Por Marcelo Zero
O golpe está sem plano B. Não planeja mais nada. É jocoso ler na internet e alhures sofisticadas teorias da conspiração tentando explicar porque a Globo rifou Temer, porque ele se tornou inútil, quais os interesses que estão sendo atendidos com essa nova fase, etc.
Ora, não há explicação racional para isso. Nada disso foi antecipado em sofisticadas análises da teoria dos jogos. O que há hoje é apenas perplexidade, caos e anomia. Ninguém se entende. Há um “bate cabeça” nas corjas, apodadas carinhosamente de “elites”, que se apossaram do país.
Não há consenso sobre o que fazer com Temer, o funcionário em exercício do golpe e do capital. Dar-lhe sursis até 2018? Demiti-lo? Colocar quem, em seu posto?
A Globo, por enquanto, quer demiti-lo. FHC, Folha e vários outros querem que ele continue. O PSDB ameaçou abandonar a nau putrefata, mas depois recuou. No fundo, ninguém, entre eles, sabe bem o que fazer e como fazer.
O problema maior está em quem botar no lugar. Em tese, seria simples. Se faria uma eleição indireta e se colocaria no Planalto um cidadão acima de quaisquer suspeitas, que tivesse aceitação popular ampla. Na prática, porém, isso é virtualmente impossível.
Por quê? Ora, porque o processo golpista e protofascista que se apossou do Brasil destruiu o sistema de representação e toda a classe política. Jobim, por exemplo, é do conselho da BTG/Pactual, banco investigado na Lava Jato. Meirelles, que asseguraria a continuidade das reformas, foi do conselho da JBS. Mesmo que se achasse um sujeito absolutamente ilibado, que não estivesse direta ou indiretamente sob investigação, a população não aceitaria que ele fosse eleito presidente indiretamente por um Congresso cuja credibilidade está abaixo de zero e que votou o impeachment sem crime de responsabilidade a mando de Eduardo Cunha e na base da propina.
Se essa for a aposta, ela seria de alto risco e tenderia a inviabilizar a aprovação das “reformas” desumanas, razão última do golpe. O “plano B” do golpe foi inviabilizado pelo próprio golpe.
Ironicamente, há pouco mais de um ano, tínhamos uma pessoa ungida pelas urnas e de fato pessoalmente ilibada a nos conduzir. A pessoa que afastou toda diretoria corrupta da Petrobras. Lembram? Tão honesta que tiveram de inventar um novo “crime”, a pedalada fiscal, para poder retirá-la do cargo. Lembram?
Pois é. Na ânsia cega de varrer o PT e seu projeto socialmente progressista, os golpistas e a Lava Jato partidarizada varreram não só a presidenta honesta, mas a legitimidade do sistema de representação. Após as revelações assombrosas de Sérgio Machado, ficou claríssimo, para todos, que a presidenta honesta seria substituída por uma súcia de escroques da pior espécie. Mesmo assim, revolveram apostar no golpe a na “solução Temer”. Precisavam de alguém para impor goela abaixo da população as “reformas” e o projeto ultraneoliberal.
Agora, a Globo, que apostou tudo no golpe e que aposta tudo na destruição da única liderança popular legítima do Brasil, Lula, se queixa de que “não há lideranças políticas no país” para substituir Temer. Juro, ouvi isso dos principais comentaristas da rede num programa de rádio.
Claro que não há. Praticamente toda a mídia oligopolizada do Brasil, uma estrutura herdada da ditadura militar, se empenhou na irresponsável criminalização da política no Brasil. Em aliança com procuradores messiânicos e ignorantes e em nome da destruição do PT, criminalizaram até as doações legais de campanha. Como contra Lula e Dilma não há provas de contas no exterior, gravações, filmagens de mochilas com dinheiro etc., tiveram de criminalizar até mesmo o que é legal. No fundo, criminalizaram as eleições e o voto. E agora se queixam? Patético.
O pior é que, agora, para não reconhecer o erro monumental, estúpido, cretino que cometeram, e para continuar na sua campanha para criminalizar Lula e o PT, adotam explicitamente a tese de que “ninguém presta” de que “é tudo farinha do mesmo saco”. Ou seja, adotam explicitamente a tese de que a política é algo criminoso, o que tende a impedir soluções pacíficas e democráticas para a crise política, institucional e econômica em que afundaram o Brasil. Assim, aprofundam a crise. Destroem o país e suas instituições.
Dessa maneira, o golpe se emparedou. Está sem opções claras e viáveis. Quaisquer movimentos, ou a ausência de novos movimentos (manter Temer), são arriscadíssimos.
A criminalização da política e crise institucional no sistema de representação chegou a tal ponto que não só se perdeu a governabilidade como a previsibilidade. O consórcio golpista achava que manteria o controle de todo esse processo. Se enganaram também nesse ponto. Não controlam mais nada. Esses processos messiânicos e protofascistas, uma vez deflagrados, são irracionais e incontroláveis. São como a caixa de Pandora.
Na realidade, os rumos do país não são mais ditados por ações racionais feitas pelo capital, a mídia ou quem quer que seja. Caímos na imprevisibilidade a na anomia.
