Por Maurício Thuswohl, na Rede Brasil Atual:
O ano mal começou, e o anúncio do fechamento por tempo indeterminado da cinquentenária Casa do Jongo da Serrinha já dá mostras de que em 2018 a rotina de abandono pela Prefeitura do Rio de Janeiro das manifestações culturais ligadas a matrizes africanas repetirá o ano anterior. Mesmo tombada em 2005 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial da Região Sudeste, a tradicional casa localizada no bairro de Madureira (zona norte) viu ser interrompido desde outubro o repasse financeiro que recebia da Secretaria Municipal de Cultura. “Não sabemos sequer o motivo. Tentamos várias reuniões, mas nunca fomos recebidos”, diz Dyonne Boy, diretora da ONG que administra o espaço.
Evidenciado neste episódio, o desinteresse em relação a uma parte tão importante da cultura e da história cariocas foi uma das principais características do primeiro ano de mandato do prefeito Marcello Crivella (PRB), de acordo com a análise de militantes dos movimentos sociais e de parlamentares da oposição. Para além das metas anunciadas, mas não cumpridas, em setores essenciais como saúde e educação – o que não chega a ser novidade na política brasileira –, a gestão municipal carioca em 2017 teria sido marcada pelo nepotismo e pelo aparelhamento da máquina pública, além de acenar com preocupantes retrocessos no que diz respeito à diversidade cultural e à livre expressão sexual e religiosa. Uma vez no cargo, o ex-senador e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus pecou, segundo os críticos, pelo não cumprimento da promessa de não misturar política e religião na prefeitura, reiterada durante toda a campanha eleitoral.
Para o pedagogo Wladimir Valladares, que é sacerdote de Ifá e consultor dos centros religiosos de matriz africana no Rio, o ataque ou menosprezo às atividades ligadas a essas religiões é uma questão simbólica para a prefeitura. “Nós hoje, mal comparando, somos para a administração Crivella o mesmo que foram os judeus para os nazistas. Há uma relação de proveito político para criar um inimigo a ser combatido, e esse inimigo somos nós.”
Conhecido Bábà Awo Ifatokun, Valladares ressalta o perigo existente na conduta do prefeito: “Com seu poder de utilização da máquina e alocação de recursos públicos, o governo Crivella age para cercear a diversidade e beneficiar seu eleitorado. Tivemos o caso do carnaval, que é uma manifestação estreitamente ligada à nossa religião. Tivemos casos de proibição de funcionamento de centros. É uma administração voltada exclusivamente para seus interesses de grupo e para seu próprio público, e isso vai contra o fato de o Rio de Janeiro ser historicamente um celeiro de convivência pacífica. Quando uma liderança como o prefeito retumba um discurso de ódio, isso dá margem para que sua base manifeste isso livremente”.
Segundo Valladares, o que acontece no Rio está inserido em um contexto maior de retrocesso nas relações políticas e sociais no Brasil. “O quadro de retrocesso está dado, e nossa realidade não vai mudar exclusivamente por nós. A problema da intolerância religiosa está inserido na questão racial e faz parte de uma grande disputa de classes. Da mesma forma que o negro não conquistará avanços se não houver um avanço coletivo da classe trabalhadora, as religiões de matriz africana também não conquistarão vitórias se o povo trabalhador do Brasil não for vitorioso”, afirma.
Em 2017, a prefeitura esvaziou financeira e politicamente diversos eventos ligados a denominações religiosas diferentes da sua, além de desprestigiar manifestações organizadas por setores minoritários da população e já consolidadas como parte integrante da agenda social de um Rio democrático e multicultural, como a Parada LGBTI, entre outras. Até mesmo em relação ao evento cultural mais famoso e importante da cidade, o carnaval, o prefeito preferiu demonstrar distância. “Mas não é só isso. O viés religioso da gestão de Crivella se revela, sobretudo, no aparelhamento da máquina pública pela Igreja Universal”, diz o deputado estadual Átila Nunes (MDB), que é ligado à Umbanda.
