A voracidade da mídia conservadora e hegemônica, que para pautar a agenda nacional se apropria do discurso e todos os meios e ferramentas de comunicação, intensificando ataques a projetos progressistas, esteve no centro do debate de abertura do seminário Os desafios da comunicação na administração pública, na noite de ontem (25), em São Luís, Maranhão.
Comandado pelos jornalistas Paulo Henrique Amorim e Renata Mielli, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o painel reuniu o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o prefeito de Macapá, Clécio Luis (Rede), e o deputado federal e ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol).
O consenso entre os gestores que apanharam e seguem apanhando da mídia historicamente controlada por oligarquias – que se aproveitam inclusive de verbas públicas – entendem a necessidade de um projeto de comunicação social voltado para os interesses da população. E não da gestão.
"Herdeiro" de um governo dominado há décadas pela dinastia da família Sarney, Flávio Dino falou sobre "as dores, que doem mas valem a pena" de estar no centro dos ataques da mídia hegemônica no estado, controlada pela mesma família.
Por meio de um "manchetômetro" a partir de manchetes do jornal O Estado do Maranhão, fundado pela família Sarney, de acordo com levantamento de Dino, em 2014, último ano do governo de Roseana Sarney (PMDB), 66% das manchetes do jornal eram positivas.
"Mas no primeiro dia de janeiro de 2015 o Maranhão sofreu uma transformação drástica. Veja que o que era positivo, 66%, virou 8% de manchete. E eu virei pior que as sete pragas do Egito. O negativo que era 5%, virou 53%. De um dia para o outro só tinha tragédia acontecendo no estado. E o nosso governo só piorou. Em 2017, o positivo que virou 8% caiu pra 3%. Então eu vou ficar pior que o Temer, e ficar devendo. E o negativo virou 62%", disse, para delírio da plateia que lotava o auditório do Convento das Mercês, no centro histórico de São Luís.
Em tom descontraído, Dino relatou ataques que já vinham de antes da sua eleição. Lembrou entrevista à afiliada da TV Globo. "Na bancada deles, fizeram seis, sete perguntas sobre o comunismo, me perguntaram um monte de coisa, e o grande final foi quando o repórter me disse para aproveitar os últimos 30 segundos da entrevista para falar de meu programa de governo. Essas coisas não foram só no programa eleitoral. Estão no presente. A cada coisa que o governo vai fazer, há uma série de coisas orquestradas", contou.
Como exemplo, o governador falou sobre a criação de um parque em uma área praticamente abandonada na cidade de São Luís, usada apenas por setores empresariais para festa junina, reunindo amigos em seus camarotes.
"E como só um comunista poderia imaginar, resolvi transformar aquilo em uma praça pública. E como tem brinquedo na praça, vez ou outra uma criança se machuca. Aquilo virou uma série sobre praça comunista assassina. Havia reportagem no estilo Gil Gomes: 'foi aqui, nessa praça....'. Chegaram ao ponto de defender a ideia de que, como espaço público, o estado deveria oferecer cuidadores. Eu fiquei então imaginando a praia, o parque do Ibirapuera, tudo cheio de cuidadores”, disse.
Em meio a relatos bem humorados de uma perseguição incessante, que esconde o fato de o governo já ter reformado mais de 600 escolas em todo o estado, ter construído hospitais, incentivado a agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis para a rede pública de ensino, revigorado uma rádio pública de 76 anos, a rádio Timbira, que tem audiência crescente. O próprio auditório do Convento das Mercês, onde Padre Antônio Vieira viveu e escreveu obras como O Sermão de Santo Antônio aos Peixes, foi reformado pela atual gestão, porque havia risco de desabar.
Para Flávio Dino, toda essa disputa que toma não só o Maranhão como todo o país é herança colonial. "Essa herança, vista nessa Praia Grande de São Luís, por exemplo, faz com que a gente compreenda como os meios de comunicação deveriam se estruturar de um modo diferente e que nesse contorno nu e cru, ao mesmo tempo voraz, contundente, avassalador, da herança do colonialismo, do escravismo, da dominação, da concentração da riqueza na mãos de poucos".
