Por Renato Bazan, no site da CTB:
Três jornalistas essenciais para a imprensa progressista se reuniram na noite desta segunda-feira (16) para falar do papel da mídia na política: Eleonora de Lucena, ex-editora executiva da Folha de S.Paulo; Inácio Carvalho, editor do Portal Vermelho; e Rodrigo Vianna, autor do blog Escrevinhador e diretor do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
O encontro inaugura o ciclo de palestras organizado pelo Barão de Itararé para comemorar a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, e aborda um dos três aspectos centrais dos debates conjunturais frente ao golpe de 2016: a atuação da imprensa, a atuação da equipe econômica e a atuação do Judiciário. Você pode assistir à íntegra do primeiro debate [aqui].
Para Eleonora, mídia e política fazem parte de um todo, que não pode ser considerado de forma separada. “Todo jornal trabalha dentro de uma concepção política. A primeira evidência disso já veio na Revolução Francesa, quando o que hoje a gente chama de ‘fake news’ dominou o debate público. O que dá pra dizer é que em nenhum outro lugar no mundo a televisão conquistou tamanha força de influência na opinião pública quanto no Brasil. Ela tomou o papel formador, conciliador, e foi ela que formatou a ideia de nação na população”, refletiu a ex-editora da Folha.
Ela citou o exemplo do debate entre Lula e Collor em 89 para ilustrar tal força, e disse enxergar justamente na vitória das esquerdas latino-americanas o impulso para que a imprensa oligopolista se agarrasse aos valores neoliberais. “Com o terremoto econômico de 2008, essa fúria da imprensa contra a esquerda se exacerba, se torna estridente. A mídia tenta proteger os interesses das elites, e daí vem a eliminação do contraditório, a estridência, a violência simbólica - é uma tentativa de justificar a falência do capitalismo. A ideia dessas organizações não é trabalhar no esclarecimento das dúvidas, mas no aproveitamento das dúvidas para direcionar o público”, concluiu.
Para Inácio Carvalho, o momento brasileiro é único, pois nunca a mídia assumiu um papel tão militante quanto em 2016. “Eu me recordo que, ainda em 2010, o Estadão escreveu um editorial no qual assumia que ‘se a oposição não cumpria seu papel, então o cumpririam eles mesmos’. 2016 foi a consolidação daquilo, nos mostrou o caráter militante desses grupos, cujo objetivo é transformar os interesses dos oligopólios e das elites nos interesses de toda a população”, analisou.
Ele explicou a visão política central do bloco golpista: de entrega do país, de privatização e aprovação das reformas. Para isso, faz-se necessária a construção de uma narrativa diferenciada de realidade, ainda que o governo Temer cometa erros que minem completamente sua credibilidade. A função da mídia progressista diante desse cenário seria explorar as contradições das forças reacionárias para fazer um apelo ao centro político, que foi esmagado a partir de 2015. “Nós temos entre 26 e 28 milhões de pageviews por mês em toda a mídia progressista, e isso tem uma força poderosa. Nós temos que usar isso para apontar caminhos, projetos, ideias. É possível buscar segmentos que dividem as nossas preocupações, como a questão da intolerância, da democracia, do desenvolvimento nacional, do combate ao trabalho escravo. Será possível que não existe ninguém que se iludiu com o golpe mas se sensibilize com esse projeto?”, questionou.
O terceiro palestrante, Rodrigo Vianna, aproveitou seu tempo para fazer uma análise da disputa de narrativas entre a grande mídia, a mídia progressista e o segmento crescente de extremistas de direita no Brasil. Ele fez menção específica ao MBL, ao tratar do terceiro caso: “O caso da revista Veja, entre outros, mostra que a grande imprensa fomentou a intolerância, mas agora é atacada pelos próprios intolerantes que criaram. Os sinais que eles têm dado é de que eles estão com medo dessa direita conservadora representada por Bolsonaro e Doria. Nós precisamos inclusive fazer uma batalha de linguagem, de isolar esses grupos extremistas de direita e tachá-los pelo que são: “milícia”, “extremistas”, “radicais”, “contra a cultura e contra a democracia”. Talvez assim nós reencontremos o espaço para debate”, sugeriu.
O blogueiro frisou, como seus colegas, que a imprensa sempre foi um instrumento de disputa, e que não há nada de recente na apropriação do jornalismo como “ferramenta da guerra”. Para ele, a falácia real é a ideia que foi vendida a a partir dos anos 80 de que a imprensa é independente. “Isso é uma falácia, não é verdade. Em 2016, o que nós vimos foi uma atuação blocada, muito parecido com 64. Agora estamos num momento em que aparecem dissonâncias entre os golpistas, e isso cria a questão da estridência. Nós podemos usar essa perda de controle para recuperar a opinião pública”, sugeriu.
A mesa de debates é apenas a primeira de três, todas a serem realizadas pelo Barão de Itararé conforme o panfleto abaixo e transmitidas em tempo real na página da instituição no Facebook. Você poderá acompanhar os eventos também através do perfil da CTB no Facebook, ou assisti-los na íntegra aqui, no Portal CTB.
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