterações constitucionais sempre que uma unidade da federação estiver sob intervenção. E como se sabe o governo ilegítimo tem como prioridade a retirada dos direitos da classe trabalhadora e do povo através das reformas trabalhista e previdenciária.
O ex-governador Sérgio Cabral está preso, acusado da prática de um sem numero de crimes contra o erário, enquanto Picciani, o capo di tutti capi peemedebista, é alvo de investigações por conta de sua suposta participação na máfia do Tribunal de Contas do Estado. E não cessam de vir à tona escabrosos casos de roubalheira envolvendo autoridades do estado.
Na bacia das almas, o governador Pezão conseguiu aprovar na Alerj a venda da única empresa pública do estado que resistira à sanha privatizante neoliberal dos anos 90, a Cedae, se rendendo à chantagem de Temer e afrontando o interesse público. Pezão, já cassado pelo TRE, não paga os salários dos servidores. Sem manutenção de equipamentos e falta crônica de insumos, vários serviços públicos a cargo do governo estadual entraram em colapso.
É o caso da UERJ, universidade na qual tive a honra de cursar Direito nos anos 70. Outrora respeitada pelos seus cursos de excelência, a universidade estadual não funciona há meses devido a dívidas milionárias com fornecedores e prestadores de serviço fundamentais para a infraestrutura e a logística da instituição.
Com professores e funcionários sem receber e a universidade em ruínas, Pezão, combinando cinismo e desfaçatez, propôs a redução dos salários dos professores da UERJ em 30%, uma vez que eles se encontram em “greve”.
Não, governador, os professores não estão em greve, mas são impedidos de exercer seu ofício porque o senhor e seu governo são incapazes de prover as condições mínimas necessárias ao funcionamento da universidade. Tragada pelo furacão de incompetência e corrupção que varre o Rio, a nossa UERJ agoniza a céu aberto.
* Wadih Damous é deputado federal (PT-RJ) e ex-presidente da OAB-RJ.
Não faz muito tempo o Rio de Janeiro era o centro das atenções mundiais. À expectativa pela realização da Copa do Mundo e à confirmação da cidade maravilhosa como sede dos Jogos Olímpicos, somava-se o fato de o estado liderar o ranking, entre todas unidades da federação, dos investimentos dos governos de Lula e Dilma, na forma de obras, convênios e parcerias.
Na esteira das altas sucessivas na cotação internacional do barril do petróleo, a economia fluminense parecia voar em céu de brigadeiro com o recebimento dos royalties e participações especiais do petróleo extraído nas profundezas da Bacia de Campos. Essa onda de euforia levou o governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, a se reelegerem no primeiro turno.
Já nessa época de bonança tinha início, praticamente à margem do conhecimento da sociedade, a política de desonerações de empresas “amigas” dos caciques do PMDB no estado, que mais tarde viria a se revelar trágica para os cofres do Executivo estadual. Eram tempos de lua de mel com os grupos de mídia, os quais, amortecidos por vultosas verbas publicitárias, fingiam não ver a corrupção sistêmica que explodiria anos depois.
Em 2014, o primeiro sinal de que os maiores beneficiários da dinheirama que o governo federal investira na capital e no estado ensaiavam uma traição coletiva foi emitido pelo apoio do presidente da Alerj e do PMDB, Jorge Picciani, ao candidato oposicionista Aécio Neves, bem como pela postura dúbia e errática de Sérgio Cabral naquela eleição.
Às vésperas da consumação do golpe de estado contra a presidenta Dilma, que avançou sob a batuta de outro expoente do PMDB no estado, o notório bandido Eduardo Cunha, o que fazem Cabral e Paes? Mandam seus pupilos, Marco Antônio Cabral (filho do ex-governador) e Pedro Paulo reassumirem seus mandatos na Câmara dos Deputados exclusivamente para apunhalarem a presidenta Dilma, votando a favor da quebra da ordem constitucional.
Um ano depois o Rio está no fundo do poço, mergulhado no mais absoluto caos financeiro e moral, a ponto de o governo golpista de Temer decretar estado de calamidade e só não cogitar uma intervenção porque a lei proíbe alterações constitucionais sempre que uma unidade da federação estiver sob intervenção. E como se sabe o governo ilegítimo tem como prioridade a retirada dos direitos da classe trabalhadora e do povo através das reformas trabalhista e previdenciária.
O ex-governador Sérgio Cabral está preso, acusado da prática de um sem numero de crimes contra o erário, enquanto Picciani, o capo di tutti capi peemedebista, é alvo de investigações por conta de sua suposta participação na máfia do Tribunal de Contas do Estado. E não cessam de vir à tona escabrosos casos de roubalheira envolvendo autoridades do estado.
Na bacia das almas, o governador Pezão conseguiu aprovar na Alerj a venda da única empresa pública do estado que resistira à sanha privatizante neoliberal dos anos 90, a Cedae, se rendendo à chantagem de Temer e afrontando o interesse público. Pezão, já cassado pelo TRE, não paga os salários dos servidores. Sem manutenção de equipamentos e falta crônica de insumos, vários serviços públicos a cargo do governo estadual entraram em colapso.
É o caso da UERJ, universidade na qual tive a honra de cursar Direito nos anos 70. Outrora respeitada pelos seus cursos de excelência, a universidade estadual não funciona há meses devido a dívidas milionárias com fornecedores e prestadores de serviço fundamentais para a infraestrutura e a logística da instituição.
Com professores e funcionários sem receber e a universidade em ruínas, Pezão, combinando cinismo e desfaçatez, propôs a redução dos salários dos professores da UERJ em 30%, uma vez que eles se encontram em “greve”.
Não, governador, os professores não estão em greve, mas são impedidos de exercer seu ofício porque o senhor e seu governo são incapazes de prover as condições mínimas necessárias ao funcionamento da universidade. Tragada pelo furacão de incompetência e corrupção que varre o Rio, a nossa UERJ agoniza a céu aberto.
* Wadih Damous é deputado federal (PT-RJ) e ex-presidente da OAB-RJ.
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