O jornal Folha de S.Paulo não gosta do Datafolha. Manda-o fazer pesquisa, paga por ela, recebe os resultados e mete-se a bagunçá-los. Desde quando resolveu pisar no acelerador para alavancar a imagem de Michel Temer, vem fazendo isso, causando embaraços e ferindo suscetibilidades internas. Não que a direção do jornal se incomode. Ao que parece, o fim (acabar com o lulopetismo) justifica os meios (quaisquer que sejam). Os incomodados que se retirem. Na pesquisa mais recente, repetiu a dose.
A começar pela manchete da quarta-feira, 31. Uma proeza: “Sem Lula, Bolsonaro lidera...” E com Lula, o que acontece? Ou os donos do jornal já decretaram que é assim que vai ser? Havia duas razões para fazer pesquisa agora: 1. Saber se a nova condenação do ex-presidente teria afetado a intenção de voto em seu nome. 2. Avaliar seu poder de transferência, na hipótese de ele não ser candidato em função dessa sentença.
A pesquisa tratou das duas questões, mas o jornal bagunçou tudo. Recusou-se a destacar o fato óbvio identificado pelo instituto: Lula mantém-se em folgado primeiro lugar, apesar da caçada judicial a que é submetido e apesar do modo como a grande imprensa o apresenta.
Ela também mostra que Lula possui forte capacidade de transferir votos a outro candidato: no total do eleitorado, 27% dos entrevistados disseram que “(...) escolheriam com certeza um candidato que tivesse o apoio” do ex-presidente. Ou seja, caso Lula não venha a concorrer, o primeiro lugar seria de quem quer que ele aponte (sem contar os outros 17% que afirmaram que “talvez votassem” nesse nome).
Este, o aspecto mais relevante da pesquisa, foi escondido pelo jornal no canto inferior direito da página A5. Muitos leitores nem sequer o perceberam. Ganha alguém com essas prestidigitações? O debate nacional é enriquecido quando dados de realidade são camuflados? Só uma coisa é certa: perde o Datafolha, embora não seja quem faz o jornal.
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