Por Leonardo Fernandes, no site do MST:
Mais que a inauguração do espaço esportivo, a ENFF foi palco de um grande ato político em defesa da democracia no Brasil. A estreia oficial do Campo Dr. Sócrates Brasileiro ocorreu neste sábado (23) na ENFF, localizada em Guararema, a 80 km de São Paulo.
Diversos artistas, intelectuais, jornalistas esportivos, políticos e representantes de movimentos populares e sindicais participaram das atividades que começaram logo cedo e seguiram por toda a tarde. Entre as presenças ilustres, o ex-presidente Lula e Chico Buarque que não só compareceram, como escalaram seus times para o jogo de estreia.
Chico visitou pela primeira vez a ENFF, escola que ele mesmo ajudou a construir. Na época de idealização do projeto, Chico doou os direitos autorais de composições que integram o livro ‘Terra’, que traz ainda textos de José Saramago e fotografias de Sebastião Salgado. No livro, o poeta homenageia os trabalhadores e trabalhadoras da terra, os ‘levantados do chão’, que ‘num balanço de rede sem rede, ver o mundo de pernas pro ar’, diz a canção ‘Levantados do chão’, uma parceria de Chico com Milton Nascimento. “Eu fico muito feliz, muito orgulhoso de estar aqui na Escola Florestán Fernandes, um lugar que tenho um grande vínculo, pois de alguma maneira ajudei a criar, disse o poeta orgulhoso”.
Para o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, há uma conexão intrínseca entre o futebol e a política, na medida em que o esporte é parte relevante da cultura do povo brasileiro. “O futebol faz parte da nossa vida, da política, do cotidiano das nossas famílias, faz parte dos nossos sentimentos... e por isso que o futebol tem tudo a ver com a nossa escola. Além do que, como dizem os pedagogos, o futebol é revelador, é quase que uma chave da psicologia, para que as pessoas tenham uma integração maior”, disse.
“Infelizmente, no Brasil, a grande imprensa, a Globo, os veículos da burguesia distorcem a cultura do povo, transformando tudo em mercadoria, em consumo. E eles escondem o que é a amplitude do patrimônio cultural do povo brasileiro”, completou Stédile.
Diversidade religiosa presente
Antes do apito inicial, um ato político-cultural serviu para marcar o caráter de um espaço esportivo, construído pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra dentro da Escola Nacional de formação dos movimentos populares.
Pereira da Viola, cantador da terra e parceiro do MST, fez uma animada abertura de uma celebração ecumênica que reuniu três religiões para abençoar o espaço. “Eu quero dizer que Fora Temer, são todos bem-vindos”, disse Frei Beto ao abençoar o campo.
Dois jornalistas esportivos e grandes amigos do Sócrates foram homenageados também por haverem apoiado ativamente a campanha para a construção do campo: José Trajano e Juca Kfouri.
Também estiveram presentes familiares do homenageado, como Gustavo, filho de Sócrates, que foi escalado no time do Amigos do Chico.
E a bola rolou...
A partida de inauguração teve torcida com casa cheia. As cerca de 1500 pessoas presentes acompanharam o jogo entre os times ‘Amigos do Chico’ e ‘MST’, ambos com uma escalação de peso. No time do poeta, Lula, o ex-jogador Reinaldo, o ex-ministro Alexandre Padilha, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, entre outras figuras de peso. No time Sem Terra, João Pedro Stédile, da Direção Nacional do MST, o ator Chico Dias, e outros apoiadores do movimento. O jogo foi apitado pelo jornalista esportivo Juca Kfouri.
“Eu vou apitar o jogo hoje e quero dizer que deixo de ser Juca Kfouri para virar o juiz Juca Moro. E já adverti Lula com cartão amarelo antes mesmo do jogo começar”, brincou Kfouri antes de apitar o começo da partida.
O time dos Amigos do Chico abriu uma vantagem de quatro gols contra o time do MST no primeiro tempo. Mas no segundo tempo o time do MST recuperou a desvantagem, e empatou o jogo, que terminou em 5 a 5.
Todo o jogo foi transmitido ao vivo pela Rádio Brasil em Movimento. Em seguida, outros times entraram em campo deixando a Escola Nacional Florestán Fernandes em clima de campeonato. Terminadas as partidas, não podia faltar muito ‘samba e amor’ para celebrar o esporte, a cultura e a luta do povo Sem Terra, que produziu mais essa conquista.
Sócrates
Magrão para os mais íntimos, o Dr. Sócrates, médico de formação, fez política com a bola no pé. Pode parecer confuso, mas o fundador da Democracia Corinthiana foi muito mais do que um jogador de futebol. Apesar de ser um militante das causas populares, se recusava a entrar na política, alegando ter um ‘mandato mais interessante: ser um porta-voz do povo’.
“Conhecendo o Sócrates como conheci, posso dizer que essa homenagem vale mais do que se o Pacaembu ou o Maracanã trocassem de nome pelo nome de”, disse emocionado Kfouri, amigo de Sócrates.