Evidenciado neste episódio, o desinteresse em relação a uma parte tão importante da cultura e da história cariocas foi uma das principais características do primeiro ano de mandato do prefeito Marcello Crivella (PRB), de acordo com a análise de militantes dos movimentos sociais e de parlamentares da oposição. Para além das metas anunciadas, mas não cumpridas, em setores essenciais como saúde e educação – o que não chega a ser novidade na política brasileira –, a gestão municipal carioca em 2017 teria sido marcada pelo nepotismo e pelo aparelhamento da máquina pública, além de acenar com preocupantes retrocessos no que diz respeito à diversidade cultural e à livre expressão sexual e religiosa. Uma vez no cargo, o ex-senador e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus pecou, segundo os críticos, pelo não cumprimento da promessa de não misturar política e religião na prefeitura, reiterada durante toda a campanha eleitoral.
Para o pedagogo Wladimir Valladares, que é sacerdote de Ifá e consultor dos centros religiosos de matriz africana no Rio, o ataque ou menosprezo às atividades ligadas a essas religiões é uma questão simbólica para a prefeitura. “Nós hoje, mal comparando, somos para a administração Crivella o mesmo que foram os judeus para os nazistas. Há uma relação de proveito político para criar um inimigo a ser combatido, e esse inimigo somos nós.”
Conhecido Bábà Awo Ifatokun, Valladares ressalta o perigo existente na conduta do prefeito: “Com seu poder de utilização da máquina e alocação de recursos públicos, o governo Crivella age para cercear a diversidade e beneficiar seu eleitorado. Tivemos o caso do carnaval, que é uma manifestação estreitamente ligada à nossa religião. Tivemos casos de proibição de funcionamento de centros. É uma administração voltada exclusivamente para seus interesses de grupo e para seu próprio público, e isso vai contra o fato de o Rio de Janeiro ser historicamente um celeiro de convivência pacífica. Quando uma liderança como o prefeito retumba um discurso de ódio, isso dá margem para que sua base manifeste isso livremente”.
Segundo Valladares, o que acontece no Rio está inserido em um contexto maior de retrocesso nas relações políticas e sociais no Brasil. “O quadro de retrocesso está dado, e nossa realidade não vai mudar exclusivamente por nós. A problema da intolerância religiosa está inserido na questão racial e faz parte de uma grande disputa de classes. Da mesma forma que o negro não conquistará avanços se não houver um avanço coletivo da classe trabalhadora, as religiões de matriz africana também não conquistarão vitórias se o povo trabalhador do Brasil não for vitorioso”, afirma.
Em 2017, a prefeitura esvaziou financeira e politicamente diversos eventos ligados a denominações religiosas diferentes da sua, além de desprestigiar manifestações organizadas por setores minoritários da população e já consolidadas como parte integrante da agenda social de um Rio democrático e multicultural, como a Parada LGBTI, entre outras. Até mesmo em relação ao evento cultural mais famoso e importante da cidade, o carnaval, o prefeito preferiu demonstrar distância. “Mas não é só isso. O viés religioso da gestão de Crivella se revela, sobretudo, no aparelhamento da máquina pública pela Igreja Universal”, diz o deputado estadual Átila Nunes (MDB), que é ligado à Umbanda.
Aparelhamento
Segundo a oposição, esse aparelhamento foi explicitado pela realização de eventos da Universal em escolas municipais. Os casos mais notórios aconteceram no Ciep Gustavo Capanema, no Complexo da Maré (zona norte), e na Escola Municipal Joaquim Abílio Borges, no bairro do Humaitá (zona sul). Nestas escolas foram realizadas ações sociais promovidas pelo Grupo de Evangelismo da Catedral de Del Castilho, templo da Universal com capacidade para 30 mil pessoas e conhecido pelos próprios fieis como o “Maracanã da Fé”. Nas duas ocasiões, a Universal ofereceu também assistência médica e jurídica e distribuição de cestas básicas e quentinhas, além de palestras para mães solteiras e mulheres que sofreram agressões domésticas.
A Secretaria Municipal de Educação afirma que, desde que haja solicitação prévia, “qualquer instituição, religiosa ou não, pode utilizar os prédios das escolas públicas em horários ociosos” e que “além da Igreja Universal, outras denominações religiosas também utilizam esses espaços”. Esta utilização, diz a Secretaria, foi regulamentada por uma resolução publicada pela prefeitura em 24 de outubro.
