Com uma diplomacia desastrada, dedicada a exportar métodos golpistas pelos países vizinhos, neste domingo Michel Temer conseguiu sofrer uma derrota colossal na Venezuela, onde o governo Nicolas Maduro venceu 17 das 23 disputas para governos estaduais.
Colocando-se na posição de adversário declarado de Maduro, depois da posse de Temer o governo brasileiro assumiu uma arrogância exótica de subimperialismo. Mantendo a postura de braço auxiliar e fiel de Washington, recusou até a sentar-se à mesa de um grupo de países que procura achar uma saída negociada para a crise interna da nação vizinha – atitude irracional para um país que sempre teve um papel reconhecido como liderança regional, como Celso Amorim, chanceler entre 2003 e 2011, denunciou em entrevista ao 247.
A eleição de domingo veio cristalizar o desastre diplomático de Michel Temer, pois a dimensão da vitória de Maduro surpreendeu o próprio governo venezuelano e seus aliados.
Recordando. Em entrevista ao Brasil 247, publicada quatro dias atrás neste espaço, o sindicalista venezuelano Raul Ordoñez fez uma previsão sobre as eleições deste domingo. “Acredito que o chavismo ganha a 50% dos governos e a oposição faz a outra metade”, disse ele.
Considerando que na última eleição estadual, em 2012, quando Hugo Chávez estava vivo, a disputa havia terminado com um quatro de 20 a 3 a favor do governo, a previsão – comum à maioria dos observadores políticos – indicava para um quadro de equilíbrio entre aliados e adversários do governo.
Encerrada a votação, com mais de 95% dos votos apurados, vê-se que o prognóstico era até modesto do ponto de vista do apoio ao governo. Além de vencer em 17 estados, a soma dos votos mostra que os aliados de Maduro tiveram a maioria no país – 54%. O comparecimento às urnas foi relativamente alto numa disputa onde o voto não é obrigatório - 61,14% -, o que assegura uma boa representatividade aos resultados.
Embora possam surgir denúncias de fraude em pontos localizados, não se imagina que possam alterar o resultado geral, que aponta para uma vitória de Nicolas Maduro, a segunda depois da eleições para a Assembleia Constituinte, em julho.
Em 2015, quando fez uma maioria de 56% dos votos na eleição para a Assembleia Nacional, a oposição conseguiu um apoio que lhe permitiu tentar derrubar o governo Maduro pela combinação de ações violentas nas ruas, sabotagem econômica em larga escala para irritar a população e auxílio permanente de Washington.
O governo passou por imensas dificuldades, agravadas por seus próprios erros, como nós sabemos. Mas o resultado de ontem indica que conseguiu atravessar o momento mais difícil a partir da Constituinte, quando 40% dos venezuelanos saíram de casa para abrir uma saída para a crise através da democracia.
A conquista de 54% dos votos mostra que Maduro agiu corretamente ao defender a Constituinte, derrotando a oposição e até aliados internos, que enxergavam a proposta com imenso ceticismo. Perderam aqueles que não enxergaram a importância da democracia e apostaram numa saída pelo alto, através de um golpe de Estado – como a diplomacia de Michel Temer-Aloisio Nunes Ferreira, que tenta levar para fora de casa a mesma política desastrada instaurada no país pelo golpe de abril-agosto de 2016, que permite a Temer apoio de 3% da população.
A situação estaria menos vexaminosa, para a diplomacia brasileira, se ela tivesse assumido a única postura aceitável nas relações entre vizinhos, que começa pelo respeito ao princípio da soberania de povos e países para escolher seu destino.
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