sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A resposta ao pior Congresso da História

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

No dia em que uma pesquisa Datafolha apontou a reprovação sem precedentes da população ao atual Congresso (60%), e o patamar mais baixo de aprovação (5%), partiu de um estranho ao ninho parlamentar, que ao se eleger não foi levado a sério, o deputado e ex-palhaço Tiritica, uma pungente despedida do mandato, dizendo-se envergonhado da classe política que não quer mais integrar. Por isso não concorrerá em 2018. Ao longo do dia, entretanto, foram poucos os deputados e senadores que deram o braço a torcer. Como avestruzes, preferiram enfiar a cabeça na areia a comentar a desaprovação revelada pela pesquisa ou a chicotada até branda de Tiririca, que prometeu não contar tudo o que viu em sete anos. Mas nós e eles sabemos o que fez o atual Congresso nos últimos três anos. Por isso nas eleições de 2018 esperamos que o eleitorado traduza sua decepção em uma grande renovação quantitativa e qualitativa das duas Casas.

A rejeição não é ao todo, naturalmente. É à maioria da Câmara e do Senado que, ao longo dos últimos três anos, traiu os que representam e perpetrou seguidos crimes contra a democracia, contra a soberania nacional, contra os interesses populares. Daqui até à eleição, será preciso refrescar a memória do eleitorado lembrando tudo o que fizeram desde que tomaram posse em fevereiro de 2015. Lula, Manoela D´Ávila, Ciro Gomes e outros candidatos a presidente do campo democrático terão que lembrar muito o eleitorado do que fez a maioria do atual Congresso, em que se destacam os seguintes feitos vergonhosos.

- A primeira decisão da maioria na Câmara, logo depois da posse, foi eleger Eduardo Cunha como presidente da Casa. Muitos, segundo o delator Lúcio Funaro, venderam seu voto a Cunha. Outros haviam tido suas campanhas financiadas por ele e pagaram a gentileza com o voto.

- Logo depois, a maioria rejeitou todas as medidas propostas pela presidente reeleita Dilma Rousseff para reequilibrar as contas públicas, apostando no quanto pior, melhor. Melhor para os planos de Cunha e de todos que já conspiravam para derrubar Dilma.

- Ao mesmo tempo, a maioria rejeitada começou a aprovar “pautas bomba” que agravaram a situação fiscal do governo.

- Em abril de 2016, a maioria, numa votação que envergonhou o Brasil, pela exposição de sua indigência mental e intelectual, autorizou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Eles sabiam que não havia crime de responsabilidade a ser apurado, e o disseram claramente, dedicando seus votos aos filhos, aos cônjuges e aos animais de estimação.
- Já Eduardo Cunha, apesar de todas as evidências de corrupção e de quebra do decoro, foi por longos meses protegido pela maioria, que evitou sua cassação o quanto pode, até que o próprio STF o afastou do mandato.
- Em seguida a maioria do Senado aprovou a condenação de Dilma, consumando o golpe parlamentar, na ausência de crime de responsabilidade demonstrado.
 
- A mesma maioria que deu o golpe passou a sustentar o governo de Michel Temer e a aprovar suas medidas regressivas. A primeira foi a mudança na forma de exploração do pré-sal, abrindo as portas para o capital estrangeiro. Depois, a maioria do Congresso aprovou a PEC do teto de gastos, que congelou o gasto público por 20 anos.

- A mesma maioria aprovou, em seguida, a reforma trabalhista, que cria os novos párias, os trabalhadores intermitentes, estimula a terceirização e liquida com direitos assegurados pela CLT.

- Vendendo votos para Michel Temer, a maioria rejeitou duas denúncias da PGR contra ele. Uma por corrupção passiva, outra por obstrução da Justiça.
- A mesma maioria que retirou direitos dos trabalhadores aprovou a premiação de empresários com o Refis, e honrou promessa feita por Temer aos ruralistas, aprovando a MP que perdoa e parcela as dívidas dos grandes proprietários com o Funrural.