Há cinco anos de sua morte, alguns dos seus amigos mais íntimos consideram que o MST faz uma justa homenagem a Sócrates, dando seu nome ao campo da ENFF. “Não tinha lugar melhor para fazer essa homenagem ao Sócrates. Ele adoraria conhecer esse lugar. E está conhecendo através dos seus amigos, sua família que estão aqui hoje. Eu fico muito satisfeito e até emocionado. Hoje é um dia de festa, de dar as mãos e se fortalecer juntos”.
‘Tijolo por tijolo num desenho lógico’
Diferente do desfecho da música do exímio futebolista, Chico Buarque, a ‘construção’ do Campo Dr. Sócrates tem um final feliz. Às vésperas do natal, o MST presenteou a Escola Florestan Fernandes e todos que a frequentam com, mais que um espaço de lazer, ‘um lugar de pensamento político, coletivo e democrático, que tem como objetivo reunir, através do esforço popular, todos os valores contidos no punho esquerdo de Sócrates’, como destaca a Coordenação da ENFF.
“A homenagem ao Dr. Sócrates Brasileiro vem ao encontro do legado histórico que ele deixou para o povo brasileiro, transformando uma paixão nacional, o futebol, em algo mais que uma partida, mas na possibilidade de através dela, refletir questões sociais e políticas que se inserem no contexto brasileiro”, ressalta Rosana Fernandes, coordenadora pedagógica da ENFF.
Segundo Rosana, o legado deixado por Sócrates, compartilha com os ideais do MST de um processo democrático na política do nosso país, das mudanças estruturais na sociedade e a luta por direitos humanos. “Assim, o campo de futebol da Escola Nacional torna-se um espaço pedagógico no qual as centenas de militantes das organizações populares, brasileiras e internacionais, que passam por aqui em diversas atividades e cursos, possam sociabilizar, refletir e propôr mudanças sociais necessárias em todo o mundo. É um espaço de confraternização, de memória, de política e de futebol”, afirma.
O processo de construção do campo Dr. Sócrates Brasileiro durou cerca de um ano e precisou contar com o apoio de dezenas de colaboradores. Desde o seu financiamento, cerca de 60 mil reais, que foram arrecadados através de uma campanha de financiamento coletivo, lançada em junho de 2016 e apoiada por artistas, jornalistas e esportistas de todo o país; até a idealização do projeto arquitetônico, que foi elaborado em parceria com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), com uma capacidade para receber 250 pessoas nas arquibancadas.
Mais que a inauguração do espaço esportivo, a ENFF foi palco de um grande ato político em defesa da democracia no Brasil. A estreia oficial do Campo Dr. Sócrates Brasileiro ocorreu neste sábado (23) na ENFF, localizada em Guararema, a 80 km de São Paulo.
Diversos artistas, intelectuais, jornalistas esportivos, políticos e representantes de movimentos populares e sindicais participaram das atividades que começaram logo cedo e seguiram por toda a tarde. Entre as presenças ilustres, o ex-presidente Lula e Chico Buarque que não só compareceram, como escalaram seus times para o jogo de estreia.
Chico visitou pela primeira vez a ENFF, escola que ele mesmo ajudou a construir. Na época de idealização do projeto, Chico doou os direitos autorais de composições que integram o livro ‘Terra’, que traz ainda textos de José Saramago e fotografias de Sebastião Salgado. No livro, o poeta homenageia os trabalhadores e trabalhadoras da terra, os ‘levantados do chão’, que ‘num balanço de rede sem rede, ver o mundo de pernas pro ar’, diz a canção ‘Levantados do chão’, uma parceria de Chico com Milton Nascimento. “Eu fico muito feliz, muito orgulhoso de estar aqui na Escola Florestán Fernandes, um lugar que tenho um grande vínculo, pois de alguma maneira ajudei a criar, disse o poeta orgulhoso”.
Para o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, há uma conexão intrínseca entre o futebol e a política, na medida em que o esporte é parte relevante da cultura do povo brasileiro. “O futebol faz parte da nossa vida, da política, do cotidiano das nossas famílias, faz parte dos nossos sentimentos... e por isso que o futebol tem tudo a ver com a nossa escola. Além do que, como dizem os pedagogos, o futebol é revelador, é quase que uma chave da psicologia, para que as pessoas tenham uma integração maior”, disse.
“Infelizmente, no Brasil, a grande imprensa, a Globo, os veículos da burguesia distorcem a cultura do povo, transformando tudo em mercadoria, em consumo. E eles escondem o que é a amplitude do patrimônio cultural do povo brasileiro”, completou Stédile.
Diversidade religiosa presente
Antes do apito inicial, um ato político-cultural serviu para marcar o caráter de um espaço esportivo, construído pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra dentro da Escola Nacional de formação dos movimentos populares.
