UnB, 27/5/17. Foto: Mídia Ninja, Saulo Dal Pozzo e Danielle Assis |
Qual o papel da mídia no avanço da pauta conservadora e o discurso de ódio? Essa foi a pergunta central do Painel 1, realizado na tarde deste sábado, 27/5, como parte da programação do 3º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (3ENDC), em Brasília. O debate foi mediado pela jornalista Beth Costa, secretária geral da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e contou com a presença dos jornalistas Cynara Menezes e Ricardo Melo, além da filósofa Márcia Tiburi.
"Não existe discurso de ódio. Existe o discurso da luta de classes. De um lado, a voz da elite que sempre foi dominante; do outro, o silêncio da maioria explorada" sentenciou o jornalista e ex-presidente da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, Ricardo Melo, ao iniciar sua fala. Para ele, a disputa de narrativa e o consequente acirramento da luta de classes no Brasil está atrelado ao monopólio e concentração midiática.
Segundo Melo, isso reflete no conteúdo produzido pela mídia, como, por exemplo, ao noticiar sobre as manifestações e reduzi-las entre manifestações de vândalos e manifestações de defensores da ordem, “essas manchetes são sintomáticas”. "Uma família controlar e monopolizar vários meios como faz a família Marinho é o maior exemplo de concentração de mídia que devemos combater", afirmou Melo.
Para a jornalista Cynara Menezes, a questão do discurso de ódio é indissociável ao ódio à esquerda como um todo, fruto de um contexto histórico que vem desde o período de Ditadura Militar no país e em toda a América Latina. No caso do Brasil, nos últimos anos, alia-se a isso o empobrecimento do debate da imprensa na tentativa de disseminar o antipetismo, somado à falta de informação está também a falta de argumentação de quem dissemina mensagens de ódio na internet.
A blogueira que mantém o blog Socialista Morena informou que a maioria dos seus seguidores na internet não possuem argumentos para contrapor as informações que publica em sua página. “A maior parte das pessoas entram para dizer ‘kkkkk’, é o máximo da argumentação que a pessoa consegue ter”.
“Jornalismo dissemina ignorância”
Menezes destaca ainda que a isso também está relacionada a ausência do papel social do jornalismo, que é de disseminar o conhecimento. “Antigamente, os jornais tinham muito em conta a disseminação de conhecimento, com a chegada do PT no poder, parece que os jornais se esqueceram do seu papel social e se transformaram num partido político que é contra a esquerda. Trocaram esse papel social pela disseminação da ignorância”, sentencia.
“Educação meia boca”
Para a filósofa Márcia Tiburi, que entre outros livros é autora do “Como conversar com um fascista”, o discurso de ódio é fruto de uma “educação meia boca”. “Entendo que esse espírito da nossa educação atual, que deixa as pessoas tratadas pela metade, essa educação que o Paulo Freire chamava de bancária, essa educação que é uma mercadoria, que é a educação para o vestibular, para um tipo de trabalho servil, uma educação que não visa juntar, reunir as perspectivas sociais e que não tem como objetivo oferecer aos formandos, educandos, uma compreensão mais lúcida e complexa da realidade, uma educação que simplifica e vejo muito isso na vida das pessoas”, explicou.
Atuante também nas redes sociais, a filósofa disse que não dá bola para o discurso de ódio. "Nós vivemos a era do empoderamento pelo ódio. Xingar na internet é um ato de autocapitalização de atenção, simplesmente para aparecer e se fazer conhecido. Esse sujeito capitaliza para existir”, destacou Márcia.
No auditório, muitos militantes, ativistas, estudantes, profissionais da comunicação interessados na compreensão sobre o tema do Painel, entre elas a professora do curso de graduação e mestrado em Comunicação da UFT – Universidade Federal do Tocantins, Cynthia Mara Miranda. “Meu interesse em participar é decorrente das minhas inquietações para compreender o momento político atual onde observamos uma divisão ideológica constante entre as pessoas que tem culminado com atos de violência. Assistir essa mesa foi uma oportunidade de conhecer estratégias discursivas para enfrentar esse momento difícil na realidade brasileira”, ressaltou.
3º ENDC
O 3º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (3ENDC), promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, iniciou na noite da sexta-feira, 26 de maio, com um Ato Público em Defesa da Liberdade de Expressão e vai até este domingo, 28, na Universidade de Brasília (UnB). A programação do 3º ENDC comporta duas conferências e 12 painéis temáticos.
Plenária
Como parte da programação do 3º ENDC, o FNDC também realizará sua 20ª Plenária Nacional, no dia 28 de maio. Entidades Nacionais filiadas e Comitês Regionais do FNDC poderão indicar delegados e delegadas, de acordo com as regras gerais aprovadas pelo Conselho Deliberativo do Fórum.
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