quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Palocci, um traste humano

Por Jeferson Miola

É óbvio ululante que a “carta-testamento” do Antonio Palocci não teve o PT como destinatário real, mas sim seus carcereiros de Curitiba. Está claro, também, que a carta é apenas uma trapaça de um velhaco desesperado e sem compromisso com a verdade e com a dignidade, com a honra e com a história alheia.

Com a vilania, ele somou pontos na negociação de “contrapartidas” com seus carcereiros. As vantagens não serão desprezíveis: a proteção de parte significativa do formidável patrimônio que ele amealhou no mundo do crime, assim como a redução considerável dos anos no cárcere.

Palocci se esmerou em elaborar um documento com altíssimo poder semiótico. Não são fortuitas, em nenhuma hipótese, as inúmeras descrições no texto recheadas de sentidos e significados:

- “... as situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-Presidente Lula”;

- “... a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção ... principalmente a partir do segundo governo Lula”;

- “... destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”;

- “... toda uma rede de sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão”;

- “Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ou pior dos costumes políticos”;

- “... onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história”;

- “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’, ...?”;

- “Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”;

- “... pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral”.


Uma passagem, entretanto, sintetiza o poder semiótico da carta do Palocci:

“... ‘o cara’, nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos”.

Palocci se assumiu como roteirista da Globo e da oligarquia golpista, condição que deverá lhe render benefícios adicionais, além daqueles que receberá dos carcereiros de Curitiba.

A carta é o roteiro que a classe dominante buscava para a narrativa de desconstrução da imagem, do significado e do legado dos governos civilizatórios do ex-presidente Lula. Tem o poder de um míssil nuclear para aniquilar Lula e o PT.

Palocci escreveu que já virou essa página. “Ao chegar ao porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta”.

Não é improvável que, depois de colaborar para destruir Lula e o PT, o “italiano” se auto-exilie na Itália [país em que deve ter cidadania], para viver com os milhões amealhados e oferecidos em “contrapartida” pela Lava Jato.

Seja onde e como ele viver, entretanto, Palocci não perderá, durante nada menos que toda a eternidade, a condição de traste humano.

Um comentário:

  1. Traste nojento,repugnante,seu castigo vem a cavalo,porque aqui se faz e aqui
    se paga.

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