Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
É tudo dentro da lei, argumentam os comentaristas deste blog quando se critica os privilégios da faustosa Corte do corporativismo e do patrimonialismo que manda neste país desde os tempos do Império.
Em outras palavras, quem pode, pode; quem não pode cresça e apareça.
Sempre foi assim em qualquer época e regime no Brasil: quem faz as leis e quem é responsável pelo seu cumprimento cuida em primeiro lugar dos seus próprios interesses e da sua classe.
Tem as leis e os regulamentos deles, os maganos do andar de cima, e as leis para o resto, o povo do andar de baixo, como diria Elio Gaspari.
Sempre foi assim, por que haveria de mudar agora?
A única diferença é que agora é tudo mais escrachado, à luz do dia, pouco importa o aspecto ético e moral destes privilégios que se acumularam ao longo do tempo.
Com a chegada do PT ao Planalto, um partido criado de baixo para cima, imaginava-se que este ciclo pudesse ser rompido, mas durou pouco, e logo os novos donos do poder se aliaram aos antigos e se lambuzaram, como constatou outro dia Jaques Wagner, ex-ministro de Lula e Dilma e ex-governador da Bahia.
Os antigos apearam os novos forasteiros e tudo voltou ao normal.
Quem vai julgar os penduricalhos do Judiciário? O próprio Judiciário, ora pois, que não tem pressa nenhuma em cuidar do assunto.
Quem vai julgar o foro privilegiado dos governantes e parlamentares? O Congresso Nacional, quem mais poderia ser, ou vocês acham que isso é coisa para gente de fora do poder?
Vai você ao banco para financiar um carro usado, pode ser uma lata velha, e verá quanto te cobram de juros.
Juros de 3% ao ano - ao ano! - para comprar jatinho é só para quem pode, como já disse certa vez o senador Tasso Jereissati, o tucano cearense que queria refundar o PSDB, e depois sumiu.
Aprovada no ano passado no Senado, a proposta de emenda constitucional que restringe o foro privilegiado para o andar de cima está paralisada na Câmara dos Deputados, nem se fala mais nisso.
O que aconteceu? Muito simples: os partidos simplesmente não indicaram seus representantes .
A comissão especial que cuida do assunto deve ter 35 titulares, mas só 13 foram indicados até agora, e por isso ainda não está sequer instalada.
Para aprovar a reforma da Previdência deles, o governo agora quer a ajuda dos empresários para pressionar os deputados que precisam de recursos em ano eleitoral.
Sabem quem foi indicado para cuidar disso: Paulo Skaf, o presidente da Fiesp, grande aliado de Temer na campanha do impeachment, aquele que criou os patos amarelos. Quem são os patos?
Se a nova Previdência fosse boa para todo mundo, e não só para o mercado, a guilda do funcionalismo e dos militares, por que não convocam os dirigentes das centrais sindicais para fazer esse serviço?
A explicação para a escolha do patronato de Skaf é fácil de explicar: simplesmente, porque o projeto da reforma previdenciária atende aos interesses da CNI, a Confederação Nacional da Indústria, como já aconteceu com a reforma trabalhista, e não à CUT ou à Força Sindical.
E assim voltamos aos monárquicos tempos do Império até com a tentativa, por enquanto fracassada, de revogar a Lei Áurea. É só o que falta.
Parece que a República não deu muito certo entre nós.
Vida que segue.
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