Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
A profunda irresponsabilidade da mídia comercial para com o país é velha conhecida de qualquer brasileiro que conheça o mínimo de história. Em 1964, todos os jornais apoiaram abertamente o golpe militar, para, a partir do endurecimento do regime, se dizerem “vítimas” de censura. O mesmo aconteceu em 2016: apoiaram a derrubada de uma presidenta eleita (e honesta) sem se importar a mínima para o abalo que isto significaria a nosso Estado de direito. Agora, criticam a insubordinação crescente nos quartéis.
É ultrajante, para quem se posicionou em favor do respeito às urnas, ler um artigo como o que publicou a colunista de O Globo Míriam Leitão na última quinta-feira, 20 de setembro. Fazendo de conta que seu jornal não teve participação alguma no golpe parlamentar que destituiu uma presidenta, e inclusive desprezando o histórico golpista da empresa da qual é funcionária e porta-voz, a jornalista se mostra indignada com a frouxidão do governo de Michel Temer diante da desfaçatez de generais que estão a defender abertamente uma intervenção militar no país.
“A mais explícita ameaça ao país em 32 anos de democracia”, brada a colunista, em referência à fala ameaçadora do general Mourão, absurdamente respaldada por seu superior hierárquico, o comandante do Exército, general Villas Bôas. “O governo Michel Temer é fraco e teme as Forças Armadas. Bastou uma cara feia para os militares serem tirados da reforma da Previdência. Só mesmo um governo claudicante como este pode não entender o quão inaceitável é tudo isso que se passou diante de nós nos últimos dias.”
Hoje, é o jornal Folha de S.Paulo quem critica, em editorial, o “desatino” das falas de Mourão, ao mesmo tempo que, de forma sabuja, covarde, faz rapapés ao comandante do Exército, em busca, talvez, de chamá-lo à razão. “O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, escolheu o caminho diplomático”, bajula a Folha. “Resolveu o caso com conversas internas e uma nota pública, na qual reiterou seu compromisso com a consolidação da democracia e afirmou que somente ele fala em nome da instituição. O episódio terminou como começou: sem maior importância.”
A Folha mente a seus leitores: o episódio não terminou. Quando até o presidente da República que a mídia elegeu começa a falar que caminhamos rumo a “um regime de exceção”, como fez Temer nesta sexta-feira, é razão para os brasileiros verdadeiramente democratas estarem de orelhas em pé. À imagem e semelhança de seus patrocinadores midiáticos, o presidente se mostra entre apatetado e surpreso com os rumos que nosso país está tomando, como se nada tivesse a ver com isso.
Espanta e indigna os cidadãos conscientes ver apoiadores de um golpe reclamando do assanhamento das casernas. Ora, quando se promove a sabotagem das instituições, quando se flerta com o autoritarismo, quando se burla o que há de mais sagrado na democracia, o voto, abre-se as portas para que tudo possa acontecer. Se não há sinal de reverência ao Estado de direito por parte de civis, por que haveria por parte dos militares? O golpe contra Dilma pavimentou o caminho para uma nova insurreição militar, algo que não parecia possível nem em nossos piores pesadelos, e, em vez de fingir estranhamento, a mídia comercial deveria assumir seu quinhão de responsabilidade logo. Ou teremos que esperar 20 anos?
O ódio ao PT virou irmão gêmeo do desamor ao Brasil. Para arrancar os petistas do poder, valia tudo, até atirar o país no abismo. A esquerda alertou muitas vezes que a farsa do impeachment era, sobretudo, perigosa para o destino de nossa frágil democracia. O que fizeram os jornais e TVs? Promover as manifestações contra Dilma dia e noite, inflar artificialmente a crise econômica no noticiário, instigar um ridículo e anacrônico anticomunismo, apadrinhar o caos. Se estamos neste inimaginável retrocesso de temer uma “nova” ditadura militar, a culpa também é da “grande” imprensa.
É ultrajante, para quem se posicionou em favor do respeito às urnas, ler um artigo como o que publicou a colunista de O Globo Míriam Leitão na última quinta-feira, 20 de setembro. Fazendo de conta que seu jornal não teve participação alguma no golpe parlamentar que destituiu uma presidenta, e inclusive desprezando o histórico golpista da empresa da qual é funcionária e porta-voz, a jornalista se mostra indignada com a frouxidão do governo de Michel Temer diante da desfaçatez de generais que estão a defender abertamente uma intervenção militar no país.
