quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"Queimem a bruxa", gritam os fascistas em SP

Por Juliana Gonçalves, no site The Intercept-Brasil:

Aproveitando a passagem da feminista, lésbica, judia, ativista LGBT e teórica queer Judith Butler pelo Brasil, um grupo de direita se inspirou livremente na Idade Média para promover uma caça às bruxas em pleno 2017, fazendo uma queima simbólica da filósofa em um protesto em frente ao Sesc Pompeia, nesta terça (7), em São Paulo. Empunhando crucifixos, manifestantes atearam fogo em uma boneca vestida bruxa com o rosto de Butler aos gritos de “queimem a bruxa!”

Apesar de ter vindo ao país lançar o livro “Caminhos Divergentes: Judaicidade e Crítica do Sionismo”, no qual trata do conflito Israel-Palestina e para participar do Colóquio “Os Fins da Democracia”, Judith Butler está sendo acusada estar no Brasil propagar a ideologia de gênero.

Um abaixo-assinado chegou a ser criado por manifestantes contrários à visita da filósofa no site de petições online Citizen Go, que promove causas conservadoras e não exige CPF de seus usuários ou qualquer outro tipo de verificação, possibilitando que uma mesma pessoa assine várias vezes. Até o início da tarde desta terça (7), o grupo reunia 366 mil assinaturas. A maior parte do tráfego da página foi impulsionado pela página “Evangélicos da Ilha”.

“Não podemos permitir que a promotora dessa ideologia nefasta promova em nosso país suas ideias absurdas, que têm por objetivo acelerar o processo de corrupção e fragmentação da sociedade”, diz um trecho da petição.

A cruzada contra Judith Butler acontece na sequência de embates ideológicos no país motivadas por grupos como o MBL e nomes como Alexandre Frota – que batizou Butler de “mãe da ideologia de gênero”. O debate sobre gênero e teoria queer ganhou visibilidade com o movimento boicote do Queer Museu que incentivaria a pedofilia e zoofilia.

Por outro lado, a campanha conservadora também rendeu um aumento no número de inscrições para o evento. E levou manifestantes a favor de Butler ao Sesc Pompéia, onde fizeram um cordão de isolamento para a proteção da pesquisadora e enfrentaram o grupo contrário com o coro “ih, fudeu, a palestra aconteceu”.

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