O eventual aparelhamento da máquina municipal pela Igreja Universal foi também muito discutido em outro episódio, ocorrido em maio, quando um caminhão da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) foi flagrado ao fazer serviços de limpeza dentro do templo da IURD no bairro de Bonsucesso, na zona norte. Em agosto, outro caminhão com a logomarca da prefeitura foi visto entregando asfalto no templo da Universal localizado no bairro de Santa Cruz (zona oeste).
Após os flagrantes, tanto a Comlurb como a Secretaria Municipal de Conservação prometeram investigar a utilização dos veículos públicos pela Igreja Universal, mas até agora não apresentaram resultados. Em relação ao caso de Santa Cruz, a prefeitura informou que a empresa vista fazendo o serviço – a Jas Mix Bombeamento de Concretos - não tem mais vínculos com a prefeitura e que “já foi orientada a retirar os adesivos de identificação de seus caminhões”.
Segundo a oposição, esse aparelhamento foi explicitado pela realização de eventos da Universal em escolas municipais. Os casos mais notórios aconteceram no Ciep Gustavo Capanema, no Complexo da Maré (zona norte), e na Escola Municipal Joaquim Abílio Borges, no bairro do Humaitá (zona sul). Nestas escolas foram realizadas ações sociais promovidas pelo Grupo de Evangelismo da Catedral de Del Castilho, templo da Universal com capacidade para 30 mil pessoas e conhecido pelos próprios fieis como o “Maracanã da Fé”. Nas duas ocasiões, a Universal ofereceu também assistência médica e jurídica e distribuição de cestas básicas e quentinhas, além de palestras para mães solteiras e mulheres que sofreram agressões domésticas.
A Secretaria Municipal de Educação afirma que, desde que haja solicitação prévia, “qualquer instituição, religiosa ou não, pode utilizar os prédios das escolas públicas em horários ociosos” e que “além da Igreja Universal, outras denominações religiosas também utilizam esses espaços”. Esta utilização, diz a Secretaria, foi regulamentada por uma resolução publicada pela prefeitura em 24 de outubro.
O eventual aparelhamento da máquina municipal pela Igreja Universal foi também muito discutido em outro episódio, ocorrido em maio, quando um caminhão da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) foi flagrado ao fazer serviços de limpeza dentro do templo da IURD no bairro de Bonsucesso, na zona norte. Em agosto, outro caminhão com a logomarca da prefeitura foi visto entregando asfalto no templo da Universal localizado no bairro de Santa Cruz (zona oeste).
Após os flagrantes, tanto a Comlurb como a Secretaria Municipal de Conservação prometeram investigar a utilização dos veículos públicos pela Igreja Universal, mas até agora não apresentaram resultados. Em relação ao caso de Santa Cruz, a prefeitura informou que a empresa vista fazendo o serviço – a Jas Mix Bombeamento de Concretos - não tem mais vínculos com a prefeitura e que “já foi orientada a retirar os adesivos de identificação de seus caminhões”.
Nepotismo
A indicação de pessoas ligadas à direção da Universal para postos na administração municipal também mereceu críticas. O caso mais emblemático foi a nomeação do filho do prefeito, Marcelo Hodge, para a Casa Civil. Mesmo afastado do cargo por liminar da Justiça, Hodge seguiu cumprindo agendas oficiais até que, em outubro, o advogado Victor Travancas, que movia a ação por nepotismo, retirou a acusação contra o prefeito.
Outros casos apontados como nepotismo envolveram as nomeações de Alessandro da Costa, que é sócio da filha do prefeito, para a subsecretaria da Casa Civil, e de Fábio Macedo, que é primo do Bispo Edir Macedo (líder máximo da Universal e tio de Crivella), para o cargo de administrador da sede da prefeitura. Crivella rebateu as acusações: “Posso garantir que a prefeitura não ajuda a Igreja Universal. Ao contrário, é ela que nos ajuda na missão de servir a todos”.
Censo religioso
A prefeitura do Rio também foi acusada de promover “censos religiosos” em alguns setores da administração pública. Em agosto, a Guarda Municipal distribuiu um questionário a todo o seu efetivo de 7,5 mil pessoas no qual pedia para que se informasse a opção religiosa. De acordo com a direção da GM, o fornecimento dessa informação não era obrigatório e o censo “foi realizado como parte do novo Projeto de Capelania que está sendo elaborado pela instituição, um projeto ecumênico que prestará assistência religiosa, espiritual e social aos servidores”.
