domingo, 24 de dezembro de 2017

ACM Neto tira BaianaSystem do carnaval

Foto: Eme Fotografia
Por Manuca Ferreira, no blog Socialista Morena:

O BaianaSystem, banda criada em 2009 em Salvador que mistura, entre outros ritmos e influências, sound system à guitarra baiana e que estourou no carnaval passado por puxar um histórico “Fora, Temer!” em frente às câmeras, será excluída da festa momesca na capital baiana, em 2018, se depender do prefeito ACM Neto (DEM). Em agosto de 2016, a banda já havia exibido a frase contra o governo golpista em um telão durante o Festival de Inverno, em Vitória da Conquista.

O grupo ficou de fora do Furdunço de 2018, pré-carnaval criado pela prefeitura em 2013, e tenta viabilizar, nesse momento, a saída em dois dias de carnaval com seu trio independente, o “navio pirata”. A ameaça de que isso poderia acontecer começou já durante o carnaval, quando o presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Pedro Costa, disse que a banda poderia sofrer sanções.

“O código de ética é claro, é terminantemente proibido que o artista use o carnaval para denegrir (sic) alguém, como foi feito pelo BaianaSystem. Há um risco concreto de punição grave, que seria a exclusão deles”, avisou Costa no carnaval ao Correio, jornal de propriedade dos Magalhães, por causa do “Fora, Temer!”.

O prefeito, consultado naquele momento sobre o assunto, descartou. Disse que o argumento não fazia sentido e que todo cidadão tem o direito de se manifestar. “Não trabalho com censura nem com veto. Imagine censurar artista e alguém que queira manifestar a favor ou contra. Não vejo nenhum problema. Da minha parte não vejo como isso pode prejudicar. Não prejudica em nada. Veja que eles têm uma agenda extensa com a prefeitura. Tocaram no Réveillon e no Furdunço duas vezes. Estão aqui, na Barra, patrocinados pela Prefeitura. Para mim, não tem problema nenhum e tá tudo de boa”, disse o prefeito na época. Também em fevereiro, ACM Neto garantiu haver interesse em manter tanto o BaianaSystem quanto Léo Santana, cantor de pagode, no Furdunço.

Tanto o pagodeiro quanto a banda eram criticados pelo tamanho dos trios e pela quantidade de foliões que puxava, o que, segundo essas críticas, descaracterizaria o Furdunço, que havia sido criado para pequenas bandas e equipamentos. O prefeito chegou a dizer que, se fosse o caso, ampliaria a estrutura do Furdunço, mas não os deixaria de fora.

Entretanto, de fevereiro para cá, o prefeito parece ter mudado de opinião. No início de novembro, a prefeitura decidiu tirar a banda do Furdunço (junto com Léo Santana) encampando as críticas de que ambos descaracterizariam a festa, sem fazer uma comunicação oficial aos componentes do grupo.

Na época, integrantes da banda, como o cantor Russo Passapusso, disseram não terem sido oficialmente informados e rebateram as críticas afirmando ter feito ajustes no trio atendendo às exigências da prefeitura.

“Tocamos em vários momentos no período do Carnaval. Houve proteção, mudança de equipamento por causa da poluição sonora e vários aspectos. Tem que falar que o Furdunço funcionou. Enquanto tiver gente curtindo sem violência, é cada vez melhor. A quantidade de pessoas não determina a impossibilidade de acontecer”, declarou Passapusso ao site Bahia.ba.

A banda não só ficará de fora do Furdunço como foi excluída do Réveillon de Salvador, organizado pela prefeitura, embora tenha participado das edições de anos passados (2015 a 2017), e ainda foi limada do Festival de Verão, evento organizado pela iContent, empresa da Rede Bahia, que pertence à família do prefeito.

A solução para o BaianaSystem sair no carnaval passa no momento, segundo o guitarrista Robertinho Barreto, por conversas com outros patrocinadores, como o governo estadual, administrado pelo petista Rui Costa. Ao Socialista Morena, Barreto disse não saber quais as razões reais para a banda ter sido deixada de fora do Furdunço e do Réveillon, organizados pela prefeitura.

“A gente sentiu muito de não estar no Furdunço, que era algo que a gente tava desde o início há quatro anos. A gente consegue perceber também a vontade das pessoas de a gente estar no carnaval. Perguntam quais vão ser os dias. Mas as coisas que eram mais certas, como o Furdunço, em relação a datas, a gente não tem mais”, afirmou Robertinho.

No momento que a banda cresce em visibilidade país afora, tocando em várias outras cidades –foi um dos destaques do palco Sunset do Rock in Rio–, e é alvo de elogios de revistas e jornalistas especializados, tudo leva a crer que a exclusão se dá pela repetição dos métodos autoritários que caracterizavam o agir político do avô do atual prefeito, ACM. O ex-senador e ex-governador era conhecido pela perseguição a adversários, não poupando artistas e políticos críticos aos seus métodos.

Vale ressaltar que o autoritarismo não se restringe aos artistas, mas se expressa também na tramitação de projetos na cidade e no comportamento com ambulantes e outros trabalhadores do comércio informal. E apresenta-se, entre outras coisas, na influência junto ao governo ilegítimo de Michel Temer, impedindo a liberação de 600 milhões de reais de um empréstimo do Banco do Brasil para o governo estadual, certamente porque em 2018 o petista e ACM Neto se enfrentarão nas urnas. O governador Rui Costa acabou recorrendo à Justiça, que determinou que o banco deve ser republicano e cumprir com o empréstimo em vez de ceder a pressões políticas.

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