“A mais explícita ameaça ao país em 32 anos de democracia”, brada a colunista, em referência à fala ameaçadora do general Mourão, absurdamente respaldada por seu superior hierárquico, o comandante do Exército, general Villas Bôas. “O governo Michel Temer é fraco e teme as Forças Armadas. Bastou uma cara feia para os militares serem tirados da reforma da Previdência. Só mesmo um governo claudicante como este pode não entender o quão inaceitável é tudo isso que se passou diante de nós nos últimos dias.”
Hoje, é o jornal Folha de S.Paulo quem critica, em editorial, o “desatino” das falas de Mourão, ao mesmo tempo que, de forma sabuja, covarde, faz rapapés ao comandante do Exército, em busca, talvez, de chamá-lo à razão. “O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, escolheu o caminho diplomático”, bajula a Folha. “Resolveu o caso com conversas internas e uma nota pública, na qual reiterou seu compromisso com a consolidação da democracia e afirmou que somente ele fala em nome da instituição. O episódio terminou como começou: sem maior importância.”
A Folha mente a seus leitores: o episódio não terminou. Quando até o presidente da República que a mídia elegeu começa a falar que caminhamos rumo a “um regime de exceção”, como fez Temer nesta sexta-feira, é razão para os brasileiros verdadeiramente democratas estarem de orelhas em pé. À imagem e semelhança de seus patrocinadores midiáticos, o presidente se mostra entre apatetado e surpreso com os rumos que nosso país está tomando, como se nada tivesse a ver com isso.
Espanta e indigna os cidadãos conscientes ver apoiadores de um golpe reclamando do assanhamento das casernas. Ora, quando se promove a sabotagem das instituições, quando se flerta com o autoritarismo, quando se burla o que há de mais sagrado na democracia, o voto, abre-se as portas para que tudo possa acontecer. Se não há sinal de reverência ao Estado de direito por parte de civis, por que haveria por parte dos militares? O golpe contra Dilma pavimentou o caminho para uma nova insurreição militar, algo que não parecia possível nem em nossos piores pesadelos, e, em vez de fingir estranhamento, a mídia comercial deveria assumir seu quinhão de responsabilidade logo. Ou teremos que esperar 20 anos?
O ódio ao PT virou irmão gêmeo do desamor ao Brasil. Para arrancar os petistas do poder, valia tudo, até atirar o país no abismo. A esquerda alertou muitas vezes que a farsa do impeachment era, sobretudo, perigosa para o destino de nossa frágil democracia. O que fizeram os jornais e TVs? Promover as manifestações contra Dilma dia e noite, inflar artificialmente a crise econômica no noticiário, instigar um ridículo e anacrônico anticomunismo, apadrinhar o caos. Se estamos neste inimaginável retrocesso de temer uma “nova” ditadura militar, a culpa também é da “grande” imprensa.
Míriam, não faça a egípcia. Em março de 2016, você chegou a publicar um texto em seu blog onde, como se fosse uma advogada do impeachment, uma Janaina Paschoal do jornalismo, fornecia o álibi para o golpe que seria dado em seguida contra Dilma Roussef. Apontava ali pelo menos três “crimes de responsabilidade” que a presidenta teria cometido, uma mentira, porque isso nunca se confirmou. Pelo contrário, em um ano Dilma já foi inocentada de pelo menos cinco acusações feitas no impeachment, enquanto o governo que você e os Marinho empossaram (e contra o qual agora se voltam), chafurda na lama da corrupção.
Se, portanto, nosso país caminha “para um regime de exceção”, nas palavras do próprio Temer, você, Míriam, tem responsabilidade nisso. Desta vez, infelizmente, não lutou bravamente contra golpe algum, você assinou embaixo dele, junto com seus patrões. O exemplo dado pela mídia foi o pior possível, tanto para a nação quanto para os militares. Após ajudar a puxar o tapete de uma presidenta eleita, não se pode apontar o dedo para generais exigindo apreço à democracia.
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