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A participação da mídia no processo político brasileiro não é recente, mas desde 2005, quando desencadeado o processo da Ação Penal 470 (“mensalão”), a imprensa comercial, especialmente o sistema Globo, tem atuado com grande empenho ao lado de interesses contrários aos governos populares iniciados em 2003 por Luiz Inácio Lula da Silva. Mas por que, após o golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff, com as delações da JBS, personagens até então considerados “aliados” foram jogados na fogueira, como o senador tucano Aécio Neves e o presidente peemedebista Michel Temer?
Para o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, com o caso JBS, “o impulso inicial” foi atropelado pelos fatos, na avalanche de denúncias deflagradas pela Operação Lava Jato em março de 2014. “Quando você destampa a panela da política brasileira, há coisas que são incontroláveis. O caso da JBS fugiu ao controle do Paraná (onde atua o juiz Sérgio Moro). A investigação e a delação foram feitas pela Procuradoria-Geral da República. Dadas as condições da política brasileira, o processo escapou do controle inicial, atingindo setores que pareciam imunes”, diz.
A avaliação é semelhante à do jornalista Luis Nassif no dia em que explodiu o caso JBS. “As delações da JBS contra Temer e Aécio foram um dado fora das previsões", afirmou em vídeo.
Porém, num aparente paradoxo, o grande grupo midiático do país está trabalhando a seu favor justamente essa aparente perda de controle. “Há um fator a ser lembrado: para a Globo, que encabeçou a divulgação das informações da JBS, isso veio a calhar, porque ela já tinha clareza de que com Temer, com um nível de popularidade quase zero, dificilmente conseguiria ir à frente com as reformas que defende.” Para Lalo Leal, com as delações, a emissora dos Marinho conseguiu romper com Temer e agora aposta nas eleições indiretas com um possível candidato com mais respaldo político. “E que esteja também sob controle da Globo.”
Só há, para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), uma ameaça aos planos da Globo: as manifestações. “As ruas são o grande enfrentamento a esse poder midiático, a única forma de ter alguma resposta a esse poder.” A Globo escondeu por completo a greve geral do dia 28 de abril, mas foi obrigada a cobrir o Ocupa Brasília, na última quarta-feira (24), embora de modo enviesado e distorcido. Afinal, ela própria foi protagonista da crise com o destaque dado às denúncias contra Temer e Aécio.
Ex-membro do extinto (pelo governo Temer) Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o jornalista Venício Lima avalia que há uma certeza e muitos pontos ocultos no atual processo politico-midiático brasileiro. “O que é claro é que os grupos privados de comunicação no Brasil estão no centro do processo dos atuais acontecimentos. Ainda não temos os dados para compreender as razões, interesses e contradições”, diz.
“Se você olhar historicamente, por exemplo, o golpe de 1964, passaram-se anos até que muitos fatos relacionados ao golpe viessem à tona, como documentos que comprovavam o comprometimento de governos estrangeiros etc. Fazendo um paralelo, estamos hoje muito no centro do furacão. As coisas ainda estão acontecendo.”
Venício Lima destaca dois aspectos que considera essenciais na análise do tema para além da atual conjuntura. O primeiro é o caráter particular do poder do sistema Globo no país. O segundo, a visão de que não se pode analisar a questão apenas olhando para o papel da mídia.
“Temos que colocar a mídia no contexto das transformações gerais que acontecem, dos grupos envolvidos no processo, não só de mídia, mas grupos de interesses partidários, empresariais, de política externa, das confederações de agricultura, do agronegócio etc, que produziram a situação política em que estamos”, diz.
No caso brasileiro, é inegável a evidência histórica do papel central que a Globo exerce na política. “Mas isso não deve nos impedir de perceber que a mídia combina seus interesses com um conjunto que produz a realidade política atual. Não é só a mídia. É uma combinação de interesses que podem ser enquadrados numa perspectiva neoliberal que está vencendo a batalha política no Brasil contemporâneo. Um programa que agrega interesses, que inclui a mídia como ator fundamental. Mas a mídia faz parte de um conjunto maior.”
Para o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, com o caso JBS, “o impulso inicial” foi atropelado pelos fatos, na avalanche de denúncias deflagradas pela Operação Lava Jato em março de 2014. “Quando você destampa a panela da política brasileira, há coisas que são incontroláveis. O caso da JBS fugiu ao controle do Paraná (onde atua o juiz Sérgio Moro). A investigação e a delação foram feitas pela Procuradoria-Geral da República. Dadas as condições da política brasileira, o processo escapou do controle inicial, atingindo setores que pareciam imunes”, diz.
A avaliação é semelhante à do jornalista Luis Nassif no dia em que explodiu o caso JBS. “As delações da JBS contra Temer e Aécio foram um dado fora das previsões", afirmou em vídeo.
Porém, num aparente paradoxo, o grande grupo midiático do país está trabalhando a seu favor justamente essa aparente perda de controle. “Há um fator a ser lembrado: para a Globo, que encabeçou a divulgação das informações da JBS, isso veio a calhar, porque ela já tinha clareza de que com Temer, com um nível de popularidade quase zero, dificilmente conseguiria ir à frente com as reformas que defende.” Para Lalo Leal, com as delações, a emissora dos Marinho conseguiu romper com Temer e agora aposta nas eleições indiretas com um possível candidato com mais respaldo político. “E que esteja também sob controle da Globo.”