"São esses traços ideológicos que dificultam que a nossa experiência de governo possa ir adiante. Mas ao mesmo tempo, a luta dos indígenas do Maranhão nos alimenta também nessa ideia de que, apesar das dificuldades inerentes a esse processo de luta contra a hegemonia, a dominação, há muito caminho a trilhar nessa contra-hegemonia. E há resultados. Vale a pena. Eu faço isso quase como uma reflexão para mim mesmo: apesar do massacre diário, vale a pena. Dia desses minha mãe, idosa, me acorda cedo, dizendo que estão falando horrores de mim no rádio. Eu disse, então atire o rádio pela janela ou mude a estação. Não é que não doa. Dói. Mas vale a pena”.
Comandado pelos jornalistas Paulo Henrique Amorim e Renata Mielli, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o painel reuniu o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o prefeito de Macapá, Clécio Luis (Rede), e o deputado federal e ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol).
O consenso entre os gestores que apanharam e seguem apanhando da mídia historicamente controlada por oligarquias – que se aproveitam inclusive de verbas públicas – entendem a necessidade de um projeto de comunicação social voltado para os interesses da população. E não da gestão.
"Herdeiro" de um governo dominado há décadas pela dinastia da família Sarney, Flávio Dino falou sobre "as dores, que doem mas valem a pena" de estar no centro dos ataques da mídia hegemônica no estado, controlada pela mesma família.
Por meio de um "manchetômetro" a partir de manchetes do jornal O Estado do Maranhão, fundado pela família Sarney, de acordo com levantamento de Dino, em 2014, último ano do governo de Roseana Sarney (PMDB), 66% das manchetes do jornal eram positivas.
"Mas no primeiro dia de janeiro de 2015 o Maranhão sofreu uma transformação drástica. Veja que o que era positivo, 66%, virou 8% de manchete. E eu virei pior que as sete pragas do Egito. O negativo que era 5%, virou 53%. De um dia para o outro só tinha tragédia acontecendo no estado. E o nosso governo só piorou. Em 2017, o positivo que virou 8% caiu pra 3%. Então eu vou ficar pior que o Temer, e ficar devendo. E o negativo virou 62%", disse, para delírio da plateia que lotava o auditório do Convento das Mercês, no centro histórico de São Luís.
Em tom descontraído, Dino relatou ataques que já vinham de antes da sua eleição. Lembrou entrevista à afiliada da TV Globo. "Na bancada deles, fizeram seis, sete perguntas sobre o comunismo, me perguntaram um monte de coisa, e o grande final foi quando o repórter me disse para aproveitar os últimos 30 segundos da entrevista para falar de meu programa de governo. Essas coisas não foram só no programa eleitoral. Estão no presente. A cada coisa que o governo vai fazer, há uma série de coisas orquestradas", contou.
Como exemplo, o governador falou sobre a criação de um parque em uma área praticamente abandonada na cidade de São Luís, usada apenas por setores empresariais para festa junina, reunindo amigos em seus camarotes.
"E como só um comunista poderia imaginar, resolvi transformar aquilo em uma praça pública. E como tem brinquedo na praça, vez ou outra uma criança se machuca. Aquilo virou uma série sobre praça comunista assassina. Havia reportagem no estilo Gil Gomes: 'foi aqui, nessa praça....'. Chegaram ao ponto de defender a ideia de que, como espaço público, o estado deveria oferecer cuidadores. Eu fiquei então imaginando a praia, o parque do Ibirapuera, tudo cheio de cuidadores”, disse.
Em meio a relatos bem humorados de uma perseguição incessante, que esconde o fato de o governo já ter reformado mais de 600 escolas em todo o estado, ter construído hospitais, incentivado a agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis para a rede pública de ensino, revigorado uma rádio pública de 76 anos, a rádio Timbira, que tem audiência crescente. O próprio auditório do Convento das Mercês, onde Padre Antônio Vieira viveu e escreveu obras como O Sermão de Santo Antônio aos Peixes, foi reformado pela atual gestão, porque havia risco de desabar.
Para Flávio Dino, toda essa disputa que toma não só o Maranhão como todo o país é herança colonial. "Essa herança, vista nessa Praia Grande de São Luís, por exemplo, faz com que a gente compreenda como os meios de comunicação deveriam se estruturar de um modo diferente e que nesse contorno nu e cru, ao mesmo tempo voraz, contundente, avassalador, da herança do colonialismo, do escravismo, da dominação, da concentração da riqueza na mãos de poucos".
