Por Fernando Morais, no blog Nocaute:
Ela vive em Porto Alegre em um endereço que encerra uma aparente contradição: a avenida Copacabana, nome de um dos locais mais buliçosos do Rio de Janeiro, mas no coração do bairro Tristeza. E foi lá, no seu pequeno apartamento de classe média, que a ex-presidente Dilma Rousseff recebeu nesta segunda-feira, dia 31, a pequena equipe composta por Fernando Morais, editor do Nocaute, e pelos cinegrafistas Mauricio Dias e Paulo Seabra, da Grifa Filmes. O objetivo era realizar com ela uma entrevista para o documentário franco-germano-brasileiro sobre o cinquentenário de 1968, que se comemora no ano que vem.
Dilma falou durante duas horas sobre sua trajetória de adolescente filha de classe média alta que adere à luta armada contra a ditadura militar, sua prisão e as sessões de tortura a que foi submetida – e sobre o legado dessa luta para as gerações seguintes.
Ao final, não se furtou a responder ao Nocaute a duas questões sobre o Brasil de hoje, entre as quais a possibilidade de disputar as eleições de 2018, e posou para a câmera com o presente que recebeu de Morais: o chaveiro com a luva de boxe, símbolo do blog.
Assista à entrevista [aqui].
O Congresso que fraudou o processo do impeachment para coloca-la para fora, para dar um golpe na senhora, esse mesmo Congresso vai votar, depois de amanhã a acusação de corrupção do presidente Postiço Michel Temer. Qual é a expectativa que a senhora tem desse resultado no Congresso?
Olha, eu vou te falar, prudentemente, em probabilidades. Eu acho que as razões que levaram o meu processo de impeachment ser votado num Congresso com aquela quantidade de votos, essas permanecem. Então eu te digo: o que houve no Brasil? Houve que o centro democrático, que lá atrás fez a Constituinte de 1988, atualmente (eu acho que isso começa no final do governo Lula e se aprofunda no meu primeiro e fica claro no segundo), passou a ter hegemonia de extrema direita. Essa hegemonia de extrema direita foi construída por um senhor chamado Eduardo Cunha, que hoje cumpre pena lá em Curitiba. O que significa isso? Significa que ele criou o método. Qual é o método? Compra de deputados. E como é que se dá a compra? A compra se dá através de métodos institucionais. Você vende emendas, você dá vantagens pro deputado. Era essa a prática que ele instituiu. Uma prática com a qual nós tínhamos extrema dificuldade, porque a gente não cumpria esse modelo.
E ele é hoje ainda o grande fiador do governo Temer. Essa é a verdade. Talvez quem tenha falado mais claramente isso foi o senador Renan Calheiros que disse que este governo dirigido de Curitiba por um preso chamado Eduardo Cunha. E isso é importante para se saber o que aconteceu politicamente no Brasil. Isso é o que chamam de governabilidade.
Tem gente que diz que nós erramos porque fizemos um governo de coalizão. Ora, no Brasil para não ter governo de coalizão, tem de ter outra composição no Congresso. Não pode ser essa. Porque você não escolhe se tem governo de coalizão ou não. Você vê a possibilidade de não ter governo de coalização.
O que fizeram o Macron e o establishment francês? Fizeram eleição presidencial e depois faz eleição parlamentar. Com isso ele força uma maioria parlamentar próxima à maioria presidencial anteriormente eleita.
No Brasil viemos de um processo bipartidário, que depois virou um processo com mais partidos. Mas não havia tantos partidos. Tinha uns cinco, seis partidos. Há então um processo de fragmentação partidária. E o fisiologismo, o casuísmo, toda essa forma de relação institucional se dá porque há vinte partidos, trinta partidos. Tem trinta projetos pro Brasil? Não tem. Não tem trinta projeto para país nenhum. Tem vinte projetos? Não tem. Então, o que é que faz cada um desses partidos? Como é que eles chegam ao poder? Porque, se eles não querem chegar ao poder, eles querem o que? Como é que eles chegam? Chegam negociando cargos, negociando emendas e negociando leis.