Algo semelhante aconteceu em setembro, quando foi distribuído o formulário de inscrição do programa municipal Rio Ar Livre, promovido pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e destinado a idosos e pessoas de baixa renda que queiram praticar exercícios físicos nas academias populares instaladas em algumas praças da cidade. A Secretaria afirma que o questionário, também criticado por perguntar a cor das pessoas, serve para “identificação do perfil socioeconômico dos beneficiados pelo programa”.
Em setembro, Átila Nunes deu entrada em duas ações populares no Ministério Público Estadual. A primeira pede o imediato afastamento da diretora da GM, Tatiana Mendes, por proselitismo religioso: “O que a direção da Guarda Municipal fez foi uma tentativa de, mediante evidente pressão, converter pessoas à religião evangélica em ambiente de trabalho”, diz. A segunda ação pede a suspensão de perguntas sobre religião em questionários formulados pela prefeitura. As ações prosseguem na Justiça.
Crivella afirmou que, em ambos os casos, não tinha conhecimento prévio sobre a realização dos questionários religiosos, já que tanto a Secretaria quanto a Guarda Municipal são autarquias e têm autonomia em suas decisões internas. Em nota distribuída à imprensa, o prefeito disse que “não existe qualquer cunho religioso na atual gestão da Prefeitura do Rio”.
A indicação de pessoas ligadas à direção da Universal para postos na administração municipal também mereceu críticas. O caso mais emblemático foi a nomeação do filho do prefeito, Marcelo Hodge, para a Casa Civil. Mesmo afastado do cargo por liminar da Justiça, Hodge seguiu cumprindo agendas oficiais até que, em outubro, o advogado Victor Travancas, que movia a ação por nepotismo, retirou a acusação contra o prefeito.
Outros casos apontados como nepotismo envolveram as nomeações de Alessandro da Costa, que é sócio da filha do prefeito, para a subsecretaria da Casa Civil, e de Fábio Macedo, que é primo do Bispo Edir Macedo (líder máximo da Universal e tio de Crivella), para o cargo de administrador da sede da prefeitura. Crivella rebateu as acusações: “Posso garantir que a prefeitura não ajuda a Igreja Universal. Ao contrário, é ela que nos ajuda na missão de servir a todos”.
Censo religioso
A prefeitura do Rio também foi acusada de promover “censos religiosos” em alguns setores da administração pública. Em agosto, a Guarda Municipal distribuiu um questionário a todo o seu efetivo de 7,5 mil pessoas no qual pedia para que se informasse a opção religiosa. De acordo com a direção da GM, o fornecimento dessa informação não era obrigatório e o censo “foi realizado como parte do novo Projeto de Capelania que está sendo elaborado pela instituição, um projeto ecumênico que prestará assistência religiosa, espiritual e social aos servidores”.
Algo semelhante aconteceu em setembro, quando foi distribuído o formulário de inscrição do programa municipal Rio Ar Livre, promovido pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e destinado a idosos e pessoas de baixa renda que queiram praticar exercícios físicos nas academias populares instaladas em algumas praças da cidade. A Secretaria afirma que o questionário, também criticado por perguntar a cor das pessoas, serve para “identificação do perfil socioeconômico dos beneficiados pelo programa”.
Em setembro, Átila Nunes deu entrada em duas ações populares no Ministério Público Estadual. A primeira pede o imediato afastamento da diretora da GM, Tatiana Mendes, por proselitismo religioso: “O que a direção da Guarda Municipal fez foi uma tentativa de, mediante evidente pressão, converter pessoas à religião evangélica em ambiente de trabalho”, diz. A segunda ação pede a suspensão de perguntas sobre religião em questionários formulados pela prefeitura. As ações prosseguem na Justiça.
Crivella afirmou que, em ambos os casos, não tinha conhecimento prévio sobre a realização dos questionários religiosos, já que tanto a Secretaria quanto a Guarda Municipal são autarquias e têm autonomia em suas decisões internas. Em nota distribuída à imprensa, o prefeito disse que “não existe qualquer cunho religioso na atual gestão da Prefeitura do Rio”.
