quinta-feira, 8 de junho de 2017

Mídia não consegue animar o consumidor

Por Altamiro Borges

A mídia chapa-branca, cevada com o aumento das verbas publicitárias, até que tentou convencer a sociedade de que o país estaria superando a crise econômica e voltando a crescer. Antigos urubólogos, como Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg – da Rede Globo – viraram os otimistas de plantão. Antes, durante os governos Lula e Dilma, até as notícias positivas eram acompanhadas do alerta: “mas vai piorar”. Agora é o contrário. O desemprego cresce, as empresas falem, a renda das famílias despenca, mas “o Brasil vai melhorar” – juram os mercenários da imprensa. Toda esta propaganda, porém, não está conseguido ludibriar a sociedade. Até parece que o covil golpista de Michel Temer está desperdiçando dinheiro público com os seus anúncios milionários!

Reportagem publicada na Folha golpista nesta terça-feira (6) confirma o clima de desânimo no país. “Um dos principais motores da economia brasileira, o consumo interno continua exibindo sinais de fraqueza, o que deve dificultar a saída da recessão em que o país afundou há mais de dois anos. O consumo das famílias representa quase 65% do PIB (Produto Interno Bruto) e encolhe desde o início da recessão. Indicadores colhidos por diferentes pesquisas sugerem que o humor dos consumidores sofreu um novo baque com a eclosão da crise política. Segundo o IBGE, a economia voltou a crescer no primeiro trimestre, puxada pelo agronegócio e pelas exportações. Mas o consumo das famílias continuou em queda no período”, relata a jornalista Flavia Lima.

“Os dados divulgados pelo instituto mostram que houve um recuo de 0,1% em relação ao último trimestre do ano passado, e de 1,9% na comparação com o primeiro trimestre do ano. Estatísticas sobre a produção industrial sugerem que outra queda pode ter ocorrido em abril. Embora a produção de bens de consumo duráveis, como geladeiras e carros, tenha apresentado alta de 0,6% em relação a abril de 2016, o desempenho de produtos como vestuário, calçados e alimentos registrou declínio de quase 10%. Para os economistas, com desemprego em alta e famílias ainda muito endividadas, nem a inflação baixa nem a liberação do dinheiro das contas inativas do FGTS foram capazes até agora de reanimar os consumidores de forma consistente”.

Ainda de acordo com o jornal, “após a delação dos donos da JBS vir a público, os índices que procuram medir a confiança do consumidor registraram quedas expressivas. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Federação do Comércio de São Paulo, que capta o humor dos paulistanos para as compras, já vinha oscilando desde o início do ano e teve uma performance sofrível de abril para maio, com queda de 7%. A Fecomercio repetiu a pesquisa uma semana após a divulgação da delação da JBS, e nova queda foi identificada, de 2,3%. Com isso, o indicador voltou a cair abaixo de 100 – um nível de pessimismo que não era atingido desde julho do ano passado. O Índice Nacional de Confiança do Consumidor da CNI (Confederação Nacional da Indústria) também acusou o golpe. Colhido entre os dias 18 e 22 de maio, caiu 2,7% sobre abril”.

A Folha tucana até tenta jogar a culpa pelo desânimo na nova crise institucional aberta com as delações dos donos da JBS. É como se o jornal da famiglia Frias – que apostou todas suas fichas na instabilidade política durante os governos petistas – agora tentasse isentar o usurpador Michel Temer de qualquer culpa. É certo que a turbulência política afeta a economia – como afetou a gestão de Dilma Rousseff, que não teve um minuto de tranquilidade. Mas a perda de confiança dos brasileiros com os rumos da economia já vem de antes das delações da JBS. Ela decorre das medidas recessivas adotadas pelo covil golpista, que resultaram no aumento brutal do desemprego e na piora da renda familiar. Ela também deriva das maldades das “reformas” trabalhista e previdenciária formuladas pela quadrilha que assaltou o poder. Só a mídia chapa-branca tentava esconder este triste cenário.

Reproduzo abaixo artigo da economista Laura Carvalho, uma das poucas vozes críticas que ainda restam na Folha golpista:

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Números da economia desmentem Temer

Por Laura Carvalho - 08/06/2017

A divulgação dos números do PIB na quinta-feira passada (1º) apontou um crescimento de 1% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2017 em relação ao último trimestre do ano passado.

Após oito trimestres consecutivos de queda, o resultado positivo foi suficiente para lançar o presidente Michel Temer em mais uma incursão ao país das maravilhas.

"Acabou a recessão! Isso é resultado das medidas que estamos tomando. O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer mais ainda", celebrou Temer nas redes sociais.

A pílula de sobriedade foi ministrada pelo "Financial Times" ao comentar sobre os mesmos dados: "Brasil rasteja da recessão após supersafra de soja", acalmou o jornal. E o crescimento de 13,4% no setor agropecuário, que explica o resultado agregado positivo do trimestre, dificilmente poderia ser atribuído a medidas tomadas pelo governo. A não ser que o tal grande acordo nacional também tenha envolvido são Pedro e os grandes mercados mundiais.

Os números que expressam a situação da demanda interna do país frustraram todas as projeções.

Após oito trimestres de queda, os economistas esperavam uma retomada do consumo das famílias de 0,4%, mas o IBGE indicou nova retração, de 0,1%. Os investimentos decepcionaram ainda mais: caíram 1,6%, enquanto as projeções giravam em torno de uma redução muito menor —de 0,3%.

Embora o governo tenha seguido à risca o programa econômico desejado pelos analistas do mercado financeiro, a economia real tratou de mostrar que funciona de forma diferente.

Os erros de projeção chegam a ser chocantes: após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, a média das expectativas de crescimento do PIB de 2017 reunidas no Boletim Focus subiu de 0,24% em abril de 2016 para 1,34% em setembro.

Hoje, gira em torno de 0,5%, e muitos analistas já descartam qualquer crescimento para este ano. Isso com a ajuda de são Pedro e da alta no mercado internacional dos preços das commodities que exportamos durante os primeiros meses do ano.

Os números de abril da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE sinalizam que a situação não melhorou após o fim do primeiro trimestre: houve retração de 4,5% em relação a abril de 2016.

A queda maior se deu nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção caiu 9,8% -a contração mais acentuada desde maio de 2015-, e de bens de capital, que recuou 5,5% e interrompeu cinco meses de taxas positivas.

Não sabemos ainda o impacto sobre a economia real da incerteza gerada pelas delações da JBS e a perda de governabilidade de Michel Temer. Mas o fato de o presidente tentar segurar-se nos péssimos números da economia para angariar apoio só desnuda o que já sabíamos: que a tragédia é ainda maior em outros âmbitos.

Infelizmente, os setores que apoiaram a derrubada de Dilma Rousseff ainda oscilam entre empurrar o governo com a barriga até 2018 ou substituir Michel Temer por outro Michel Temer.

Dão para a estratégia a mesma justificativa que cansamos de ouvir em 2016: seriam esses os melhores caminhos para a estabilidade econômica e política. Vai ficando cada dia mais difícil convencer alguém disso.


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