Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
Os jornalões anunciam que o governo Temer quer privatizar a Eletrobrás, estatal que controla o sistema nacional de energia elétrica, para arrecadar R$ 20 bilhões, que seriam usados para cobrir parte do rombo fiscal (leia-se, dar aos banqueiros).
Segundo o último relatório anual da estatal, a sua receita bruta em 2016 foi de R$ 71 bilhões.
Trata-se de uma estratégia coordenada, fundamentalmente pela Globo, porque será o monopólio de comunicação quem controlará todo o processo de manipulação da opinião pública necessário para levar adiante mais esse crime contra a soberania nacional.
O grupo que assumir o controle da Eletrobrás, terá um poder gigantesco sobre as maiores reservas mundiais de energia elétrica, além de um controle imenso sobre os maiores rios do planeta.
O desastre ambiental provocado pela Samarco mostra bem o perigo oferecido ao meio ambiente e à população pelo uso descuidado da água.
O projeto de privatização da Eletrobrás esboçado pela Globo informa que o governo terá “direito a veto” em decisões estratégicas. Isso é uma maneira invertida de dar notícia. É o processo de manipulação da opinião pública em ação, porque o que ele significa, na verdade, é que o governo perderá o poder de decidir sobre os projetos estratégicos da Eletrobrás.
Como o objetivo dos futuros controladores será maximizar o lucro para seus acionistas, em detrimento do interesse social, haverá necessariamente elevação do custo da energia no país, reduzindo a nossa competitividade e beneficiando países competidores, principalmente os Estados Unidos, com o qual nós competimos nos setores de carnes, soja e refino de petróleo, mas também a China, com a qual competimos em alguns setores da indústria.
O crime cometido pela Globo é não apontar esses riscos, sobretudo num país onde não há agências e sistema de justiça com independência e autonomia suficientes para exercer um controle mais rigoroso sobre as práticas de grandes empresas. A falta de punição judicial à Samarco e empresas responsáveis pelo desastre de Mariana é a prova disso.
No site da Eletrobrás, na aba História, vemos uma narrativa que se repete. A criação e consolidação da Eletrobrás está ligada, intrinsicamente, às agitações golpistas do nosso país.
Sempre que governos buscaram elevar o nível de autonomia e soberania do nosso sistema de energia, cresceram os ataques e intensificaram-se as conspirações. Vargas propôs a Eletrobrás em abril de 1954. Alguns meses depois, suicidava-se diante da onda de acusações. O projeto ficou então engavetado por anos a fio e apenas se materializou em 25 de abril de 1961, por assinatura do então presidente Janio Quadros. A imprensa, estranhamente, faz um silêncio ensurdecedor sobre o fato. Meses depois, Janio renunciaria à presidência, após sofrer terríveis pressões políticas.
Coube ao então presidente João Goulart participar da inauguração oficial da Eletrobrás, no dia 11 de junho de 1962. No dia seguinte, o jornal O Globo publicou um editorial ambíguo, no qual saúda trechos do discurso de Goulart que, segundo o jornal, indicam que o presidente “está querendo seguir no rumo certo”. Na linguagem estereotipada do Globo, isso significava afastar-se dos “vermelhos”, e associar-se à direita. Goulart, à época, ainda estava amordaçado pelo parlamentarismo de ocasião que as forças conservadoras impuseram às pressas ao país, após a renúncia de Jânio. Apenas a partir do início de 1963, o Brasil seria novamente presidencialista, por decisão popular, e Jango voltaria então a ser atacado impiedosamente pelas forças imperialistas que sempre patrocinaram a nossa direita e a nossa grande imprensa.
Na mesma edição de 12 de junho de 1962, porém, não faltam, no Globo, inúmeras diatribes histéricas contra o comunismo, contra os sindicatos e contra João Goulart. Na página 2, por exemplo, há uma coluna de Augusto Frederico Schmidt, um intelectual que, décadas antes, tinha sido um editor importante, e que, já velho, tornaria-se um reacionário golpista. Seu texto é uma obra-prima da viralatice das elites brasileiras:
Na mesma edição, não há qualquer reportagem ou texto comemorando ou mesmo analisando o significado, para o país, da criação da Eletrobrás. E isso apesar de reportagens como essa abaixo, sobre a “calamidade pública” provocada pela falta de energia.
A única preocupação do Globo era pinçar trechos do discurso de Goulart, na inauguração da Eletrobrás, que sinalizassem distanciamento em relação às forças de esquerda.
O primeiro-ministro de Goulart era Tancredo Neves.
Na Folha de São Paulo, temos a mesma cobertura: nenhuma análise sobre o significado da Eletrobrás.
A grande imprensa não mudou muito de ontem para hoje. Ao anunciar possível privatização da Eletrobrás, empresa contra a qual sempre foi contra, a nossa imprensa não informa a opinião pública sobre a sua importância histórica na democratização da energia elétrica aos brasileiros, tampouco no processo de industrialização nacional. Também não diz como outros países lidam com seus sistemas elétricos. Não nos informa como outros países fazem para que suas estratégias essenciais de desenvolvimento estejam sempre alinhadas com o planejamento de suas políticas energéticas.
A imprensa brasileira está a serviço exclusivamente de seu interesse político e econômico, que não é o mesmo do povo brasileiro, nem mesmo o das indústrias brasileiras. É uma pena, todavia, que o empresariado nacional tenha, há tempos, se tornado tão viciado no dinheiro fácil do rentismo, que pôs de lado qualquer preocupação sobre os rumos da produção industrial e da nossa infra-estrutura energética.