Nessa situação de caos imprevisível, quem dá as cartas são os interesses mesquinhos e pessoais dos piores escroques do país. Quem iniciou o golpe foi Eduardo Cunha, com o intuito vão de se salvar. Quem agora emparedou o golpe foi Joesley, em ação individual, que buscou, e conseguiu (!), a sua sobrevivência. Assim, por causa dessa destruição da política e das instituições, o destino do Brasil fica ao sabor dos interesses particulares dos piores gângsteres da nação.
O golpismo e a Lava Jato que se nutre de vazamentos ilegais e escândalos instauraram o império da escrotidão. Os diretores corruptos da Petrobras estão todo livres em suas mansões e Joesley desfruta de seu apartamento na Quinta Avenida. O sistema da Lava Jato ideológica e desgovernada é o da escrotidão premiada. Praticamente nada do que os delatores dizem, para se salvar, é confiável, a não ser quando há provas concretas, como no caso de Temer e Aécio. Mas são essas narrativas que governam o país. Falta pouco, muito pouco, para que outro delator em desespero aprofunde a linha sinalizada por Joesley, a da corrupção nas procuradorias e no judiciário, que até agora não divulgou os nomes dos juízes delatados. Nesse caso, não sobrará nenhum poder, nenhuma instituição em pé. Vão fazer o quê?
Com o golpe emparedado, sem rumo claro, há duas opções:
a) Continuar o golpe com a instituição definitiva de um Estado de Exceção ou com uma ruptura democrática escancarada.
b) Realizar eleições diretas.
A corja patocrática não admitirá eleições diretas. Não por só medo do Lula, mas, sobretudo, por medo de inviabilizar definitivamente as reformas ultraneoliberais. O golpe foi dado para isso. Perder as reformas é impensável. Qualquer candidato que vá para as eleições diretas com esse programa altamente impopular não se elegerá. Sem golpe não há reformas. Por isso, o golpe tem de continuar de qualquer maneira. Com Temer ou sem Temer.
Com ou sem Temer (provavelmente com Meirelles), o golpe só chegará a 2018 com muita repressão. Ou mesmo com uma ruptura democrática escancarada, um regime tutelado pelo judiciário e pelos militares. Como o sistema de representação foi destruído e política foi definitivamente criminalizada, essa é uma opção viável.
Resta a opção civilizada e pacífica das eleições diretas. Tudo dependerá das pressões das ruas. Se for forte e contínua, a democracia vencerá. Se não for, pobre Brasil. Pobre de nós. Pobre de todos que não têm apartamento na Quinta Avenida.
O golpe está sem plano B. Não planeja mais nada. É jocoso ler na internet e alhures sofisticadas teorias da conspiração tentando explicar porque a Globo rifou Temer, porque ele se tornou inútil, quais os interesses que estão sendo atendidos com essa nova fase, etc.
Ora, não há explicação racional para isso. Nada disso foi antecipado em sofisticadas análises da teoria dos jogos. O que há hoje é apenas perplexidade, caos e anomia. Ninguém se entende. Há um “bate cabeça” nas corjas, apodadas carinhosamente de “elites”, que se apossaram do país.
Não há consenso sobre o que fazer com Temer, o funcionário em exercício do golpe e do capital. Dar-lhe sursis até 2018? Demiti-lo? Colocar quem, em seu posto?
A Globo, por enquanto, quer demiti-lo. FHC, Folha e vários outros querem que ele continue. O PSDB ameaçou abandonar a nau putrefata, mas depois recuou. No fundo, ninguém, entre eles, sabe bem o que fazer e como fazer.
O problema maior está em quem botar no lugar. Em tese, seria simples. Se faria uma eleição indireta e se colocaria no Planalto um cidadão acima de quaisquer suspeitas, que tivesse aceitação popular ampla. Na prática, porém, isso é virtualmente impossível.
Por quê? Ora, porque o processo golpista e protofascista que se apossou do Brasil destruiu o sistema de representação e toda a classe política. Jobim, por exemplo, é do conselho da BTG/Pactual, banco investigado na Lava Jato. Meirelles, que asseguraria a continuidade das reformas, foi do conselho da JBS. Mesmo que se achasse um sujeito absolutamente ilibado, que não estivesse direta ou indiretamente sob investigação, a população não aceitaria que ele fosse eleito presidente indiretamente por um Congresso cuja credibilidade está abaixo de zero e que votou o impeachment sem crime de responsabilidade a mando de Eduardo Cunha e na base da propina.
Se essa for a aposta, ela seria de alto risco e tenderia a inviabilizar a aprovação das “reformas” desumanas, razão última do golpe. O “plano B” do golpe foi inviabilizado pelo próprio golpe.
Ironicamente, há pouco mais de um ano, tínhamos uma pessoa ungida pelas urnas e de fato pessoalmente ilibada a nos conduzir. A pessoa que afastou toda diretoria corrupta da Petrobras. Lembram? Tão honesta que tiveram de inventar um novo “crime”, a pedalada fiscal, para poder retirá-la do cargo. Lembram?
