quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Lava-Jato e a violência institucionalizada

Por Jessé Souza, na revista CartaCapital:

George Orwell se torna cada vez mais atual na guerra ideológica movida e financiada pelo capitalismo financeiro internacional. A “novilíngua” a qual estamos submetidos hoje em dia existe para criar palavras que possibilitem amesquinhar a reflexão e impedir o pensamento.

Assim, o termo “austeridade” serve para redefinir e conferir grandeza moral ao assalto do orçamento para o pagamento dos juros de dívidas públicas, ao menos em grande medida, tudo indica, fraudulentas.

De resto, um sem número de palavras passam a ganhar espaço midiático, posto que permitam a colonização e a manipulação da dimensão moral a serviço da rapina da população.

Dentre estes conceitos produzidos para impedir a reflexão desponta a noção, amplamente utilizada entre nós, da “teoria da conspiração”. Tudo tem que levar o cidadão incauto a crer que as coisas acontecem no mundo por coincidência e por mero acaso e que não existem interesses organizados.

Tudo deve funcionar como se o capital financeiro, para destravar a acumulação de capital dos limites da política e da moralidade e solidariedade social, não tivesse construído nos últimos 30 anos um exército e um aparato simbólico e material para tornar possível seus fins.

A Operação Lava Jato é um perfeito exemplo de como essa conspiração articulada e macabra funciona e opera. Braço do capital financeiro internacional com sede nos EUA, a Lava Jato, depois de destruir a economia nacional e suas empresas com competitividade internacional, como a Petrobras e a Odebrecht, procura, em desespero pela perda crescente de legitimidade, inocular o medo e o pânico na sociedade como um todo.

O Brasil se prestou, como nenhuma outra sociedade, a este ataque porque a elite local havia conseguido manipular a população por meio da “corrupção dos tolos”, ou seja, aquela existente apenas na politica e no Estado.

A estigmatização da política serve há 100 anos, entre nós, para tornar invisível o roubo real da população por meio de mecanismos de mercado: juros extorsivos embutidos em todos os preços, dívida pública fraudulenta e nunca auditada para propiciar a captura do orçamento público, sonegação de impostos em escala trilionária e isenções fiscais imorais e ilegais para os donos do mercado.

De início, a Lava Jato nadou de braçada na mentira da “higiene moral” da nação. A “esquerda”, vitima das mesmas ideias inclusive, reagiu com impotência ao ataque judicial/midiático. Hoje em dia, só os mais tolos entre os “manifestoches” acreditam na operação sem reservas e seu numero diminui a cada dia. Daí a dificuldade de se achar um candidato viável do pacto golpista.

Essa dificuldade põe tanto a Lava Jato quanto a parte mais troglodita da conspiração golpista em uma trajetória camicase marcada pelo desespero e pela violência crescente. Daí a intervenção fadada ao fracasso no Rio de Janeiro.

Daí também que a universidade pública seja atacada em sua autonomia e função social de lugar de reflexão e pensamento e cientistas de renome sejam estigmatizados e perseguidos como aconteceu com o renomado psicofarmacologista Elisaldo Carlini.

O pensamento livre deve ser criminalizado, o que atinge a capacidade de reflexão e de aprendizado de toda a sociedade. Não existe ataque mais virulento do que este para uma sociedade.

O ataque, agora, passa a atingir também o próprio exercício da advocacia, como comprova a invasão da casa e do escritório do jovem e talentoso professor da PUC de São Paulo e advogado Rafael Valim pelo simples fato de ser advogado do presidente da Federação do Comércio do Rio Janeiro, alvo da Lava Jato.

Existem dezenas de outros advogados da mesma instituição, mas só Valim sofreu a violência de uma invasão de privacidade às seis horas da manhã em sua casa.

Na verdade, Valim, figura meiga e querida por todos que o conhecem, tem como crime real o fato de militar pela preservação dos direitos fundamentais no País, como advogado, e de defender a discussão livre de ideias, como intelectual e editor. Este é o objeto real da fúria da operação.

Como não existe sociedade livre sem debate de ideias e sem garantia de direitos fundamentais, o que está em jogo não se limita a opções partidárias. Representa, antes, a preservação daquilo que separa a civilização da barbárie.

O uso covarde da violência policial para perseguir indivíduos pelas suas ideias precisa de um basta, independentemente da coloração partidária de cada um. A história está repleta desses episódios nos quais as violências dirigidas primeiro a indivíduos são generalizadas depois para a sociedade.

É necessário não só que as instituições atingidas por este ataque insidioso, mas a sociedade como um todo, se protejam ao defender ideais e valores universais.

A conspiração urdida contra o livre pensamento implica regressão e prejuízo a todos e é mero subproduto da conspiração internacional urdida contra o desenvolvimento econômico autônomo do Brasil.

A cruzada da “corrupção dos tolos”, mera gorjeta que os donos do mercado dão a seus lacaios da politica, produziu miséria e pobreza em todo o País e caos estrutural no estado do Rio de Janeiro, o mais dependente da Petrobras.

Seu único resultado explícito foram números ridículos de recursos recuperados pelo Estado, muitas vezes menor, inclusive, que o total repassado aos norte-americanos. Maior prova de a quem essa conspiração antinacional realmente obedece é impossível.

O resultado palpável é a subordinação internacional e a miséria interna sem qualquer contrapartida visível. Esse é o problema real da Lava Jato - e da parte mais troglodita do pacto golpista - e a causa de sua atual sanha.

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