Os jornalões anunciam que o governo Temer quer privatizar a Eletrobrás, estatal que controla o sistema nacional de energia elétrica, para arrecadar R$ 20 bilhões, que seriam usados para cobrir parte do rombo fiscal (leia-se, dar aos banqueiros).
Segundo o último relatório anual da estatal, a sua receita bruta em 2016 foi de R$ 71 bilhões.
Trata-se de uma estratégia coordenada, fundamentalmente pela Globo, porque será o monopólio de comunicação quem controlará todo o processo de manipulação da opinião pública necessário para levar adiante mais esse crime contra a soberania nacional.
O grupo que assumir o controle da Eletrobrás, terá um poder gigantesco sobre as maiores reservas mundiais de energia elétrica, além de um controle imenso sobre os maiores rios do planeta.
O desastre ambiental provocado pela Samarco mostra bem o perigo oferecido ao meio ambiente e à população pelo uso descuidado da água.
O projeto de privatização da Eletrobrás esboçado pela Globo informa que o governo terá “direito a veto” em decisões estratégicas. Isso é uma maneira invertida de dar notícia. É o processo de manipulação da opinião pública em ação, porque o que ele significa, na verdade, é que o governo perderá o poder de decidir sobre os projetos estratégicos da Eletrobrás.
Como o objetivo dos futuros controladores será maximizar o lucro para seus acionistas, em detrimento do interesse social, haverá necessariamente elevação do custo da energia no país, reduzindo a nossa competitividade e beneficiando países competidores, principalmente os Estados Unidos, com o qual nós competimos nos setores de carnes, soja e refino de petróleo, mas também a China, com a qual competimos em alguns setores da indústria.
O crime cometido pela Globo é não apontar esses riscos, sobretudo num país onde não há agências e sistema de justiça com independência e autonomia suficientes para exercer um controle mais rigoroso sobre as práticas de grandes empresas. A falta de punição judicial à Samarco e empresas responsáveis pelo desastre de Mariana é a prova disso.
No site da Eletrobrás, na aba História, vemos uma narrativa que se repete. A criação e consolidação da Eletrobrás está ligada, intrinsicamente, às agitações golpistas do nosso país.
Sempre que governos buscaram elevar o nível de autonomia e soberania do nosso sistema de energia, cresceram os ataques e intensificaram-se as conspirações. Vargas propôs a Eletrobrás em abril de 1954. Alguns meses depois, suicidava-se diante da onda de acusações. O projeto ficou então engavetado por anos a fio e apenas se materializou em 25 de abril de 1961, por assinatura do então presidente Janio Quadros. A imprensa, estranhamente, faz um silêncio ensurdecedor sobre o fato. Meses depois, Janio renunciaria à presidência, após sofrer terríveis pressões políticas.
Coube ao então presidente João Goulart participar da inauguração oficial da Eletrobrás, no dia 11 de junho de 1962. No dia seguinte, o jornal O Globo publicou um editorial ambíguo, no qual saúda trechos do discurso de Goulart que, segundo o jornal, indicam que o presidente “está querendo seguir no rumo certo”. Na linguagem estereotipada do Globo, isso significava afastar-se dos “vermelhos”, e associar-se à direita. Goulart, à época, ainda estava amordaçado pelo parlamentarismo de ocasião que as forças conservadoras impuseram às pressas ao país, após a renúncia de Jânio. Apenas a partir do início de 1963, o Brasil seria novamente presidencialista, por decisão popular, e Jango voltaria então a ser atacado impiedosamente pelas forças imperialistas que sempre patrocinaram a nossa direita e a nossa grande imprensa.
Na mesma edição de 12 de junho de 1962, porém, não faltam, no Globo, inúmeras diatribes histéricas contra o comunismo, contra os sindicatos e contra João Goulart. Na página 2, por exemplo, há uma coluna de Augusto Frederico Schmidt, um intelectual que, décadas antes, tinha sido um editor importante, e que, já velho, tornaria-se um reacionário golpista. Seu texto é uma obra-prima da viralatice das elites brasileiras:
Na mesma edição, não há qualquer reportagem ou texto comemorando ou mesmo analisando o significado, para o país, da criação da Eletrobrás. E isso apesar de reportagens como essa abaixo, sobre a “calamidade pública” provocada pela falta de energia.
A única preocupação do Globo era pinçar trechos do discurso de Goulart, na inauguração da Eletrobrás, que sinalizassem distanciamento em relação às forças de esquerda.
O primeiro-ministro de Goulart era Tancredo Neves.
Na Folha de São Paulo, temos a mesma cobertura: nenhuma análise sobre o significado da Eletrobrás.
A grande imprensa não mudou muito de ontem para hoje. Ao anunciar possível privatização da Eletrobrás, empresa contra a qual sempre foi contra, a nossa imprensa não informa a opinião pública sobre a sua importância histórica na democratização da energia elétrica aos brasileiros, tampouco no processo de industrialização nacional. Também não diz como outros países lidam com seus sistemas elétricos. Não nos informa como outros países fazem para que suas estratégias essenciais de desenvolvimento estejam sempre alinhadas com o planejamento de suas políticas energéticas.
A imprensa brasileira está a serviço exclusivamente de seu interesse político e econômico, que não é o mesmo do povo brasileiro, nem mesmo o das indústrias brasileiras. É uma pena, todavia, que o empresariado nacional tenha, há tempos, se tornado tão viciado no dinheiro fácil do rentismo, que pôs de lado qualquer preocupação sobre os rumos da produção industrial e da nossa infra-estrutura energética.
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