sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Trump deve sua eleição às “fake news”

HILLARY CLINTON COM "BEBÊ ADOTIVO ALIENÍGENA"
NO TABLOIDE WEEKLY WORLD NEWS EM 1993
Do blog Socialista Morena:

Apenas três notícias falsas podem ter sido substancialmente responsáveis pela desistência de parte dos eleitores de Barack Obama em 2012 em votar em Hillary Clinton em 2016. Ou seja, embora Donald Trump viva criticando as chamadas fake news (lançou inclusive uma premiação com os meios de comunicação “campeões” em fake news), sua eleição à presidência dos EUA se deve a elas. É o que sugere uma pesquisa pós-eleitoral coordenada pela Ohio University e divulgada pelo site The Conversation, colocando em uma perspectiva assustadora o papel que as notícias falsas podem jogar numa eleição.

Os investigadores ouviram 1600 pessoas, com foco de análise no comportamento de 585 pesquisados que tinham votado em Obama em 2012. Eles queriam descobrir por que uma parte dos eleitores de Obama não votou em Hillary Clinton. Hillary teria sido eleita se tivesse recebido todos os votos dados a Obama, mas recebeu apenas 77%. A surpresa foi que 10% destes eleitores “liberais”, no sentido norte-americano do termo, preferiram Trump. Por quê? A pesquisa acha que foram induzidos por fake news. Mais exatamente por três delas.

A pesquisa incluiu, entre as 281 questões apresentadas aos entrevistados, três afirmações falsas largamente disseminadas durante a campanha, duas delas negativas sobre Hillary e uma positiva sobre Trump. A primeira era que Hillary Clinton estava seriamente doente, afetada pelo mal de Parkinson. 25% do total de pesquisados responderam que isto era “definitivamente verdadeiro” ou “provavelmente verdadeiro”, assim como 12% dos ex-apoiadores de Obama.

A segunda afirmação falsa dizia que, durante o período em que foi secretária de Estado, Hillary aprovou a venda de armas para jihadistas, incluindo o ISIS. Nada menos que 35% dos entrevistados disseram acreditar que ela vendeu armas para o ISIS, e 20% dos que acreditaram nisso eram eleitores de Obama. Por último, 10% de todos os entrevistados e 8% dos eleitores de Obama disseram ser verdadeira a notícia de que o papa Francisco tinha apoiado Donald Trump.

De acordo com os pesquisadores, a crença nestas histórias falsas estaria fortemente conectada com a desistência de votar em Hillary por parte dos eleitores de Obama em 2012. Entre os pesquisados que não acreditaram em nenhuma destas notícias, 89% votaram nela em 2016; 61% dos que acreditaram em pelo menos uma dessas histórias, idem. Mas somente 17% daqueles que acreditaram nestas três fake news votaram em Hillary.

Os autores do estudo também tentaram outras alternativas para explicar o “sumiço” dos votos em Obama. A questão de gênero, por exemplo: só que um percentual idêntico de homens e mulheres que tinham votado em Obama em 2012 não votaram em Hillary em 2016. A questão racial tampouco explicou: menos votantes afro-americanos deixaram de votar em Clinton (20%) do que os americanos brancos (23%). Outras variáveis, como a identificação ideológica ou questões econômicas tiveram mais impacto, assim como o grau de ligação com o partido democrata.

Mas os pesquisadores calculam que estas três fake news tiveram um impacto adicional de 14% na desistência dos eleitores de Obama em votar em Hillary, levando em conta todas as outras variáveis. Concluem os autores: “Clinton perdeu a presidência por cerca de 78 mil votos (0,6% do total) nos estados-chave da Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Apesar de as evidências não ‘provarem’ que a crença em fake news ‘causou’ a desistência destes eleitores de Obama em votar na candidata democrata em 2016, nosso estudo sugere que é altamente provável que a perniciosa poluição do discurso político pelas notícias falsas foi suficiente para influenciar o desfecho de uma eleição muito acirrada”.

* Leia mais no site The Conversation, em inglês.

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