Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Só não vê quem não quer. A base de Temer, depois de salvá-lo da denúncia de corrupção, está se esfarelando e ele já não consegue governar, embora nesta sexta-feira tenha bravateado: “Dizem que sou corajoso. Eu digo que sou mais que corajoso. Sou ousado”. Não tendo cumprido todas as promessas feitas aos deputados antes da votação, Temer enfrenta a má vontade do baixo clero do Centrão, que já bate o pé contra a reforma previdenciária e vem empurrando a aprovação de outras matérias de alto interesse fiscal, como o Refis e a reoneação das empresas. PP, PR e PSD continuam cobrando punição aos infiéis do PSDB, PSB e PPS, partidos que têm ministros no governo mas não entregaram a maioria de seus votos.
A reação já está escancarada, com os “centristas” dizendo coisas assim: "Decidimos não votar a reforma da Previdência. Só retomaremos o diálogo quando o governo resolver quem é base e quem é oposição" (deputado Arthur Lira (AL), líder do PP). Ou assim: “A discussão da Previdência abre a porta para sociedade ir para as ruas, e isso é tudo o que o governo tem que evitar diante de uma segunda denúncia" (deputado Marcos Montes, líder do PSD).
E não é só o Centrão: o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, agora vem apresentando uma inflexão crítica em seu discurso, dizendo por exemplo que não se sente “confortável” com o aumento da meta de deficit fiscal, medida que o governo deve anunciar na semana que vem. “Pelo visto o governo vai anunciar um aumento da meta, o que é muito ruim e mostra que o governo não teve condições de executar seu próprio Orçamento cortando despesas" - disse Maia nesta sexta-feira. Na primeira denúncia ele optou pelo figurino de aliado leal e estoico mas, se vier a segunda, sua conduta pode poder.
Mas Temer não enxerga nada disso. Apesar do risco da segunda denúncia, e da retumbante derrota na questão fiscal apontada por Rodrigo Maia, ele ontem voltou a externar sua autocomplacência: “mais que corajoso, eu sou ousado”. Tão ousado que tem dez ministros sendo investigados pelo STF!
A situação dele então é a seguinte: o estado das contas públicas é desesperador, a base rejeita qualquer hipótese de aumentar impostos, não votará a reforma da previdenciária para ninar o mercado e não aceitará medidas drásticas de corte de despesas. A ingovernabilidade está chegando a galope. Em matéria de debilidade presidencial, nunca se viu um presidente recuar com tanta velocidade como Temer, na semana passada, em relação ao ensaio sobre o aumento do imposto de renda. Todos os sinais são de que a base deu-lhe o que tinha que dar, com o perdão do dia 2, mas não fará mais sacrifícios por ele, que a eleição está aí mesmo. O importante para os deputados agora é aprovar o “distritão” e o fundão partidário para financiar a campanha, e salve-se quem puder. O compromisso que firmaram com o governo, dizem muitos deles, foi em relação à primeira denúncia. Se vier uma segunda, serão outros 500 (figura de linguagem, não confundir com os 500 mil da mala de Loures).
E como vem aí a segunda denúncia, a instabilidade vai se arrastar, sangrando continuadamente o país. Foi diante deste horizonte que Fernando Henrique voltou a sugerir: “se eu fosse ele, pedia antecipação das eleições”. Mas Temer não fará isso, pela razão elementar de que perderia o foro do STF e teria que responder à denúncia de corrupção passiva em primeira instância. A Câmara decidiu apenas que ele não será investigado no exercício do mandato, não o anistiou, como deixou claro o ministro Fachin, ao suspender o processo em relação a Temer, encaminhando o caso de Loures para a primeira instância, já que ele não é mais deputado.
Temer sabe que uma segunda denúncia seria apreciada pela Câmara em condições bastantes piores do que a primeira: a base esgarçou-se e a munição esgotou-se. O estoque de emendas já foi quase todo liberado e os cofres estão vazios. Por isso a guerra contra Janot vai ser pesada. Anteontem, o senador Jorge Viana perguntou ao general Etchegoyen, ministro-chefe do GSI, se a arguição da suspeição de Janot, apresentada pela defesa de Temer ao Supremo, foi baseada em investigações da ABIN. Ele negou. Mas à boca pequena, nos meios governistas, circula o boato de que Temer tem bala na agulha contra o homem das flechas de bambu.
A reação já está escancarada, com os “centristas” dizendo coisas assim: "Decidimos não votar a reforma da Previdência. Só retomaremos o diálogo quando o governo resolver quem é base e quem é oposição" (deputado Arthur Lira (AL), líder do PP). Ou assim: “A discussão da Previdência abre a porta para sociedade ir para as ruas, e isso é tudo o que o governo tem que evitar diante de uma segunda denúncia" (deputado Marcos Montes, líder do PSD).
