segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A matéria fake da Folha sobre terceirização

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

O pior dos mundos para um país é quando a sua imprensa trata de embromar o povo para favorecer as classes mais abastadas. Trocando em miúdos a coluna da ombudsman da Folha de São Paulo deste domingo, foi isso que o jornal fez ao divulgar, no domingo anterior, manchete principal de primeira página que estarreceu as pessoas sérias e informadas.

E acordou um monte de coxinhas que leem o jornal…



A matéria chocou muita gente esclarecida porque os efeitos nefastos da terceirização sobre o trabalhador são sobejamente conhecidos. Basta ir a alguma dessas agências que “vendem” mão-de-obra terceirizada e verificar que esses mercadores de escravos modernos vendem, basicamente, “redução de custos com mão-de-obra”.



Eis que a Folha apresenta um estudo fake baseado na prospecção exclusiva de áreas em que o nível de terceirização já é alto, tais como limpeza, segurança patrimonial (ou vigilância) e telemarketing.

Assim mesmo, o estudo feito por pesquisadores da USP que militam a favor da terceirização apurou o contrário do que disse a manchete da Folha. A reportagem mostra que a terceirização causa, sim, piora do ganho salarial da mão de obra terceirizada.

Diante desse quadro, a ombudsman da Folha, Paula Cesarino da Costa, repercutiu, neste domingo, as queixas dos leitores sobre uma reportagem que diz o oposto do que a manchete espalhafatosa afirma, ou seja, que terceirização “não” causa queda do salário do terceirizado…

A ombudsman martela a questão de a manchete da Folha dizer que NÃO há perda salarial para funcionário que era terceirizado e passa a ser apesar de a reportagem e o estudo a que ela se refere dizerem o contrário, mas não aborda duas questões centrais.

Paula Cesarino da Costa, ombudsman da Folha, parece não ter se dado conta de dois fatores. Os pesquisadores da USP que produziram esse estudo malandro chamam-se Eduardo Zylberstejn e Helio Zylberstejn – seriam parentes do ex-genro de FHC, David Zylberstjn, cujas estripulias na ANP todos se lembram?

Pouco importa. Esses dois são militantes da terceirização e produziram um estudo malandro para ajudar a vender a tese de que terceirizar é bom.

O que acontece com a terceirização ampla, geral e irrestrita hoje no Brasil é que não mais se limitará a atividades secundárias das empresas. Agora, por exemplo, bancos poderão contratar funcionários como caixas, entre outros, como terceirizados.

É óbvio, basta usar um mínimo de bom senso para entender que a grande redução salarial que vem aí para os brasileiros será entre os novos terceirizados, aqueles funcionários ligados à atividade-fim das empresas.

Para que alguma empresa possa lucrar com essa nova mão-de-obra disponível para terceirização será necessário achatar salários para o intermediário extrair lucro.

Não parece ser tão difícil assim de entender, mas tem gente que finge que não entende, como os autores da matéria da Folha que desmente o que não tem como ser desmentido.

Nesse contexto, a nova lei sobre terceirização tem potencial para mudar a estrutura do mercado de trabalho no Brasil e deverá fazer com que os trabalhadores sob esse regime passem a ser maioria no Brasil, segundo o sociólogo do trabalho Ruy Braga declarou ao jornal Valor Econômico

Isso porque os brasileiros hoje terceirizados têm duas características ainda predominantes no mercado de trabalho brasileiro – eles são pouco qualificados e recebem baixos salários.

Segundo a Rais, 73% dos terceirizados têm remuneração média de até três salários mínimos e 75,9%, escolaridade que chega, no máximo, ao ensino médio completo. Um em cada cinco concluíram, no máximo, o fundamental.

“A terceirização ampla pode promover uma inversão estrutural no mercado de trabalho. Em cinco, sete anos o total de terceirizados pode chegar a 75%”, diz professor do departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP).

O processo poderia começar dentro da própria universidade, ele afirma. Tirando os professores, cerca de 75% dos funcionários da USP são celetistas e apenas 25% estatutários, regime que prevê estabilidade no cargo. “Todos esses 75% são passíveis de serem terceirizados”, avalia.

A onda de terceirização que vem por aí no Brasil, portanto, promoverá forte redução de salários sobretudo na classe média, que percebe salários mais altos e, antes da lei autorizando terceirização discriminada, estava protegida dessa forma alternativa de os empresários aumentarem seus lucros diminuindo salários.

Com efeito, comparar uma realidade em que funcionários mais especializados trabalharão agora no regime que antes era destinado a pessoas sem qualificação e que exercem funções servis e ganham mal sempre, em todas as situações, chega a ser ridículo.

Foi por isso que a ombudsman da Folha veio a público, porque a classe média desinformada que apoiou o golpe contra Dilma, de repente se dá conta de que a precarização do mercado de trabalho vai bater essencialmente nas portas daquela turma que vestiu camisa da Seleção para derrubar o governo anterior.

A Folha deu todo esse destaque a um estudo fake e malandro porque está preparando o espírito daqueles que vão entrar em 2018 com péssimas notícias sobre seu ganha-pão, com a tal “livre-negociação” entre a garganta e a navalha e a terceirização indiscriminada.

Confira, abaixo, a crítica da ombudsman da Folha, que sugere tudo que está dito acima, mas com outras palavras




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: