quinta-feira, 1 de junho de 2017

A "retomada" e os ciclos da economia

Por Pedro Breier, no blog Cafezinho:

Os jornalões estampam em seus sites manchetes animadas com a alta do PIB, que foi de 1% no primeiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior (O Fernando Brito demonstra, no Tijolaço, não haver muitos motivos para comemoração).

Como você pode ver acima, o Globo dá espaço para o exagero desesperado de Temer acompanhado de uma foto do (ainda) presidente parecendo confiante, como que vislumbrando um futuro melhor para a nação.

Temer comemora de forma hiperbólica o aumento do PIB porque só resta para ele, neste momento, agarrar-se a qualquer coisa que possa ajudá-lo a manter-se mais um pouco no cargo.

Quanto à Globo, vejo duas hipóteses para o seu estranho movimento, já que pedia a cabeça de Temer inapelavelmente há poucos dias. A mais provável é que esteja tentando ganhar tempo para encontrar o melhor caminho e o melhor nome para a transição antidemocrática que pretende impor ao país. A menos provável é a de que já considere a hipótese de Temer permanecer no cargo mesmo soterrado por provas acachapantes de bandidagens.

Mas estou tergiversando. Quero, neste post, focar na questão econômica de fundo.

A Teoria dos Ciclos Longos, ou Teoria dos Ciclos de Kondratiev, criada pelo economista russo Nikolai Kondratiev, afirma que o capitalismo, depois da Revolução Industrial, passou a ser constituído de ciclos, onde períodos de expansão econômica são seguidos invariavelmente por períodos de recessão.

A teoria econômica neoliberal é baseada nesta proposição. O raciocínio é o seguinte: se a dinâmica da economia passa necessariamente por fases de recessão e de expansão, a solução para sair de um momento de recessão é acelerar o processo para que rapidamente se chegue a um ponto limite onde não há mais como a economia se deprimir. Quando os índices chegam ao fundo do poço, não há outra alternativa senão voltar a subir.

As políticas de austeridade, ou seja, de corte brutal dos investimentos públicos, são aplicadas com o objetivo de aprofundar a crise, portanto – e neste quesito são sempre muito bem-sucedidas – para que os números voltem a crescer o mais rapidamente possível.

(Claro que ninguém fala a verdade para o respeitável público. A balela é a de que os investimentos privados, que nunca chegam e não se interessam em obras essenciais ao país, como as de infraestrutura, vão resolver o problema).

O crescimento inevitável se dá, entretanto, “em cima de uma base bastante deprimida”, como consta na própria matéria do Globo sobre o ~fim da recessão~ proclamado por Temer.

O termo técnico e frio “base deprimida” significa, na prática, milhões de pessoas desempregadas e outras milhões com salários achatados. Significa mais miséria, mais moradores de rua. Significa gente, ser humano, passando fome.

A alternativa ao neoliberalismo que está posta, hoje, é a aplicação de políticas anticíclicas. Em vez de aprofundar a recessão para chegar mais rápido à expansão a ideia é impedir ou minimizar os efeitos dos ciclos econômicos.

Ao invés de diminuição deve haver, isso sim, um forte aumento dos investimentos do Estado nos momentos de crise, para que a economia não precise despencar no abismo, bater violentamente contra o chão para só depois retomar o crescimento.

Obras de infraestrutura são um belo exemplo: criam condições materiais para que a economia se desenvolva e ainda geram empregos, os quais propiciam ganho de renda para os trabalhadores, que por sua vez reflete positivamente nos setores comercial e de serviços.

Mas quem manda na política é o mercado, como Rodrigo Maia falou recente e desavergonhadamente, e o mercado é adepto fervoroso do neoliberalismo.

Vidas, para “O Mercado”, este ente que controla os políticos que nós elegemos, são apenas técnicos e frios números.

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