quarta-feira, 7 de junho de 2017

Os ricaços sempre podem fugir para Miami

Por Paulo Copacabana, no blog Viomundo:

Encontrei amigos empresários nesta última semana. Estão desiludidos com suas apostas no Brasil no último ano.

A economia não reage rapidamente como imaginavam. Os três possuem empresas prestadoras de serviços.

Estavam de férias nos States. Pretendem voltar para lá rapidamente. “Férias prolongadas”.

Talvez três ou quatro vindas para o Brasil até o final do ano. O dinheiro fica rendendo aqui e também no exterior, porque “ninguém é de ferro”.

Pergunto inocentemente:

— Mas, e as empresas?

Me dizem que vão mantê-las abertas. São elas que construíram o nome deles no mercado.

Vão seguir tocando os contratos já existentes. Empurrando com a barriga. Novos investimentos ficam pra depois. 2018, talvez 2019.

Pergunto também inocentemente:

— Mas, e os juros? A Globo mostra todo santo dia que eles estão caindo forte, que a inflação caiu forte.

Um deles me esclarece: a inflação está caindo forte porque ninguém compra nada. Falta demanda.

Os juros estão caindo depois. Para o dinheiro deles, aplicado no mercado financeiro, é isso que interessa.

Os juros reais ainda estão nas nuvens. Os mais altos do mundo.

Nada como conversar com pessoas pragmáticas para saírmos do Brasil das “telas globais”.

Provoco ainda estes amigos empresários sobre suas opções políticas e as expectativas para 2018.

Reafirmam tranquilamente que afastar Dilma foi crucial na defesa dos seus interesses. Na crise que atingiu o Brasil em cheio, Dilma teria que fazer cortes e ajustes, e estes não poderiam ser feitos na rentabilidade do capital financeiro.

Simples assim. Dilma, quando baixou fortemente os juros em 2012, perdeu a confiança do mercado financeiro e de grande parte dos empresários.

Agora, com juros reais nas alturas e reformas que cortam despesas do orçamento e facilitam as contratações, duas coisas estariam garantidas: a rentabilidade de suas aplicações financeiras e a queda do custo da mão de obra.

Temer serviu para fazer esta “ponte para a segurança financeira”.

Agora, o custo em mantê-lo ficou muito elevado, com o risco de não entregar o que prometeu.

Aécio nunca foi levado a sério.

Vale a pena colocar alguém que complete esta transição com “ficha limpa”.

Alguém que represente a “purificação” do momento e das reformas.

Para as próximas eleições apostam em qualquer candidatura competitiva que mantenha as atuais reformas em andamento ou as mudanças obtidas em 2017 e 2018.

Prefeririam a segurança de Alckmin, mas algumas denúncias da Lava Jato comprometem seu projeto.

Por isso sabem que Doria corre forte por fora.

Para eles, Moro e Cia. já estão finalizando seus trabalhos atingindo o objetivo final: tirar Lula do páreo.

Assim, o caminho estaria aberto para o candidato conservador que reunir melhores condições.

— Mas, e a corrupção? E os efeitos da Lava Jato sobre toda a classe política?

Minha última provocação foi respondida mais uma vez pelo pragmatismo.

Corrupção sempre existiu em todos os governos, com todos os partidos em todos os períodos da historia.

Eles sabem por experiência própria. Agora, a justiça não tem como pegar todo mundo.

O PT e parte dos outros grandes partidos vão responder pela corrupção sistêmica.

No ano que vem todo mundo vai estar cansado desta história, querendo alguma solução e, principalmente, propostas para reduzir o desemprego e reativar a economia.

O candidato que não tiver o nome associado aos escândalos atuais, der segurança na manutenção das reformas e na retomada da economia ganha as eleições.

Minha preocupação, neste cenário pragmático desenhado pelos amigos empresários, reside exatamente neste “day after”.

Como manter as atuais reformas e retomar o crescimento? Cortar demanda e querer novos investimentos?

Não existe experiência internacional em que isso tenha dado certo.

Pior: o próximo governo, seja ele qual for, terá que conviver com a criminalização da política fiscal, do BNDES e o desmonte da Petrobrás.

Estão decretando o fim da economia nacional. Querem que nos tornemos um Panamá. Só que o Brasil não cabe no modelo do Panamá.

Crises políticas, econômicas e sociais não cessarão. Quem pode, terá sempre os States como solução.

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