Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A prisão de Geddel Vieira de Lima confirma o óbvio: a crise do governo Temer está longe de terminada. Para decepção de quem já procurava uma acomodação com o Planalto, apostava na recuperação de Temer e tentava abrir portas para possíveis arranjos, o episódio mostra que governo não tem forças para estabilizar a situação política nem pelo prazo de uma semana.
Os fatos importantes são dois. Para quem chegou a festejar a liberação do homem da mala Rodrigo Loures, na sexta-feira passada, a prisão de Geddel anula qualquer vantagem imaginada. Como os delatores da JBS sugerem nos depoimentos, Loures era um ajudante improvisado, ainda novato em funções mais importantes. O interlocutor das conversas importantes, na verdade, era Geddel, forçado a se afastar em novembro de 2016, depois de pressionar um colega de governo, o ministro da Cultura Marcelo Caleiro, para receber um favor indevido num apartamento de luxo em Salvador.
A prisão de Geddel também mostra a incapacidade de Temer proteger-se do tsunami de denúncias que se aproxima de seu gabinete e ameaça engolir o governo - e que, antes de Geddel, já incluiu a prisão de personagens explosivos como Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Tadeu Felippelli.
Em plena batalha de vida ou morte em defesa do próprio mandato, quando mais do que nunca é preciso convencer aliados já inseguros de que nem tudo está perdido, é difícil imaginar - do ponto de vista de Temer - um desastre mais errado, na hora mais errada.
Quem conhece como funciona a máquina real do Estado sabe que a perspectiva de conservar o poder amanhã é até mais importante do que seu exercício, hoje. É a ideia de recompensa futura que alimenta lealdades, permite sacrifícios, estimula gestos de aparente nobreza e fidelidade. Eles ajudam os suspeitos a ficar de bico fechado e resistir às pressões para delatar. Também estimulam quem ainda se mantém ativo a buscar apoio no e usar a própria credibilidade para prometer, no Congresso, mercadorias cada vez mais difíceis de entregar na votação sobre o impeachment.
A possibilidade de novas prisões, como Moreira Franco ou Eliseu Padilha, protegidos pelas prerrogativas dos respectivos cargos, não deve servir para diminuir o impacto em si da prisão de Geddel.
Ao longo de pelo menos duas décadas, Michel Temer, Eliseu Padilha e Geddel Lima formaram um trio de operadores do PMDB cuja atividade foi descrita em detalhes por Fernando Henrique Cardoso no segundo volume de seus Diários da Presidência. Sempre juntos, atravessaram os dois mandatos de FHC, mais tarde se acertaram com Lula e Dilma e, depois de articular um golpe de Estado, conseguiram assumir o Planalto.
Os rastros deixados pelo trio no governo FHC permitem fazer uma ideia do que estava para acontecer no futuro.
Na página 170, por exemplo, o então presidente relata uma conversa de Geddel Lima com o tesoureiro tucano e ministro Sérgio Mota, no qual o então líder do PMDB da Câmara joga duro para garantir a nomeação de Padilha para o ministério dos Transportes, em troca da aprovação do Fundo de Estabilização Fiscal, peça essencial do Plano Real. "Está cheirando mal,"escreve FHC que, apesar do olfato aguçado, acabou cedendo e nomeando Padilha.
Num episódio que ele próprio relata como "um tanto estranho", na página 232 Fernando Henrique descreve o esforço de Temer e Geddel para derrubar o diretor de presídios do Ministério da Justiça -- o titular da Pasta era Iris Rezende. FHC registra que se trata de "um posto tão baixo, no qual existem licitações."E acrescenta: "não quero me antecipar com maledicências mas me deu uma ponta de preocupação."
Autor de um apelo recente para Temer deixar a presidência, Fernando Henrique sabia do estava falando.
A prisão de Geddel Vieira de Lima confirma o óbvio: a crise do governo Temer está longe de terminada. Para decepção de quem já procurava uma acomodação com o Planalto, apostava na recuperação de Temer e tentava abrir portas para possíveis arranjos, o episódio mostra que governo não tem forças para estabilizar a situação política nem pelo prazo de uma semana.
Os fatos importantes são dois. Para quem chegou a festejar a liberação do homem da mala Rodrigo Loures, na sexta-feira passada, a prisão de Geddel anula qualquer vantagem imaginada. Como os delatores da JBS sugerem nos depoimentos, Loures era um ajudante improvisado, ainda novato em funções mais importantes. O interlocutor das conversas importantes, na verdade, era Geddel, forçado a se afastar em novembro de 2016, depois de pressionar um colega de governo, o ministro da Cultura Marcelo Caleiro, para receber um favor indevido num apartamento de luxo em Salvador.
A prisão de Geddel também mostra a incapacidade de Temer proteger-se do tsunami de denúncias que se aproxima de seu gabinete e ameaça engolir o governo - e que, antes de Geddel, já incluiu a prisão de personagens explosivos como Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Tadeu Felippelli.
Em plena batalha de vida ou morte em defesa do próprio mandato, quando mais do que nunca é preciso convencer aliados já inseguros de que nem tudo está perdido, é difícil imaginar - do ponto de vista de Temer - um desastre mais errado, na hora mais errada.
Quem conhece como funciona a máquina real do Estado sabe que a perspectiva de conservar o poder amanhã é até mais importante do que seu exercício, hoje. É a ideia de recompensa futura que alimenta lealdades, permite sacrifícios, estimula gestos de aparente nobreza e fidelidade. Eles ajudam os suspeitos a ficar de bico fechado e resistir às pressões para delatar. Também estimulam quem ainda se mantém ativo a buscar apoio no e usar a própria credibilidade para prometer, no Congresso, mercadorias cada vez mais difíceis de entregar na votação sobre o impeachment.
A possibilidade de novas prisões, como Moreira Franco ou Eliseu Padilha, protegidos pelas prerrogativas dos respectivos cargos, não deve servir para diminuir o impacto em si da prisão de Geddel.
Ao longo de pelo menos duas décadas, Michel Temer, Eliseu Padilha e Geddel Lima formaram um trio de operadores do PMDB cuja atividade foi descrita em detalhes por Fernando Henrique Cardoso no segundo volume de seus Diários da Presidência. Sempre juntos, atravessaram os dois mandatos de FHC, mais tarde se acertaram com Lula e Dilma e, depois de articular um golpe de Estado, conseguiram assumir o Planalto.
Os rastros deixados pelo trio no governo FHC permitem fazer uma ideia do que estava para acontecer no futuro.
Na página 170, por exemplo, o então presidente relata uma conversa de Geddel Lima com o tesoureiro tucano e ministro Sérgio Mota, no qual o então líder do PMDB da Câmara joga duro para garantir a nomeação de Padilha para o ministério dos Transportes, em troca da aprovação do Fundo de Estabilização Fiscal, peça essencial do Plano Real. "Está cheirando mal,"escreve FHC que, apesar do olfato aguçado, acabou cedendo e nomeando Padilha.
Num episódio que ele próprio relata como "um tanto estranho", na página 232 Fernando Henrique descreve o esforço de Temer e Geddel para derrubar o diretor de presídios do Ministério da Justiça -- o titular da Pasta era Iris Rezende. FHC registra que se trata de "um posto tão baixo, no qual existem licitações."E acrescenta: "não quero me antecipar com maledicências mas me deu uma ponta de preocupação."
Autor de um apelo recente para Temer deixar a presidência, Fernando Henrique sabia do estava falando.
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