Dilma falou durante duas horas sobre sua trajetória de adolescente filha de classe média alta que adere à luta armada contra a ditadura militar, sua prisão e as sessões de tortura a que foi submetida – e sobre o legado dessa luta para as gerações seguintes.
Ao final, não se furtou a responder ao Nocaute a duas questões sobre o Brasil de hoje, entre as quais a possibilidade de disputar as eleições de 2018, e posou para a câmera com o presente que recebeu de Morais: o chaveiro com a luva de boxe, símbolo do blog.
Assista à entrevista [aqui].
O Congresso que fraudou o processo do impeachment para coloca-la para fora, para dar um golpe na senhora, esse mesmo Congresso vai votar, depois de amanhã a acusação de corrupção do presidente Postiço Michel Temer. Qual é a expectativa que a senhora tem desse resultado no Congresso?
Olha, eu vou te falar, prudentemente, em probabilidades. Eu acho que as razões que levaram o meu processo de impeachment ser votado num Congresso com aquela quantidade de votos, essas permanecem. Então eu te digo: o que houve no Brasil? Houve que o centro democrático, que lá atrás fez a Constituinte de 1988, atualmente (eu acho que isso começa no final do governo Lula e se aprofunda no meu primeiro e fica claro no segundo), passou a ter hegemonia de extrema direita. Essa hegemonia de extrema direita foi construída por um senhor chamado Eduardo Cunha, que hoje cumpre pena lá em Curitiba. O que significa isso? Significa que ele criou o método. Qual é o método? Compra de deputados. E como é que se dá a compra? A compra se dá através de métodos institucionais. Você vende emendas, você dá vantagens pro deputado. Era essa a prática que ele instituiu. Uma prática com a qual nós tínhamos extrema dificuldade, porque a gente não cumpria esse modelo.
E ele é hoje ainda o grande fiador do governo Temer. Essa é a verdade. Talvez quem tenha falado mais claramente isso foi o senador Renan Calheiros que disse que este governo dirigido de Curitiba por um preso chamado Eduardo Cunha. E isso é importante para se saber o que aconteceu politicamente no Brasil. Isso é o que chamam de governabilidade.
Tem gente que diz que nós erramos porque fizemos um governo de coalizão. Ora, no Brasil para não ter governo de coalizão, tem de ter outra composição no Congresso. Não pode ser essa. Porque você não escolhe se tem governo de coalizão ou não. Você vê a possibilidade de não ter governo de coalização.
O que fizeram o Macron e o establishment francês? Fizeram eleição presidencial e depois faz eleição parlamentar. Com isso ele força uma maioria parlamentar próxima à maioria presidencial anteriormente eleita.
No Brasil viemos de um processo bipartidário, que depois virou um processo com mais partidos. Mas não havia tantos partidos. Tinha uns cinco, seis partidos. Há então um processo de fragmentação partidária. E o fisiologismo, o casuísmo, toda essa forma de relação institucional se dá porque há vinte partidos, trinta partidos. Tem trinta projetos pro Brasil? Não tem. Não tem trinta projeto para país nenhum. Tem vinte projetos? Não tem. Então, o que é que faz cada um desses partidos? Como é que eles chegam ao poder? Porque, se eles não querem chegar ao poder, eles querem o que? Como é que eles chegam? Chegam negociando cargos, negociando emendas e negociando leis.
Contraprestações pecuniárias. Por que isso? Porque o sistema induz a isso. Você não tem cláusula de barreira e tem duas coisas que são institutos democráticos. Tempo de televisão é democrático para os partidos e o povo brasileiro não ficarem sujeitos à TV Globo. Portanto, ultra justo que haja tempo de televisão, que cada partido tenha tempo de televisão pelo seu volume de deputados. O Fundo Partidário também é altamente democrático. Porque é melhor ter um fundo partidário do que ficar sujeito a negociações financeiras.