Pois é. Na ânsia cega de varrer o PT e seu projeto socialmente progressista, os golpistas e a Lava Jato partidarizada varreram não só a presidenta honesta, mas a legitimidade do sistema de representação. Após as revelações assombrosas de Sérgio Machado, ficou claríssimo, para todos, que a presidenta honesta seria substituída por uma súcia de escroques da pior espécie. Mesmo assim, revolveram apostar no golpe a na “solução Temer”. Precisavam de alguém para impor goela abaixo da população as “reformas” e o projeto ultraneoliberal.
Agora, a Globo, que apostou tudo no golpe e que aposta tudo na destruição da única liderança popular legítima do Brasil, Lula, se queixa de que “não há lideranças políticas no país” para substituir Temer. Juro, ouvi isso dos principais comentaristas da rede num programa de rádio.
Claro que não há. Praticamente toda a mídia oligopolizada do Brasil, uma estrutura herdada da ditadura militar, se empenhou na irresponsável criminalização da política no Brasil. Em aliança com procuradores messiânicos e ignorantes e em nome da destruição do PT, criminalizaram até as doações legais de campanha. Como contra Lula e Dilma não há provas de contas no exterior, gravações, filmagens de mochilas com dinheiro etc., tiveram de criminalizar até mesmo o que é legal. No fundo, criminalizaram as eleições e o voto. E agora se queixam? Patético.
O pior é que, agora, para não reconhecer o erro monumental, estúpido, cretino que cometeram, e para continuar na sua campanha para criminalizar Lula e o PT, adotam explicitamente a tese de que “ninguém presta” de que “é tudo farinha do mesmo saco”. Ou seja, adotam explicitamente a tese de que a política é algo criminoso, o que tende a impedir soluções pacíficas e democráticas para a crise política, institucional e econômica em que afundaram o Brasil. Assim, aprofundam a crise. Destroem o país e suas instituições.
Dessa maneira, o golpe se emparedou. Está sem opções claras e viáveis. Quaisquer movimentos, ou a ausência de novos movimentos (manter Temer), são arriscadíssimos.
A criminalização da política e crise institucional no sistema de representação chegou a tal ponto que não só se perdeu a governabilidade como a previsibilidade. O consórcio golpista achava que manteria o controle de todo esse processo. Se enganaram também nesse ponto. Não controlam mais nada. Esses processos messiânicos e protofascistas, uma vez deflagrados, são irracionais e incontroláveis. São como a caixa de Pandora.
Na realidade, os rumos do país não são mais ditados por ações racionais feitas pelo capital, a mídia ou quem quer que seja. Caímos na imprevisibilidade a na anomia.
Nessa situação de caos imprevisível, quem dá as cartas são os interesses mesquinhos e pessoais dos piores escroques do país. Quem iniciou o golpe foi Eduardo Cunha, com o intuito vão de se salvar. Quem agora emparedou o golpe foi Joesley, em ação individual, que buscou, e conseguiu (!), a sua sobrevivência. Assim, por causa dessa destruição da política e das instituições, o destino do Brasil fica ao sabor dos interesses particulares dos piores gângsteres da nação.
O golpismo e a Lava Jato que se nutre de vazamentos ilegais e escândalos instauraram o império da escrotidão. Os diretores corruptos da Petrobras estão todo livres em suas mansões e Joesley desfruta de seu apartamento na Quinta Avenida. O sistema da Lava Jato ideológica e desgovernada é o da escrotidão premiada. Praticamente nada do que os delatores dizem, para se salvar, é confiável, a não ser quando há provas concretas, como no caso de Temer e Aécio. Mas são essas narrativas que governam o país. Falta pouco, muito pouco, para que outro delator em desespero aprofunde a linha sinalizada por Joesley, a da corrupção nas procuradorias e no judiciário, que até agora não divulgou os nomes dos juízes delatados. Nesse caso, não sobrará nenhum poder, nenhuma instituição em pé. Vão fazer o quê?
Com o golpe emparedado, sem rumo claro, há duas opções:
a) Continuar o golpe com a instituição definitiva de um Estado de Exceção ou com uma ruptura democrática escancarada.
b) Realizar eleições diretas.
A corja patocrática não admitirá eleições diretas. Não por só medo do Lula, mas, sobretudo, por medo de inviabilizar definitivamente as reformas ultraneoliberais. O golpe foi dado para isso. Perder as reformas é impensável. Qualquer candidato que vá para as eleições diretas com esse programa altamente impopular não se elegerá. Sem golpe não há reformas. Por isso, o golpe tem de continuar de qualquer maneira. Com Temer ou sem Temer.
Com ou sem Temer (provavelmente com Meirelles), o golpe só chegará a 2018 com muita repressão. Ou mesmo com uma ruptura democrática escancarada, um regime tutelado pelo judiciário e pelos militares. Como o sistema de representação foi destruído e política foi definitivamente criminalizada, essa é uma opção viável.
Resta a opção civilizada e pacífica das eleições diretas. Tudo dependerá das pressões das ruas. Se for forte e contínua, a democracia vencerá. Se não for, pobre Brasil. Pobre de nós. Pobre de todos que não têm apartamento na Quinta Avenida.
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