Só há, para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), uma ameaça aos planos da Globo: as manifestações. “As ruas são o grande enfrentamento a esse poder midiático, a única forma de ter alguma resposta a esse poder.” A Globo escondeu por completo a greve geral do dia 28 de abril, mas foi obrigada a cobrir o Ocupa Brasília, na última quarta-feira (24), embora de modo enviesado e distorcido. Afinal, ela própria foi protagonista da crise com o destaque dado às denúncias contra Temer e Aécio.
Ex-membro do extinto (pelo governo Temer) Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o jornalista Venício Lima avalia que há uma certeza e muitos pontos ocultos no atual processo politico-midiático brasileiro. “O que é claro é que os grupos privados de comunicação no Brasil estão no centro do processo dos atuais acontecimentos. Ainda não temos os dados para compreender as razões, interesses e contradições”, diz.
“Se você olhar historicamente, por exemplo, o golpe de 1964, passaram-se anos até que muitos fatos relacionados ao golpe viessem à tona, como documentos que comprovavam o comprometimento de governos estrangeiros etc. Fazendo um paralelo, estamos hoje muito no centro do furacão. As coisas ainda estão acontecendo.”
Venício Lima destaca dois aspectos que considera essenciais na análise do tema para além da atual conjuntura. O primeiro é o caráter particular do poder do sistema Globo no país. O segundo, a visão de que não se pode analisar a questão apenas olhando para o papel da mídia.
“Temos que colocar a mídia no contexto das transformações gerais que acontecem, dos grupos envolvidos no processo, não só de mídia, mas grupos de interesses partidários, empresariais, de política externa, das confederações de agricultura, do agronegócio etc, que produziram a situação política em que estamos”, diz.
No caso brasileiro, é inegável a evidência histórica do papel central que a Globo exerce na política. “Mas isso não deve nos impedir de perceber que a mídia combina seus interesses com um conjunto que produz a realidade política atual. Não é só a mídia. É uma combinação de interesses que podem ser enquadrados numa perspectiva neoliberal que está vencendo a batalha política no Brasil contemporâneo. Um programa que agrega interesses, que inclui a mídia como ator fundamental. Mas a mídia faz parte de um conjunto maior.”
Mãos Limpas e Lava Jato
Seja como for, ambos os analistas apontam a extrema importância, para os grupos que comandam o sistema de Justiça (Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal), da participação da mídia como apoio às operações, seja no “mensalão”, na Lava Jato ou o no mais recente episódio envolvendo a JBS. “Há textos de Moro sobre a operação Mãos Limpas (desencadeada em 1992 por procuradores na Itália) onde o juiz demonstra que concorda e apoia tornar o processo público para se conseguir, via meios de comunicação, a adesão da opinião pública. Isso aconteceu claramente no impeachment e acontece novamente”, diz Venício Lima.
“No caso anterior (ao desencadeado pela JBS), desde o começo da Lava Jato, o próprio juiz Sérgio Moro e alguns procuradores manifestaram a ideia de que a operação só teria sucesso se tivesse apoio da opinião pública, conquistado através da mídia. Isso foi explícito. Eles fazem um paralelo com a operação Mãos Limpas”, anota Lalo Leal.
Como mostrou matéria do jornal Folha de S. Paulo em 2015, Sérgio Moro escreveu, em 2004, um artigo intitulado Considerações sobre a Operação Mani Pulite (Operação Mãos Limpas). No texto, o magistrado observa, sobre a participação da imprensa no processo: “Os responsáveis pela Operação Mani Pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI (Partido Socialista Italiano), que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da 'mani pulite' vazava como uma peneira".
E sobre a opinião pública, Moro apontou: “Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação (Mãos Limpas) teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva".
Seja como for, ambos os analistas apontam a extrema importância, para os grupos que comandam o sistema de Justiça (Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal), da participação da mídia como apoio às operações, seja no “mensalão”, na Lava Jato ou o no mais recente episódio envolvendo a JBS. “Há textos de Moro sobre a operação Mãos Limpas (desencadeada em 1992 por procuradores na Itália) onde o juiz demonstra que concorda e apoia tornar o processo público para se conseguir, via meios de comunicação, a adesão da opinião pública. Isso aconteceu claramente no impeachment e acontece novamente”, diz Venício Lima.
“No caso anterior (ao desencadeado pela JBS), desde o começo da Lava Jato, o próprio juiz Sérgio Moro e alguns procuradores manifestaram a ideia de que a operação só teria sucesso se tivesse apoio da opinião pública, conquistado através da mídia. Isso foi explícito. Eles fazem um paralelo com a operação Mãos Limpas”, anota Lalo Leal.
Como mostrou matéria do jornal Folha de S. Paulo em 2015, Sérgio Moro escreveu, em 2004, um artigo intitulado Considerações sobre a Operação Mani Pulite (Operação Mãos Limpas). No texto, o magistrado observa, sobre a participação da imprensa no processo: “Os responsáveis pela Operação Mani Pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI (Partido Socialista Italiano), que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da 'mani pulite' vazava como uma peneira".
E sobre a opinião pública, Moro apontou: “Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação (Mãos Limpas) teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva".
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