terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Ato pró Moro em Maringá foi um fiasco

Por Marcos Danhoni, no blog Diário do Centro do Mundo:

Dia 13 último, o PT, como fez em muitas cidades em todo o Brasil, inaugurou seu Comitê de Luta pela Democratização em Maringá, terra natal de dois ícones do golpe: o juiz Sergio Moro e o ministro da Saúde Ricardo Barros.

Ao tomar conhecimento do evento, o MBL, aliado à ACIM (Associação Comercial e Industrial de Maringá – uma espécie de Fiesp, em menor escala) e outras associações ultraconservadoras, idealizou uma manifestação.

Empresários da ACIM se reuniram com lideranças do MBL, com representantes do Lions e com membros da imprensa e do clero local, além, óbvio, de políticos. Queriam realizar o protesto exatamente na porta da Câmara de Vereadores, onde, no grande plenário, se desenrolaria a reunião do PT.

Por dias e dias alugaram carros de som para percorrer a cidade convocando “pessoas de bem” que pudessem defender o “legado” de Moro.

Mandaram erguer outdoors em muitos pontos, além das cidades vizinhas; compraram horários de rádio e inundaram as redes sociais. Superlativos, queriam reunir entre 10 mil e 100 mil pessoas (believe it or not). Ônibus foram fretados por políticos para trazer a massa de manobra verde-amarela que poderia ajudar a encher a praça.

O clima era de confronto e de fake news com os fascistas, que afirmavam que Gleisi Hoffmann e Roberto Requião estariam em Maringá e isso deveria ser impedido (como se a presença deles fosse um ato criminoso).

Os discursos eram altamente belicosos, com posts com fotos, por exemplo, da famosa e triste camiseta da FIFA ao lado de um taco de beisebol, de uma pistola automática com carregadores e munição, arma branca etc.

Alguns empresários, esquecendo que seus clientes pertencem a diversos matizes ideológicos, sentiram-se motivados a gravar áudios conclamando a população e pagando milhares de camisetas a quem lá fosse, como é o caso de um tradicional açougue da cidade (que viu a clientela minguar após essa escolha desastrosa).

No dia 13, a polícia militar estabeleceu uma forma de acesso para não haver confrontos. Eles ficaram concentrados na Praça da Catedral Nossa Senhora da Glória, ligeiramente distante (uns 500 metros) da entrada principal da Câmara de Vereadores.

A inauguração do comitê transcorreu com muito entusiasmo, com quase 800 pessoas dentro do recinto. Lá fora, menos de 1 500 pessoas vestidas com camisetas da FIFA, espremiam-se debaixo de uma enorme faixa favorável a Moro, mas que não foi estendida em sua totalidade porque não havia público suficiente.

A ACIM, para garantir que o público permaneceria no local, distribuiu gratuitamente guarda-chuvas.

O protesto foi marcado por discursos inflamados de ódio e outras irracionalidades por gente do MBL e pelos decadentes Silvio Barros II (irmão de Ricardo Barros) e “delegado Francischini” (que, covardemente, autorizou o massacre de professores em 29 de abril de 2015 em Curitiba).

Apesar dos mimos e da faixa gigantesca, a coisa se encerrou com uma hora e meia de duração, apenas. O público ficou muito distante do paroxismo de 10 a 100 mil pessoas, como pretendiam os MBListas.

Esse esvaziamento é fundamental para entender o atual momento do país: mostra um cansaço da parcela da população que sustentou o golpe com suas presenças em manifestações passadas.

Cansaço de discursos pseudo-moralizantes que se desvanecem no cotidiano de denúncias e de cooptações incestuosas entre membros dos três poderes destruindo não somente a Democracia, que não interessa a essa parcela da população, mas a economia que os atinge diretamente em seus sonhos rentistas e de consumo.

Mais importante: mostra de forma contundente que Sergio Moro não reúne empatia suficiente para que aglomere cidadãos. Os cidadãos de Maringá, uma cidade conservadora, têm percebido que a “justiça” de Moro é parcial, dirigida única e exclusivamente contra o PT e Lula.

As centenas e centenas de comércios que fecharam suas portas, falidos; os rentistas que não conseguem alugar seus apartamentos ou casas, ou os alugam a valores menores que a metade do que valiam há dois anos, começam a perceber o engodo em que caíram.

Fascistas, em Maringá, não passaram.

* Marcos Cesar Danhoni é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do Livro “Lições da Escuridão”, entre outras obras.

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