Mas então o que acontece? Como não há cláusula de barreira incentiva-se o comércio de tempo de televisão e o fundo partidário. Aí você passa a ter um processo de fragmentação monumental. Fernando Henrique precisou de três partidos para fazer maioria simples, quatro para fazer maioria de dois terços. O Lula entre seis e oito, às vezes, doze. Eu cheguei a precisar de vinte. Então, não há governabilidade com isso.
Vamos ver amanhã, daqui a dois dias no Congresso. Vamos ver se o Planalto conseguiu ou não comprar um número suficiente de deputados e se vai conseguir com esses deputados barrar a denúncia de seu Procurador. É isso que nós vamos ver. Agora não sei como está, eu não controlo isso e não me interessa o controle disso. Eu acho que o povo tem que saber que existe isso e que não é possível continuar assim. Então, é isso que vai haver daqui a dois dias.
A outra pergunta eu gostaria que a senhora respondesse, não como mineira, mas como gaúcha. Há cem milhões de pessoas no país querendo lhe fazer esta pergunta: a senhora é candidata a algum cargo político no ano que vem?
Ainda não. Eu nunca achei, viu Fernando, e acho que você também não, que a minha participação política decorresse do fato de eu ser candidata a alguma coisa. Eu posso vir a ser candidata caso interesse a qualquer processo de transformação do Brasil. Mas te digo com sinceridade, hoje não é a minha pauta. Não estou nessa pauta.
A senhora sabe que este filme será exibido no mundo inteiro. Há algo mais que as pessoas precisem saber?
Ah, meu filho. Eu acho que é tão difícil as pessoas saberem… Mas, vocês fizeram uma parte ótima do que é preciso fazer para as pessoas saberem. Eu acho que nós falamos tanto, né. Porque é uma parte tão forte da vida da gente…
Eu gostei muito.
[Rindo e apontando para Morais]: E ele era do Partidão.
Mas então o que acontece? Como não há cláusula de barreira incentiva-se o comércio de tempo de televisão e o fundo partidário. Aí você passa a ter um processo de fragmentação monumental. Fernando Henrique precisou de três partidos para fazer maioria simples, quatro para fazer maioria de dois terços. O Lula entre seis e oito, às vezes, doze. Eu cheguei a precisar de vinte. Então, não há governabilidade com isso.
Vamos ver amanhã, daqui a dois dias no Congresso. Vamos ver se o Planalto conseguiu ou não comprar um número suficiente de deputados e se vai conseguir com esses deputados barrar a denúncia de seu Procurador. É isso que nós vamos ver. Agora não sei como está, eu não controlo isso e não me interessa o controle disso. Eu acho que o povo tem que saber que existe isso e que não é possível continuar assim. Então, é isso que vai haver daqui a dois dias.
A outra pergunta eu gostaria que a senhora respondesse, não como mineira, mas como gaúcha. Há cem milhões de pessoas no país querendo lhe fazer esta pergunta: a senhora é candidata a algum cargo político no ano que vem?
Ainda não. Eu nunca achei, viu Fernando, e acho que você também não, que a minha participação política decorresse do fato de eu ser candidata a alguma coisa. Eu posso vir a ser candidata caso interesse a qualquer processo de transformação do Brasil. Mas te digo com sinceridade, hoje não é a minha pauta. Não estou nessa pauta.
A senhora sabe que este filme será exibido no mundo inteiro. Há algo mais que as pessoas precisem saber?
Ah, meu filho. Eu acho que é tão difícil as pessoas saberem… Mas, vocês fizeram uma parte ótima do que é preciso fazer para as pessoas saberem. Eu acho que nós falamos tanto, né. Porque é uma parte tão forte da vida da gente…
Eu gostei muito.
[Rindo e apontando para Morais]: E ele era do Partidão.
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