"São esses traços ideológicos que dificultam que a nossa experiência de governo possa ir adiante. Mas ao mesmo tempo, a luta dos indígenas do Maranhão nos alimenta também nessa ideia de que, apesar das dificuldades inerentes a esse processo de luta contra a hegemonia, a dominação, há muito caminho a trilhar nessa contra-hegemonia. E há resultados. Vale a pena. Eu faço isso quase como uma reflexão para mim mesmo: apesar do massacre diário, vale a pena. Dia desses minha mãe, idosa, me acorda cedo, dizendo que estão falando horrores de mim no rádio. Eu disse, então atire o rádio pela janela ou mude a estação. Não é que não doa. Dói. Mas vale a pena”.
Democracia
Fernando Haddad defendeu o debate e a reflexão da comunicação sob o aspecto das ampliação da diversidade na difusão das informações. "É preciso combater a concentração da propriedade dos meios de comunicação a todo custo. E isso não é censura. É o oposto da censura. A concentração é contra a democracia, atrapalha a democracia", disse.
Ele lembrou a ação movida pela Associação Nacional de Jornais contra a participação estrangeira em sites e blogs. "Esse ataque a fontes de informação que garantem pluralidade no acesso ao direito à informação só acontece no Brasil, um país onde sete famílias – não passa de dez, com certeza – detêm uma espécie de monopólio da agenda política nacional. É um monopólio do ponto de vista político, porque essa agenda é determinada por grupos que têm o mesmo pensamento nos assuntos nacionais. E mesmo que um dele se insurja contra um político confessadamente corrupto, a agenda continua a mesma – a agenda de reformas contras os trabalhadores brasileiros. Aquilo que levamos tempo de uma ditadura para botar de pé. Então, o pacto que em 1988 rompeu com a ditadura não pode ser desrespeitado pelo poder derivado de um congresso enviesado, eleito com baixa capacidade de representação, que não vão fazer uma reforma do bem porque essa reforma do bem conflita com os interesses desse congresso."
E defendeu mais educação para a comunicação, para o enfrentamento dessa manipulação midiática. "Temos de educar a população para receber de forma autônoma essa informação turbinada por novos expedientes para que as pessoas possam se valer da comunicação, se aprofundar no entendimento. Não podemos fazer dessa forma de interação um sinal de retrocesso em nosso país. Estamos correndo o risco de um grande retrocesso. Educar para a democracia é uma tarefa diária, A democracia é uma conquista civilizatória, que precisa ser cuidada todo dia. A democracia pode alavancar os pressupostos da sua destruição. Nós passamos o século 20 assistindo a isso, como a falta de democracia. Então temos de nos preocupar com a comunicação se queremos a melhora do país. Não é só com o rombo, com a recuperação econômica."
Para o ex-prefeito de São Paulo, que está sendo processado pela Jovem Pan por um suposto "trote" dado ao apresentador de um de seus programas, "não podemos perder de vista o debate sobre a comunicação. Já passamos dos limites da irresponsabilidade, da omissão frente a isso. Então isso tem de estar na ordem do dia do próximo governo".
O ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, destacou o desafio de fazer uma política de comunicação social para informar o povo sobre iniciativas de seu interesse – e não fazer desse direito à informação mais um palanque. Isso em uma perspectiva de oposição feroz de políticos que muitas vezes são aqueles que controlam os meios de comunicação.
"Erramos muito mas conseguimos, em 2015, encontrar um caminho: ter sempre uma verdade para comunicar; ter um serviço, uma obra, algo real de interesse público."
Entre os acertos, destacou o incentivo à criação de meios de comunicação comunitários, como rádios existentes em feiras, com alto-falantes instalados em postes, um jornal e a chamada TV de rua, com a participação direta da população. "Uma experiência linda. É preciso pensar a comunicação porque o nosso medo, as nossas tristezas podem alongar essa penumbra que antecede a luz. Temos de ter mais ousadia em uma tomada de posição. O desafio é combater a hegemonia com um projeto anti-hegemônico", disse.
Em Macapá, capital de ex-território tutelado e dominado pelas forças do estado e pelas oligarquias que historicamente sustentam o poder na região amazônica, ainda está no início de uma caminhada para aproximar a população de um projeto de gestão popular.
Entre suas iniciativas mais bem sucedidas está a utilização das mídias sociais não só para comunicar, mas para fazer com que a população se aproprie do seu papel em um política que coloca o cidadão como corresponsável pelo cuidado do seu território. "O caminho foi dado a partir de um vídeo de grande repercussão que postei, em que chamava a população a fazer sua parte no cuidado à manutenção da limpeza nos canais de igarapés", lembrou o gestor.
Organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o evento que termina na tarde deste sábado (26) conta com apoio do governo do estado do Maranhão, do Fórum Nacional em Defesa da Democratização da Comunicação (FNDE), Fundação Mauricio Grabois, Fundação Perseu Abramo e Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini.
Fernando Haddad defendeu o debate e a reflexão da comunicação sob o aspecto das ampliação da diversidade na difusão das informações. "É preciso combater a concentração da propriedade dos meios de comunicação a todo custo. E isso não é censura. É o oposto da censura. A concentração é contra a democracia, atrapalha a democracia", disse.
Ele lembrou a ação movida pela Associação Nacional de Jornais contra a participação estrangeira em sites e blogs. "Esse ataque a fontes de informação que garantem pluralidade no acesso ao direito à informação só acontece no Brasil, um país onde sete famílias – não passa de dez, com certeza – detêm uma espécie de monopólio da agenda política nacional. É um monopólio do ponto de vista político, porque essa agenda é determinada por grupos que têm o mesmo pensamento nos assuntos nacionais. E mesmo que um dele se insurja contra um político confessadamente corrupto, a agenda continua a mesma – a agenda de reformas contras os trabalhadores brasileiros. Aquilo que levamos tempo de uma ditadura para botar de pé. Então, o pacto que em 1988 rompeu com a ditadura não pode ser desrespeitado pelo poder derivado de um congresso enviesado, eleito com baixa capacidade de representação, que não vão fazer uma reforma do bem porque essa reforma do bem conflita com os interesses desse congresso."
E defendeu mais educação para a comunicação, para o enfrentamento dessa manipulação midiática. "Temos de educar a população para receber de forma autônoma essa informação turbinada por novos expedientes para que as pessoas possam se valer da comunicação, se aprofundar no entendimento. Não podemos fazer dessa forma de interação um sinal de retrocesso em nosso país. Estamos correndo o risco de um grande retrocesso. Educar para a democracia é uma tarefa diária, A democracia é uma conquista civilizatória, que precisa ser cuidada todo dia. A democracia pode alavancar os pressupostos da sua destruição. Nós passamos o século 20 assistindo a isso, como a falta de democracia. Então temos de nos preocupar com a comunicação se queremos a melhora do país. Não é só com o rombo, com a recuperação econômica."
Para o ex-prefeito de São Paulo, que está sendo processado pela Jovem Pan por um suposto "trote" dado ao apresentador de um de seus programas, "não podemos perder de vista o debate sobre a comunicação. Já passamos dos limites da irresponsabilidade, da omissão frente a isso. Então isso tem de estar na ordem do dia do próximo governo".
O ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, destacou o desafio de fazer uma política de comunicação social para informar o povo sobre iniciativas de seu interesse – e não fazer desse direito à informação mais um palanque. Isso em uma perspectiva de oposição feroz de políticos que muitas vezes são aqueles que controlam os meios de comunicação.
"Erramos muito mas conseguimos, em 2015, encontrar um caminho: ter sempre uma verdade para comunicar; ter um serviço, uma obra, algo real de interesse público."
Entre os acertos, destacou o incentivo à criação de meios de comunicação comunitários, como rádios existentes em feiras, com alto-falantes instalados em postes, um jornal e a chamada TV de rua, com a participação direta da população. "Uma experiência linda. É preciso pensar a comunicação porque o nosso medo, as nossas tristezas podem alongar essa penumbra que antecede a luz. Temos de ter mais ousadia em uma tomada de posição. O desafio é combater a hegemonia com um projeto anti-hegemônico", disse.
Em Macapá, capital de ex-território tutelado e dominado pelas forças do estado e pelas oligarquias que historicamente sustentam o poder na região amazônica, ainda está no início de uma caminhada para aproximar a população de um projeto de gestão popular.
Entre suas iniciativas mais bem sucedidas está a utilização das mídias sociais não só para comunicar, mas para fazer com que a população se aproprie do seu papel em um política que coloca o cidadão como corresponsável pelo cuidado do seu território. "O caminho foi dado a partir de um vídeo de grande repercussão que postei, em que chamava a população a fazer sua parte no cuidado à manutenção da limpeza nos canais de igarapés", lembrou o gestor.
Organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o evento que termina na tarde deste sábado (26) conta com apoio do governo do estado do Maranhão, do Fórum Nacional em Defesa da Democratização da Comunicação (FNDE), Fundação Mauricio Grabois, Fundação Perseu Abramo e Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini.
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