Carnaval e Parada LGBTI
O divórcio da prefeitura com o carnaval já pode ser considerado uma marca da gestão de Crivella. O prefeito, que não concorda com a entrega simbólica das chaves da cidade ao Rei Momo e não comparecerá ao Sambódromo pelo segundo ano consecutivo, promoveu um corte de 50% na verba que as escolas de samba do grupo principal receberão da Riotur (para o desfile de 2018, cada escola receberá R$ 1 milhão). Crivella sugeriu à Liga das Escolas de Samba (Liesa) que o evento passe a buscar prioritariamente recursos privados, “assim como faz, por exemplo, o Rock in Rio”.
Em nota, a prefeitura afirma que “está em estudo o desenvolvimento de mecanismos para captação de investimentos da iniciativa privada para a realização do desfile das escolas de samba”. Segundo Crivella, esse critério será respeitado já para os desfiles de 2019. “Teremos um carnaval espetacular no próximo ano, já com mais verbas privadas do que verbas públicas”, disse o prefeito.
Neste início de ano, em entrevista ao site de uma revista, Crivella usou de forma irônica o nome de seu antecessor para se defender das acusações de que estaria “desprestigiando” o carnaval. “Não sou como o Eduardo Paes (PMDB), que era um carnavalesco. Sou evangélico, nunca fui de carnaval, não tem a ver com o meu meio. Não obrigo ninguém a ser como eu, assim como não quero que me obriguem a ser como não sou.”
Outro evento com grande apelo popular, ícone da luta contra a homofobia e pela liberdade de opção sexual, a Parada do Orgulho LGBTI do Rio também sofreu com a falta de apoio da prefeitura no primeiro ano de mandato de Crivella. Realizada tradicionalmente em Copacabana e com sua 22ª edição marcada inicialmente para outubro, a manifestação teve de ser adiada e só aconteceu no final de novembro, após seus organizadores captarem recursos de emergência junto a empresas privadas e sites de financiamento coletivo. “A prefeitura cortou completamente o apoio financeiro que dava à Parada LGBTI. E fez isso sem negociar nenhuma redução proporcional, como aconteceu com outros eventos”, diz Júlio Moreira, diretor do Grupo Arco-Íris, responsável pela organização do ato.
O divórcio da prefeitura com o carnaval já pode ser considerado uma marca da gestão de Crivella. O prefeito, que não concorda com a entrega simbólica das chaves da cidade ao Rei Momo e não comparecerá ao Sambódromo pelo segundo ano consecutivo, promoveu um corte de 50% na verba que as escolas de samba do grupo principal receberão da Riotur (para o desfile de 2018, cada escola receberá R$ 1 milhão). Crivella sugeriu à Liga das Escolas de Samba (Liesa) que o evento passe a buscar prioritariamente recursos privados, “assim como faz, por exemplo, o Rock in Rio”.
Em nota, a prefeitura afirma que “está em estudo o desenvolvimento de mecanismos para captação de investimentos da iniciativa privada para a realização do desfile das escolas de samba”. Segundo Crivella, esse critério será respeitado já para os desfiles de 2019. “Teremos um carnaval espetacular no próximo ano, já com mais verbas privadas do que verbas públicas”, disse o prefeito.
Neste início de ano, em entrevista ao site de uma revista, Crivella usou de forma irônica o nome de seu antecessor para se defender das acusações de que estaria “desprestigiando” o carnaval. “Não sou como o Eduardo Paes (PMDB), que era um carnavalesco. Sou evangélico, nunca fui de carnaval, não tem a ver com o meu meio. Não obrigo ninguém a ser como eu, assim como não quero que me obriguem a ser como não sou.”
Outro evento com grande apelo popular, ícone da luta contra a homofobia e pela liberdade de opção sexual, a Parada do Orgulho LGBTI do Rio também sofreu com a falta de apoio da prefeitura no primeiro ano de mandato de Crivella. Realizada tradicionalmente em Copacabana e com sua 22ª edição marcada inicialmente para outubro, a manifestação teve de ser adiada e só aconteceu no final de novembro, após seus organizadores captarem recursos de emergência junto a empresas privadas e sites de financiamento coletivo. “A prefeitura cortou completamente o apoio financeiro que dava à Parada LGBTI. E fez isso sem negociar nenhuma redução proporcional, como aconteceu com outros eventos”, diz Júlio Moreira, diretor do Grupo Arco-Íris, responsável pela organização do ato.
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