Pereira da Viola, cantador da terra e parceiro do MST, fez uma animada abertura de uma celebração ecumênica que reuniu três religiões para abençoar o espaço. “Eu quero dizer que Fora Temer, são todos bem-vindos”, disse Frei Beto ao abençoar o campo.
Dois jornalistas esportivos e grandes amigos do Sócrates foram homenageados também por haverem apoiado ativamente a campanha para a construção do campo: José Trajano e Juca Kfouri.
Também estiveram presentes familiares do homenageado, como Gustavo, filho de Sócrates, que foi escalado no time do Amigos do Chico.
E a bola rolou...
A partida de inauguração teve torcida com casa cheia. As cerca de 1500 pessoas presentes acompanharam o jogo entre os times ‘Amigos do Chico’ e ‘MST’, ambos com uma escalação de peso. No time do poeta, Lula, o ex-jogador Reinaldo, o ex-ministro Alexandre Padilha, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, entre outras figuras de peso. No time Sem Terra, João Pedro Stédile, da Direção Nacional do MST, o ator Chico Dias, e outros apoiadores do movimento. O jogo foi apitado pelo jornalista esportivo Juca Kfouri.
“Eu vou apitar o jogo hoje e quero dizer que deixo de ser Juca Kfouri para virar o juiz Juca Moro. E já adverti Lula com cartão amarelo antes mesmo do jogo começar”, brincou Kfouri antes de apitar o começo da partida.
O time dos Amigos do Chico abriu uma vantagem de quatro gols contra o time do MST no primeiro tempo. Mas no segundo tempo o time do MST recuperou a desvantagem, e empatou o jogo, que terminou em 5 a 5.
Todo o jogo foi transmitido ao vivo pela Rádio Brasil em Movimento. Em seguida, outros times entraram em campo deixando a Escola Nacional Florestán Fernandes em clima de campeonato. Terminadas as partidas, não podia faltar muito ‘samba e amor’ para celebrar o esporte, a cultura e a luta do povo Sem Terra, que produziu mais essa conquista.
Sócrates
Magrão para os mais íntimos, o Dr. Sócrates, médico de formação, fez política com a bola no pé. Pode parecer confuso, mas o fundador da Democracia Corinthiana foi muito mais do que um jogador de futebol. Apesar de ser um militante das causas populares, se recusava a entrar na política, alegando ter um ‘mandato mais interessante: ser um porta-voz do povo’.
“Conhecendo o Sócrates como conheci, posso dizer que essa homenagem vale mais do que se o Pacaembu ou o Maracanã trocassem de nome pelo nome de”, disse emocionado Kfouri, amigo de Sócrates.
Há cinco anos de sua morte, alguns dos seus amigos mais íntimos consideram que o MST faz uma justa homenagem a Sócrates, dando seu nome ao campo da ENFF. “Não tinha lugar melhor para fazer essa homenagem ao Sócrates. Ele adoraria conhecer esse lugar. E está conhecendo através dos seus amigos, sua família que estão aqui hoje. Eu fico muito satisfeito e até emocionado. Hoje é um dia de festa, de dar as mãos e se fortalecer juntos”.
‘Tijolo por tijolo num desenho lógico’
Diferente do desfecho da música do exímio futebolista, Chico Buarque, a ‘construção’ do Campo Dr. Sócrates tem um final feliz. Às vésperas do natal, o MST presenteou a Escola Florestan Fernandes e todos que a frequentam com, mais que um espaço de lazer, ‘um lugar de pensamento político, coletivo e democrático, que tem como objetivo reunir, através do esforço popular, todos os valores contidos no punho esquerdo de Sócrates’, como destaca a Coordenação da ENFF.
“A homenagem ao Dr. Sócrates Brasileiro vem ao encontro do legado histórico que ele deixou para o povo brasileiro, transformando uma paixão nacional, o futebol, em algo mais que uma partida, mas na possibilidade de através dela, refletir questões sociais e políticas que se inserem no contexto brasileiro”, ressalta Rosana Fernandes, coordenadora pedagógica da ENFF.
Segundo Rosana, o legado deixado por Sócrates, compartilha com os ideais do MST de um processo democrático na política do nosso país, das mudanças estruturais na sociedade e a luta por direitos humanos. “Assim, o campo de futebol da Escola Nacional torna-se um espaço pedagógico no qual as centenas de militantes das organizações populares, brasileiras e internacionais, que passam por aqui em diversas atividades e cursos, possam sociabilizar, refletir e propôr mudanças sociais necessárias em todo o mundo. É um espaço de confraternização, de memória, de política e de futebol”, afirma.
O processo de construção do campo Dr. Sócrates Brasileiro durou cerca de um ano e precisou contar com o apoio de dezenas de colaboradores. Desde o seu financiamento, cerca de 60 mil reais, que foram arrecadados através de uma campanha de financiamento coletivo, lançada em junho de 2016 e apoiada por artistas, jornalistas e esportistas de todo o país; até a idealização do projeto arquitetônico, que foi elaborado em parceria com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), com uma capacidade para receber 250 pessoas nas arquibancadas.
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