E não é só o Centrão: o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, agora vem apresentando uma inflexão crítica em seu discurso, dizendo por exemplo que não se sente “confortável” com o aumento da meta de deficit fiscal, medida que o governo deve anunciar na semana que vem. “Pelo visto o governo vai anunciar um aumento da meta, o que é muito ruim e mostra que o governo não teve condições de executar seu próprio Orçamento cortando despesas" - disse Maia nesta sexta-feira. Na primeira denúncia ele optou pelo figurino de aliado leal e estoico mas, se vier a segunda, sua conduta pode poder.
Mas Temer não enxerga nada disso. Apesar do risco da segunda denúncia, e da retumbante derrota na questão fiscal apontada por Rodrigo Maia, ele ontem voltou a externar sua autocomplacência: “mais que corajoso, eu sou ousado”. Tão ousado que tem dez ministros sendo investigados pelo STF!
A situação dele então é a seguinte: o estado das contas públicas é desesperador, a base rejeita qualquer hipótese de aumentar impostos, não votará a reforma da previdenciária para ninar o mercado e não aceitará medidas drásticas de corte de despesas. A ingovernabilidade está chegando a galope. Em matéria de debilidade presidencial, nunca se viu um presidente recuar com tanta velocidade como Temer, na semana passada, em relação ao ensaio sobre o aumento do imposto de renda. Todos os sinais são de que a base deu-lhe o que tinha que dar, com o perdão do dia 2, mas não fará mais sacrifícios por ele, que a eleição está aí mesmo. O importante para os deputados agora é aprovar o “distritão” e o fundão partidário para financiar a campanha, e salve-se quem puder. O compromisso que firmaram com o governo, dizem muitos deles, foi em relação à primeira denúncia. Se vier uma segunda, serão outros 500 (figura de linguagem, não confundir com os 500 mil da mala de Loures).
E como vem aí a segunda denúncia, a instabilidade vai se arrastar, sangrando continuadamente o país. Foi diante deste horizonte que Fernando Henrique voltou a sugerir: “se eu fosse ele, pedia antecipação das eleições”. Mas Temer não fará isso, pela razão elementar de que perderia o foro do STF e teria que responder à denúncia de corrupção passiva em primeira instância. A Câmara decidiu apenas que ele não será investigado no exercício do mandato, não o anistiou, como deixou claro o ministro Fachin, ao suspender o processo em relação a Temer, encaminhando o caso de Loures para a primeira instância, já que ele não é mais deputado.
Temer sabe que uma segunda denúncia seria apreciada pela Câmara em condições bastantes piores do que a primeira: a base esgarçou-se e a munição esgotou-se. O estoque de emendas já foi quase todo liberado e os cofres estão vazios. Por isso a guerra contra Janot vai ser pesada. Anteontem, o senador Jorge Viana perguntou ao general Etchegoyen, ministro-chefe do GSI, se a arguição da suspeição de Janot, apresentada pela defesa de Temer ao Supremo, foi baseada em investigações da ABIN. Ele negou. Mas à boca pequena, nos meios governistas, circula o boato de que Temer tem bala na agulha contra o homem das flechas de bambu.
Volto a insistir: considero um equívoco tomar a força de Temer junto à sua suposta base de apoio para estimar as chances de aprovação da contrarreforma espúria da Previdência. Essa não é uma proposta de interesse exclusivo de Temer. Aliás, Temer somente a apresenta como um presidente "terceirizado" pelo capital financeiro, verdadeiro mentor e suporte da proposta. Independentemente da força pessoal de Temer, a simples apresentação da proposta de contrarreforma levará a que diversos setores fora e dentro do Congresso, vinculados principalmente aos interesses da plutocracia financeira, se unifiquem para aprovar a medida. A fragilidade política pessoal de Temer é incontestável. Não estou dizendo que ela não existe. Apenas afirmou que, do ponto de vista da contrarreforma da Previdência, devemos indagar com que base de sustentação poderá contar para aprova-la o capital financeiro que é quem, de fato, a elaborou? Só porque Temer não dispõe de apoio pessoal, os representantes mais fiéis da plutocracia financeira deixarão de votar na proposta? Não me parece lógico. A única possibilidade de barrar a proposta é com a pressão das ruas, dos sindicatos, dos movimentos sociais, das instituições como a OAB e a CNBB. Se continuar acreditando que tal contrarreforma não será aprovada porque o apoio pessoal a Temer despenca, seremos derrotados.
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