Do blog Viomundo:
Pela primeira vez desde o início da Operação Lava Jato, um diretor da Polícia Federal “arquiva” um inquérito em declarações à mídia.
Fernando Segóvia, indicado por Michel Temer, anunciou pela imprensa o provável arquivamento do único inquérito contra Michel Temer que ainda tramita no STF: aquele em que o usurpador é acusado de assinar decreto em troca de benefícios da empresa Rodrimar.
[Temer sustenta que não é usurpador, mas informações encontradas em bloco de anotações do homem da mala, Rodrigo Rocha Loures, à época assessor dele no Palácio Jaburu, indicam que o vice-presidente pode ter tramado o impeachment de Dilma de maneira muito mais efetiva do que revelado até agora]
O porto de Santos é antigo conhecido de Temer, desde quando ele era deputado federal por São Paulo e indicava o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo.
Fernando Segóvia foi superintendente no Maranhão antes de assumir a direção da PF e teria sido indicado pelo ex-presidente José Sarney, que está no poder desde antes da ditadura militar.
“No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de realmente de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, declarou Segóvia à imprensa.
A declaração foi feita sem consulta aos delegados que cuidam do caso.
“Os integrantes do Grupo de Inquéritos da Lava Jato no STF informam que a manifestação do Diretor Geral da Polícia Federal que está sendo noticiada pela imprensa, dando conta de que o inquérito que tem como investigado o Presidente da República tende a ser arquivado, é uma manifestação pessoal e de responsabilidade dele. Ninguém da equipe de investigação foi consultado ou referenda essa manifestação, inclusive pelo fato de que em três de anos de Lava Jato no STF nunca houve uma antecipação ou presunção de resultado de Investigação pela imprensa”, escreveu alguém não identificado num grupo de whatsapp de policiais federais.
Segóvia, aparentemente, tenta “matar no peito” a investigação.
A frase ficou famosa porque o agora ministro do STF, Luiz Fux, teria prometido ao ex-ministro José Dirceu “matar no peito” o inquérito do mensalão. Fux ganhou a vaga e Dirceu foi preso.
Recentemente, segundo a revista CartaCapital, a Polícia Federal ressuscitou uma planilha mostrando que a Rodrimar pagou propina a Temer nos anos 90, em negócios do porto de Santos.
Ela consta de um relatório recente da Polícia Federal. Contou a reportagem da Carta:
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O documento, de 15 de dezembro, propõe quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Temer e foi usado por um delegado, Cleyber Malta Lopes, para pedir mais prazo para concluir investigações contra o presidente em um inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Assinada pelo agente Paulo Marciano Cardoso, a papelada defende ressuscitar um inquérito de 2011 que investigou trambiques no Porto de Santos nos quais haveria digitais de Temer, o manda chuva político no pedaço no governo da época, o do tucano Fernando Henrique Cardoso.
O relatório integra um inquérito, o 4621, que desde setembro apura possíveis falcatruas no setor portuário que teriam ocorrido não no passado, mas na própria gestão Temer. O qual teria deixado mais do que metafóricas digitais: a assinatura em um decreto.
Com base no relatório de dezembro, a PF pediu ao STF nesta terça-feira 30 acesso ao inquérito de 2011, o 3105, arquivado pela corte naquele mesmo ano. “Documentos e provas originais” geradas nesse inquérito, diz o relatório do agente Cardoso, “aparentemente são contundentes”.
Exemplo de contundência é uma planilha que registra o que parece ser suborno decorrente de contratos do Porto de Santos.
Ela é de 8 de agosto de 1998, ocasião em que o porto era comandado por um indicado de Temer, Marcelo Azeredo. Lista “parcerias realizadas” e, ao lado, três siglas acompanhadas de percentuais e de valores em reais.
Entre os parceiros, estão as empresas Rodrimar e Libra, donas de contratos de concessão em Santos e pertencentes a amigos de Temer – Antonio Celso Grecco (Rodrimar) e a família Torrealba (Libra).
Entre as siglas, estão MT, MA e L. Segundo o relatório policial de dezembro, MT seria Michel Temer, MA, Marcelo Azeredo e L, João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, outro amigo do presidente.
A citação da Rodrimar na planilha tem a cifra de 600 mil reais. Ao lado, aparecem a sigla “MT” e os números “300.000 (+ 200.000 p/campanha)”. “MA” e “L” surgem com 150 mil cada.
A Rodrimar é protagonista da investigação aberta em setembro pelo STF a colocar na berlinda um decreto baixado por Temer em maio de 2017 com bondades ao setor portuário. A investigação quer saber se o decreto foi assinado em troca de grana.
A suspeita nasceu de telefonemas do “homem da mala” e da confiança de Temer, Rodrigo Rocha Loures, às vésperas da edição do decreto. Em uma ligação, ele fala com Temer. Em seguida, com Ricardo Mesquita, diretor da Rodrimar, empresa com interesse particular no decreto, a fim de obter a renovação de um certo contrato.
As conversas foram gravadas durante a Operação Patmos, aquele surgida das delações de criminosos confessos da JBS/Friboi.
Outro motivo de desconfiança quanto à gênese do decreto presidencial: no dia em que pegou a mala com 500 mil reais em propina das mãos do então lobista da JBS/Friboi, Ricardo Saud, em abril de 2017, Loures foi ao local de carona com Mesquita. Depois foi resgatado pela mesma pessoa.
Mais um: nas negociações da propina com Saud em troca de facilidades dentro do governo, Loures citou “Celso” como alguém que poderia receptar dinheiro destinado a Temer. “Celso” é Antonio Celso Grecco, da Rodrimar.
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Erika, Temer, Azeredo e o coronel Lima: enrolados
A suspeita, frise-se, mera suspeita, é de que Segóvia pretende enterrar o inquérito antes que ele revele todas as maracutaias pretéritas de Temer no porto, que vem dos anos 90.
Em 27 de junho de 2017, o Viomundo narrou a espetacular história de um divórcio envolvendo um dirigente de Docas indicado por Temer. À época, perguntamos: Erika será intimada a contar tudo?
Foi Erika Santos quem, depois de romper com o namorado, Marcelo de Azeredo, recuperou no computador dele as planilhas que agora a PF ressuscitou.
Em 10 de junho de 2016 o Viomundo já havia descrito o andamento do tortuoso inquérito que nasceu do caso, devidamente arquivado.
O Viomundo obteve e publicou a petição inicial da ação movida por Erika (ver abaixo).
A psicóloga, aliás, nunca foi ouvida em nenhuma investigação, depois de desistir misteriosamente da separação litigiosa.
A pergunta é: Segovia conseguirá “matar no peito” a investigação?
Se sim, o senador Romero Jucá se tornará ainda mais profético:
Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.
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