- Agora, a maioria acaba de aprovar uma MP que concede isenção tributária aos exploradores da cadeia de petróleo e gás, num claro atendimento ao lobby da Shell e petroleiras estrangeiras. O Estado abrirá mão de quase um trilhão de reais em poucos anos. A indústria nacional, especialmente a naval, será sacrificada em favor dos estrangeiros.
- A maioria da Câmara, neste momento, resiste a aprovar a reforma previdenciária proposta por Temer. Não quer mais brigas com o eleitorado. Mas agora é tarde. O encontro com os eleitores está marcado e eles, pelo visto, já sabem como responder à maioria, por tudo que ela fez nestes três anos.

2 comentários:

  1. Darcy Brasil Rodrigues da Silva8 de dezembro de 2017 às 14:59

    Uma coisa é uma enquete que apura a aprovação/rejeição do Congresso Nacional pelos eleitores brasileiros, e outra, é a não reeleição dos deputados que cometeram os citados "crimes contra a democracia, contra a soberania, contra os interesses populares". Isso porque boa parte dos eleitores não consegue sequer lembrar em quem votou em 2014 para deputado estadual e federal e, quando se lembra, pouco conhece sobre a atuação destes deputados a ponto de condená-los pelos seus atos praticados enquanto deputados e, por último, quando se lembra em quem votou e se lembra igualmente de como agiu o deputado que ajudou a eleger, ainda assim poderia votar em um outro candidato representante do mesmo grupo, apto a cometer crimes semelhantes na futura legislatura.
    Tenho muitas reflexões de como deveria ser a campanha de 2018, mas não considero suficiente que os candidatos do campo democrático lembrem ao eleitor a atuação do atual Congresso Nacional para impedir que um Congresso Nacional semelhante ao atual seja eleito. Claro que será importante que os candidatos do campo progressista tentem vincular os votos do eleitor nos deputados e senadores, induzindo-o a votar em candidatos do mesmo campo dos referidos candidatos, mostrando que sem o apoio do Congresso Nacional um presidente não conseguiria governar. Esse seria um esforço válido para impedir a eleição de um novo Congresso reacionário como o atual. Mas, para mim, essa é uma tarefa gigantesca, que teria que envolver um amplo pacto firmado no âmbito de uma ampla Frente Nacional, integrada,portanto, não apenas por partidos, mas principalmente por entidades da sociedade civil, movimentos sociais, instituições religiosas progressistas, como a CNBB, igrejas metodistas, luteranas, presbiterianas, etc., com todos os seus entes envolvidos no esforço unitário e orgânico destinado a melhorar a composição do Congresso Nacional no próximo pleito, buscando conscientizar os eleitores sobre quem ele não deve de forma alguma reconduzir ao Congresso Nacional, explicitando os partidos que apoiaram Michel Temer como indignos do voto do eleitorado.
    Seria uma coisa absolutamente inédita, a unidade das esquerdas e dos progressistas DURANTE O PRIMEIRO TURNO, período das eleições em que se elegem os deputados e senadores, participando ativamente em campanhas de denúncias e conscientização, coordenadas por um órgão criado espeficamente para isso, levaas para as ruas, as praças, para redes sociais, veiculadas nos seus órgãos de imprensa, nas rádios comunitárias, realizando grandes manifestações conjuntas fora das instituições, sem, entretanto, recomendar votos em qualquer partido ou candidato do campo democrático e progressista, buscando influir o processo eleitoral, alertando o eleitor sobre o perigo de votar em partidos e candidatos como os que sustentam o governo de Michel Temer. Teríamos, assim, ao lado das campanhas eleitorais dos partidos, uma outra campanha organizada por uma ampla frente nacional suprapardidária destinada a denunciar os partidos fisiológicos, de direita e neoliberais que rasgaram a Constituição e votaram contrarreformas contra os interesses do povo e dos trabalhadores. Para mim, esse é hoje o único modo de enfrentar o poder do capital financeiro que tudo fará para reconstruir e ampliar a sua hegemonia atual sobre o Congresso Nacional.

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  2. Tristemente certas as suas palavras.Temos essa escória como parlamentares
    em grande parte em decorrência do que dizia Martin Luther King:"Não me espan-
    ta os gritos dos maus mas sim o silêncio dos bons".
    Quanto ao discurso de despedida de Tiririca achei sincero,tocante,triste e
    comovente.Lastimo sua saída.

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