quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Merval Pereira foi bem pago pelo Senac-RJ

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Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

A notícia é do Intercept.

Uma auditoria no Senac do Rio de Janeiro apontou diversas irregularidades na gestão de Orlando Diniz, amigo e ex-vizinho do ex-governador Sérgio Cabral, condenado na Lava Jato a 45 anos de prisão.

(A relação era muito boa. A governanta de Sérgio Cabral, Sônia Baptista contou em depoimento à Justiça Federal que os gastos pessoais do ex-governador que ficavam sob sua responsabilidade giravam em torno de R$ 120 mil a R$ 150 mil por mês. Sônia era lotada no Senac, mas não aparecia para trabalhar: “Era como se eu estivesse cedida”.)

O documento, diz o Intercept, está sendo analisado pelo Conselho Fiscal do Senac Nacional. Se tudo for comprovado, pode ser pedida intervenção na entidade.

O Senac já demitiu mais de mil pessoas entre janeiro e maio. No ano passado, o orçamento era de mais de 450 milhões de reais.

O dinheiro, escrevem os repórteres George Marques e Ruben Berta, é advindo de contribuições parafiscais, porcentagem obrigatória que as empresas têm que recolher em suas folhas de pagamento. Basicamente recursos públicos, portanto.

Não há transparência nos gastos, como manda a lei: “Não foram disponibilizadas, por exemplo, prestações de contas de dez contratos de patrocínio realizados em 2016, que somaram quase R$ 9 milhões, envolvendo as empresas Open Brasil, Backstage Empreendimentos, CE Produções e Eventos, Infoglobo (responsável pelos jornais ‘O Globo e ‘Extra’), além da Fundação Roberto Marinho”.

Um das principais fontes de custos era com palestras, especialmente de profissionais da Globo. Em 2016, R$ 2,979 milhões foram desembolsados para jornalistas, colunistas e comentaristas.

“Verificamos que a ligação dos prestadores de serviços com as Organizações Globo é uma das características singulares apresentadas com vistas a justificar a não observância do dever de licitar”, lê-se no relatório.

Quem mais lucrou com essas conferências foi Merval Pereira. Sua participação num colóquio chamado “Mapa do Comércio” valeu R$ 375 mil. Notas fiscais que o Intercept obteve mostram que Merval faturou R$ 25 mil por palestra - sem licitação.

O tema era “Perspectivas para o Brasil”, uma “análise prospectiva sobre o que o Governo Dilma pode fazer para evitar o impeachment no Congresso e avaliação do que seria um novo governo de união nacional com a derrubada da presidente e a chegada de Michel Temer”.

Merval é crítico contumaz das palestras de Lula. Em julho, defendeu que o ex-presidente “precisa explicar” a renda oriunda delas.

“Lula tinha toda condição de ser milionário, diante do preço que cobrava pelas palestras que diz ter feito a partir de 2010”, diz.

“A explicação fica complicada porque um dos diretores da Odebrecht afirmou ter sido preparado um esquema, com as palestras, para que o ex-presidente tivesse uma boa aposentadoria”.

Em abril, Merval lembrou que “os negócios pessoais de Lula se confundiam com as decisões do governo”.

Para Merval, as palestras serviam para compensar “os favores que Lula fez para a empreiteira [Odebrecht] nos anos em que foi presidente.”

Esse raciocínio vale para as organizações Globo, o Senac e o próprio Merval? O solerte colunista nunca soube de nada sobre seu contratante? Nunca lhe interessou saber?

Como em tantos outros capítulos envolvendo a Globo no “país dos negócios corruptos” (definição de Merval): não vem ao caso.

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